O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone com Úrsula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, nesta segunda-feira (20), para certar a conclusão do acordo político-comercial entre Mercosul e União Europeia. O telefonema acontece um dia após a eleição do candidato de extrema-direita Javier Milei na Argentina, que durante a campanha atacou o presidente brasileiro e sinalizou a retirada do país do bloco sul-americano.
De acordo com o jornalista Jamil Chade, a União Europeia afirmou que continua trabalhando para concluir o acordo até o dia 7 de dezembro, prazo estabelecido pelos dois blocos. Para a Comissão Europeia, as negociações têm sido “extremamente construtivas” e o prazo de encerramento das negociações segue inalterado.
O governo brasileiro afirmou que o telefonema não tem nenhuma relação com as eleições na Argentina. Em entrevista ao Jornal Novabrasil na manhã desta terça-feira (21), a professora Natalia Fingermann, do departamento de Relações Internacionais do Ibmec São Paulo, pontuou uma mudança no tom do discurso de Milei.
“Embora haja divergências no campo ideológico entre o presidente Lula e Milei, percebemos que os interesses econômicos superam qualquer divergência no campo ideológico. Não entendo que vá ter um rompimento nas relações entre Brasil e Argentina. E ontem mesmo o Milei deu uma declaração suavizando a questão de acabar com o Mercosul. Mas uma entrevista colocando que o bloco tem 30 anos, portanto, muito importante, mas que talvez precise de revisão”.
O anúncio da conclusão das negociações está previsto para o dia sete de dezembro, durante a cúpula do Mercosul, que acontecerá no Rio de Janeiro, três dias antes da posse do novo presidente argentino. Será o maior acordo de livre comércio do planeta, que prevê abertura, transparência e investimentos entre os dois blocos e a eliminação de até 90% do imposto de importação de bens comercializados.
A negociação foi encerrada em 2019 ainda durante o governo Bolsonaro, mas os europeus não retificaram o acordo devido aos retrocessos na política ambiental adotados pelo último governo.
Sobre a concretização das promessas de campanha do argentino, a professora pontuou que dependerá do poder de articulação com o congresso.
“Quando um político como o Milei vai governar, precisa de alianças. E algumas alianças você precisa negociar alguns pontos de sua agenda e nem tudo que ele pretende fazer pode vir a acontecer”
No campo econômico, Natalia vê que a ideologia poderá afetar as relações comerciais com os parceiros econômicos.
“O Milei entra na plataforma de alguns políticos que têm adotado muito mais fortemente a narrativa ideológica e embasado nela para construir suas alianças econômicas. Ele se afasta um pouco de uma visão mais pragmática em que se favorece parceiros que têm mais afinidade e interesses econômicos”, afirmou.
A professora deu como exemplo a primeira viagem prevista de Milei, antes mesmo da posse, aos Estados Unidos e Israel, e as críticas à China, o país que mais injeta recursos na Argentina.
Segundo a professora, há uma previsão de que o país passe por uma recessão no ano que vem e a continuidade do processo inflacionário. “O Milei assume o governo em uma situação muito complicada, difícil e sem nenhuma proposta de mudança que gere capital suficiente para acabar com essa dívida. Nem através das privatizações já anunciadas.