Energia limpa na China deve fazer país diminuir emissões de CO2 a partir do ano que vem

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As emissões de dióxido de carbono (CO2) da China, campeã nesse tipo de poluição, podem começar a cair consistentemente pela primeira vez a partir do ano que vem em meio a investimentos em energia sustentável, aponta estudo da organização europeia Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (Crea), que monitora o setor.

No terceiro trimestre deste ano, porém, as emissões subiram 4,7% e bateram recorde em relação ao mesmo período de anos anteriores, segundo dados divulgados agora, em meio à recuperação econômica do país neste ano após o fim das limitações da política de Covid zero, encerrada no fim do ano passado, que fechava regiões inteiras ao menor sinal de disseminação do vírus.

A partir de 2024, no entanto, a queda nas emissões deve ser puxada sobretudo pelo aumento recorde neste ano de novas usinas de energia de baixo carbono, em especial eólicas e solares, segundo a pesquisa.

Somente as usinas de energia solar instaladas na China em 2023 devem gerar 210 gigawatts de potência no país no ano que vem, duas vezes a capacidade dos Estados Unidos e quatro vezes o que os próprios chineses conseguiam fazer em 2020. Além disso, em meio à seca recorde no país em 2022 e 2023, a geração de energia hidráulica deve voltar a aumentar no ano que vem.

Somadas, o estudo prevê que apenas as novas plantas de energia limpa instaladas neste ano atenderão a um consumo de 423 terawatts-hora (TWh) por ano, o que equivale ao consumo total da França. No Brasil, o consumo de energia por ano em 2022 foi de 680 TWh, segundo o Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford. Na China, com 1,4 bilhão de pessoas, 8.839 TWh.

O ritmo da expansão de energia limpa já é maior do que a demanda, o que deve sustentar a queda de emissões de carbono, já que a geração de energia é a segunda maior fonte de poluentes do país, atrás apenas da atividade industrial, segundo a pesquisa.

“Se esse ritmo for mantido, ou acelerado, significaria que a geração de eletricidade da China a partir de combustíveis fósseis entraria em um período de declínio estrutural”, diz Lauri Myllyvirta, autor do estudo.

O estudo destaca ainda o aumento de investimento em indústrias com tecnologia de baixo carbono, bem como em veículos elétricos e baterias solares.

“O anúncio da meta de neutralidade de carbono para 2060 deu um sinal político, mas as condições macroeconômicas mais amplas proporcionaram um crescimento da capacidade de baixo carbono muito além das metas e expectativas dos formuladores de políticas”, diz o pesquisador.

Ele afirma que a restrição ao setor imobiliário que o país começou a promover a partir de 2020 provocou um rombo nas finanças de governos locais, que buscaram novas oportunidades em outras áreas. Ao mesmo tempo, o regime facilitou que empresas privadas levantassem dinheiro no mercado financeiro e em bancos, para estimular a economia durante a pandemia.

“O setor de energia de baixo carbono, em contraste com os combustíveis fósseis e as indústrias pesadas tradicionais, é em grande parte composto por empresas privadas. O acesso ao crédito havia sido anteriormente um grande obstáculo para elas em um sistema financeiro que favorecia fortemente as empresas estatais”, afirma Myllyvirta.

“Como resultado, grande parte dos empréstimos bancários e investimentos que anteriormente eram direcionados para o setor imobiliário agora está sendo direcionada para a indústria manufatureira, principalmente a manufatura de tecnologias limpas e a implementação de tecnologias limpas”, diz ele. Tudo isso enquanto os custos diminuíam, em meio ao desenvolvimento tecnológico, e os subsídios para energia limpa aumentavam.

Não será a primeira queda nas emissões do país, que registrou antes diminuições pontuais de poluentes. Neste século, houve redução em três anos: em 2015 e 2016, em meio à desaceleração econômica do país; e em 2022, durante a política de tolerância zero para a Covid, que afetou afetou regiões importantes como Shenzhen.

Antes que a redução de poluentes comece, no entanto, o movimento por enquanto é o oposto. O ano de 2023 tem registrado aumento de emissões, e o terceiro trimestre foi de recorde, com 3,2 bilhões de toneladas de CO2 e alta de 4,7% no acumulado do ano na comparação com o mesmo período em 2022.

Segundo Myllyvirta, o aumento era “previsível”, com demanda maior por petróleo, que já está em níveis pré-Covid. Além disso, o governo continuou a permitir a exploração de novas minas de carvão que produzirão pelo menos mais 25 gigawatts de potência no terceiro trimestre, segundo o estudo.

De acordo com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do regime, a capacidade de produção energética a partir de fontes de carvão, hoje em 1.141 gigawatts, deve crescer até atingir 1.370 gigawatts em 2030.

THIAGO AMÂNCIO / Folhapress

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