SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma atividade online aplicada na disciplina de Teoria Geral do Direito Penal indignou alunos da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) nesta quinta-feira (5). A segunda questão, formulada pela professora e ex-deputada estadual Janaina Paschoal, simulava o caso de um professor que, cercado e ameaçado, atira contra estudantes em meio a uma greve.
Depois, é solicitada análise da conduta do homem com base no Código Penal.
Estudantes da USP estão em greve desde o dia 18 de setembro pela contratação de mais professores.
Na unidade responsável pela formação jurídica, a São Francisco, o movimento foi abraçado uma semana mais tarde. Alunos ocupam o prédio e bloqueiam acesso a salas. Educadores contrários à paralisação tentam prosseguir com aulas online e relatam intimidação. A direção emitiu comunicado criticando o movimento estudantil.
A reportagem ouviu alunos que disseram que a atividade foi “provocativa” e “irresponsável”.
À reportagem Janaina Paschoal diz ter construído exercício coerente com a disciplina ministrada. “Eu dei uma questão prática de um conflito. Em muitas provas, eu dei exemplos práticos de crimes outros. Esses casinhos concretos são inerentes às atividades, às aulas, às provas”, declara. “Não entendo o interesse nisso”, continua.
Desde o início do boicote a aulas, a docente tem publicado manifestações em repúdio à situação e aos procedimentos dos grevistas.
Nesta sexta (6), alunos da Escola Politécnica da universidade, a Poli, aprovaram o fim da greve na unidade por meio de plebiscito. Metade dos quase 5.000 matriculados votou. Foram 1.214 contrários à continuidade da paralisação, 1.129 favoráveis e 71 abstenções.
Com isso, a repartição responsável pela formação de engenheiros se torna a primeira a furar o boicote a aulas na Cidade Universitária. As demais realizam assembleia conjunta na segunda-feira (9) para definir o futuro do movimento.
Membros da Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo), porém, já decidiram seguir paralisados até a próxima terça-feira (10). Eles pretendem seguir a diretriz dos estudantes participantes da reunião de segunda.
LEIA A ÍNTEGRA DA ATIVIDADE APLICADA
“Em meio a uma paralisação estudantil, um professor insiste em ministrar suas aulas. Os organizadores do movimento, indignados, em um grupo de WhatsApp, combinam cercar o professor em seu veículo, quando de sua chegada à instituição de ensino.
Um aluno contrário à greve envia o print das mensagens ao professor que, assustado, leva consigo um revólver. No caso, o professor tem o porte da arma, em razão de outra atividade profissional que exerce paralelamente e de forma absolutamente regular.
Pois bem, no dia da aula, o professor segue normalmente para suas atividades acadêmicas e, realmente, na entrada do estacionamento, é cercado por pessoas com os rostos cobertos, que começam a depredar o seu carro, exigindo que desça. Com medo, o professor acelera o veículo e um dos agressores consegue abrir a porta do carro, puxando-o para fora. Neste momento, certo de que seria espancado, o professor dispara o revólver ferindo uma estudante que estava passando e não tinha relação com a situação.
Com fulcro no Código Penal, analise a conduta do professor e, sabendo que o aluno que deu a ideia não participou do cerco, analise também a conduta do referido aluno.”
BRUNO LUCCA / Folhapress