Na COP28, Brasil e mais 115 países preveem triplicar energias renováveis até 2030

DUBAI, EMIRADOS ÁRABES (FOLHAPRESS) – O presidente da COP28, conferência do clima da ONU, Sultan al-Jaber, anunciou neste sábado (2) um conjunto de promessas para investimentos em energia renovável. O principal compromisso, apoiado por 116 países, é a previsão de triplicar a capacidade instalada de energias renováveis no mundo até 2030, alcançando cerca de 11 mil gigawatts.

A articulação foi costurada pelos Emirados Árabes junto à União Europeia e os Estados Unidos. Brasil, China, Índia, Canadá, Japão e Chile estão entre os signatários. A participação brasileira na proposta já havia sido anunciada pelo governo antes da cúpula.

As duas metas correspondem às recomendações da AIE (Agência Internacional de Energia) para que o mundo mantenha o aquecimento global médio próximo de 1,5°C. No entanto, um pilar fundamental da recomendação da agência ficou de fora dos compromissos: a eliminação de novos investimentos em combustíveis fósseis.

Sem assumir um compromisso, a carta diz reconhecer a necessidade de zerar combustíveis fósseis não compensados até 2050.

Para a diretora de políticas públicas do Conselho Global de Energia Eólica, Joyce Lee, a iniciativa tem um consenso histórico, que ela espera ver crescer na próxima semana para, possivelmente, entrar na decisão final da COP28.

“Com um objetivo quantificável de 11 mil GW até 2030, temos um avanço em relação aos vagos compromissos de carbono zero no futuro”, afirmou.

O documento também reconhece um lugar para a energia nuclear, citada junto às renováveis como uma tecnologia pronta no mercado e disponível para a descarbonização do setor energético.

Em entrevista coletiva, o presidente francês Emmanuel Macron reforçou a defesa da energia nuclear, que baseia cerca de 70% da matriz elétrica francesa. Macron argumentou que a estabilidade da oferta da nuclear complementa as renováveis.

Já um grupo de 50 petroleiras, incluindo a Petrobras e outras 27 estatais, assinaram a Carta de Descarbonização do Petróleo e Gás. A intenção é aumentar o investimento em energias renováveis, mas a declaração é vaga e não cita objetivos quantificáveis.

Segundo a AIE, as empresas do setor mantêm apenas 2,5% dos seus investimentos em renováveis. O número deveria subir para 50% até 2030 para se alinhar aos objetivos do Acordo de Paris.

O compromisso das petroleiras também prevê diminuir a pegada de carbono dos processos de extração e produção de combustíveis fósseis –as emissões do setor, no entanto, estão concentradas no consumo, durante a queima do combustível.

A carta afirma que as empresas signatárias se tornarão carbono zero por volta de 2050, o que seria possível através da compensação das emissões. Elas também preveem zerar as emissões de metano até 2030.

Entretanto, uma análise produzida pelo grupo Zero Carbon Analytics concluiu que parte das promessas contidas no anúncio já foram feitas em anos anteriores ou, em outros casos, não refletem avanço em relação às políticas atuais das empresas.

Doze das 50 petroleiras já faziam parte de uma iniciativa similar, existente há dez anos,

a Oil and Gas Climate Initiative (OGCI), que previa zerar emissões de metano do setor até 2025, cinco anos antes da iniciativa atual. O prazo de 2025 também é previsto nas políticas de parte das empresas signatárias.

“As empresas não se comprometem a reduzir as atividades de petróleo e gás no âmbito do

Acordo de Paris”, concluiu a análise.

O pacote de promessas também conta com 27 países na Declaração de Intenção do Hidrogênio, que defende um padrão de certificação global para o hidrogênio de baixo carbono –aqui, o termo “baixo carbono” em vez de “verde” abre espaço para o uso de combustíveis fósseis como o gás na produção de hidrogênio, mas a organização da COP28 não divulgou detalhes do que foi acordado pelos signatários.

Outra carta, reunindo 52 países, prevê reduzir, até 2050, 68% das emissões de sistemas de refrigeração, principalmente ligadas ao uso de ar-condicionado.

A repórter Ana Carolina Amaral viajou a convite de Avaaz, Instituto Arapyaú e Internews.

ANA CAROLINA AMARAL / Folhapress

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