SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estudante da faculdade de medicina do Centro Universitário São Camilo, Bruna Rodrigues, 20, afirma que foi alvo de cusparada de alunos da Unisa (Universidade Santo Amaro) durante o Calomed, jogos universitários que reuniram faculdades de medicina durante os dias 28 de abril e 1º de maio em São Carlos, no interior de São Paulo.
A agressão teria ocorrido enquanto seleção feminina de vôlei do Centro Universitário São Camilo jogava contra a da Unisa.
Imagens dos alunos da Unisa nus durante o jogo de vôlei foram divulgadas nas redes sociais no fim de semana. Após a repercussão do caso, ao menos sete alunos identificados nos vídeos foram expulsos da instituição.
A Unisa define a atitude do grupo de alunos como “ato execrável” e afirma que tomou conhecimento das “gravíssimas ocorrências” na manhã desta segunda (18). Procurada especificamente sobre o caso da cusparada, a universidade não respondeu até a publicação desta reportagem.
O clima de tensão nos jogos, segundo as alunas da São Camilo, tomou conta do jogo a ponto de as torcidas entrarem por portões diferentes e organizadores do evento providenciarem um cordão para evitar brigas entre as faculdades.
Durante a partida, Bruna estava na arquibancada e pediu comida por delivery. Quando ela foi em busca do entregador, não o encontrou. Assim, foi andando até a entrada onde alguns alunos da Unisa se reuniam.
Bruna diz que achou que o clima estava tranquilo, havia seguranças em volta e, por isso, nada aconteceria com ela. Até que dois alunos da Unisa se aproximaram e cuspiram uma mistura de tinta com cerveja.
Ela afirma que tentou afastar os estudantes, mas um terceiro chegou por baixo e tentou segurar sua coxa. Foi então que ela deu um tapa nele e saiu do local com a ajuda de um amigo. “Fiquei inteirinha verde”, diz.
A estudante e uma colega afirmam que alunos da Unisa têm o costume de misturar a tinta verde, cor da faculdade, e diluir com cerveja para deixar a mistura mais pastosa. Depois, colocam o líquido na boca e cospem em alunos de outras faculdades.
Bruna afirma que a experiência a assustou. “Quando a adrenalina baixou, me assustei, comecei a tremer, fiquei pensando que poderia ter apanhado.” A jovem ainda diz que o clima das torcidas se assemelhava a das organizadas de futebol. “Parecia que era Gaviões da Fiel contra a Mancha Verde.”
Na agenda dos jogos universitários de faculdades de medicina, há outro marcado para o fim do ano.
“Eu fiquei muito chateada. Tinha a expectativa de que seriam os melhores dias da minha vida, que eu ia curtir muito os jogos”, lamenta. “Era para ter ser uma competitividade saudável e os alunos estavam ali para curtir, mas foi um horror.”
Bruna conversou com a reportagem na tarde desta terça-feira (19) e estava junto com a também estudante de medicina Laura Felix, que confirmou o ocorrido.
As alunas ainda afirmam que foram alvo de uma mistura de fezes com urina que era jogada por alunos da Unisa durante os jogos.
Bruna e Laura afirmam que o clima de tensão não costuma se repetir com outras universidades.
Elas também afirmam que o trote da faculdade delas não segue os históricos de agressividade que costumam ser relatados por alunos. “Quando chegamos na faculdade, o trote foi tranquilo, jogaram farinha, cerveja, aquelas coisas, mas só participava quem queria”, relembra Felix.
Polícia investiga caso em São Carlos
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirma que, assim que soube do caso dos alunos que ficaram nus durante os jogos universitários, iniciou uma apuração do caso.
O órgão disse que a Polícia Civil enviará requisições às universidades envolvidas e à Secretaria de Esportes de São Carlos.
O MEC (Ministério da Educação) notificou a faculdade à prestar esclarecimentos diante o ocorrido.
Em post divulgados nas redes sociais, a atlética da faculdade de medicina da Unisa afirmou que as imagens não são contemporâneas e que não representam “princípios e valores da atlética”.
A presidente da atlética, Vittoria Carmona, disse à reportagem que após o episódio foi realizada uma assembleia antes de outra competição universitária, o Intermed, e foi avisado que, caso algum aluno “viesse a ter uma postura deste cunho, seria expulso da competição”.
ISABELLA MENON / Folhapress