Cantor baiano vira todas as cadeiras no The Voice da Romênia: ‘As coisas estão convergindo’

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Tem mais brasileiro se destacando em reality musical no exterior: o baiano Sandro Machado, 36. Acostumado com seleções para óperas, ele foi aprovado recentemente na audição do programa Vocea României -o The Voice da Romênia-, conseguindo que todos os jurados virassem as cadeiras para ele.

Nascido em Camaçari, município na Região Metropolitana de Salvador, Sandro começou a cantar na igreja adventista aos 4 anos, intensificando a prática na adolescência. No começo da vida adulta, teve as primeiras aulas de canto lírico.

Começou a cursar administração, mas se formou mesmo em canto pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 2011. Quatro anos depois, foi um dos cinco aprovados em uma seleção com 120 cantores para mestrado na Alemanha. Após concluir o curso, mudou-se em 2018 para a Romênia, onde passou a conciliar o trabalho em um escritório de contabilidade com apresentações musicais.

Nesta entrevista ao F5, Sandro fala sobre a sua formação musical, a experiência com o canto lírico e a participação em reality shows musicais. O Vocea României (disponível no YouTube e no site protv.ro) é a terceira experiência dele em um programa do gênero.

Em 2012, ainda no Brasil, ele participou do programa Estilos, uma disputa entre tenores cantando músicas do repertório lírico pop, na Record. Em 2021, também apareceu no Romania’s Got Talent, versão romena da competição entre talentos de diversas áreas.

Pergunta -Como se deu a sua formação musical?

Resposta – Eu cresci no gospel, o que me aproximou do canto negro norte-americano. Mas, por eu ser limitado pela igreja, não conhecia nada de MPB ou pop. Até os 18 anos, eu não sabia quem era Madonna, por exemplo. Meu pai tocava no Carnaval, só que depois de virar adventista, parou. Enquanto ele estava vivo infelizmente eu não absorvi esse lado popular dele. O que ele queria mesmo era que eu terminasse o curso de administração. “Faça algo seguro, depois música”, dizia. Mas eu mudei de curso e fui estudar canto lírico. No início, eu me dividi entre os shows com banda e as óperas. Já no mestrado foi onde aprendi a deixar a voz pronta para cantar o dia inteiro. Quando você faz uma malhação vocal diária, com o descanso correto, o corpo fica preparado.

Pergunta – Você vê semelhanças entre as seleções para óperas e os reality shows musicais?

Resposta – Além da capacidade técnica, a aparência também conta bastante, para o bem e para o mal. Nas seleções para óperas, apesar de me destacar pela voz e por ser mais alto do que os concorrentes (ele tem 1,86 m de altura), havia a questão da gordofobia e do racismo, que vivenciei algumas vezes, inclusive no Brasil. Nos realities, tem a questão do show business. A experiência no programa Estilos foi boa para eu entender como funciona a dinâmica da TV. Já no Romania’s Got Talent, apesar de eu não ter sido selecionado, valeu para saber como montar a apresentação, algo que eu estou colocando em prática no The Voice.

Pergunta – Você deixou de atuar com canto lírico?

Resposta – Sim, por alguns motivos. Apesar do saldo positivo, o mestrado foi marcado por uma pressão terrível. Eu e vários amigos tivemos ataques de pânico e sofremos abusos emocionais. Quando terminei o curso, rolou uma crise de identidade também. Como homem negro, eu sentia falta de trabalhar com algo que se ligasse à minha história. Eu queria dançar, compor minhas músicas, falar dos meus sentimentos. Depois de terminar o mestrado, eu me mudei para a Romênia e parei de fazer música por um ano. Quando voltei a cantar, segui um caminho mais R&B e pop em eventos com a minha banda, a Funk 28, além de começar a compor.

Pergunta – Quais são os seus planos para a carreira musical?

Resposta – No momento, ainda estou conciliando a minha participação no The Voice com o trabalho em um escritório de contabilidade. Curiosamente, os conhecimentos básicos em administração estão servindo… Estou tendo muita sorte, porque minhas chefes estão entendendo e apoiando esse meu momento. Eu venho praticando o idioma local e investindo na minha carreira na Romênia. Ver que todos os jurados viraram as cadeiras e elogiaram a minha apresentação (“surpresas como você fazem nosso show continuar”, disse o jurado Tudor Chirila), além de todos os comentários que li depois, me faz crer que as coisas estão convergindo positivamente por aqui. Só tenho a agradecer.

PEDRO NASCIMENTO / Folhapress

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