SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, e a Receita Federal realizaram uma operação nesta terça-feira (12) contra um grupo suspeito de desviar 12 toneladas de produtos químicos para produção de 19 toneladas de cocaína e crack.
Mais de 70 policiais cumpriram 18 mandados de busca e apreensão em endereços em São Paulo, no Paraná e em Minas Gerais.
Um dos alvos foi a empresa Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda., em Diadema, na região metropolitana de São Paulo. Ela tem como um dos sócios o influenciador Renato CarianI, 47.
Segundo a PF, empresas licenciadas para vender produtos químicos em São Paulo emitiam notas fiscais falsas. Laranjas eram usados para fazer depósitos em espécie, como se fossem funcionários de grandes multinacionais -as firmas eram vítimas que figuraram como compradoras.
Em uma rede social, Cariani publicou vídeos dizendo que foi pego de surpresa pela operação e que não teve acesso à investigação, mas que estava tranquilo.
Ao todo, disse a Polícia Federal, foram identificadas 60 transações dissimuladas vinculadas à atuação da suposta organização criminosa, totalizando, aproximadamente, 12 toneladas de produtos químicos (fenacetina, acetona, éter etílico, ácido clorídrico, manitol e acetato de etila), o que corresponde a mais de 19 toneladas de cocaína e crack prontas para consumo.
De acordo com a corporação, parte dos produtos químicos era usada para a produção das drogas e outra empregada para refino e aumento do volume dos entorpecentes.
A Anidrol, explicou a polícia, teria emitido as 60 notas frias durante seis anos, de 2014 a 2020, em valores que somam R$ 6 milhões.
Na entrevista desta terça, o delegado Vitor Beppu Vivaldi, da Polícia Federal, afirmou que essa movimentação motivou pedidos de prisão de Cariani e de mais três pessoas, que não tiveram nomes revelados, mas que não foram aceitas pela Justiça.
As investigações revelaram, ainda, disse a PF, que os envolvidos usavam terceiros e também abriam empresas fictícias para esconder a procedência ilícita do dinheiro.
Na entrevista coletiva desta terça, a PF afirmou que se concentrou em investigar os desvios de produtos químicos e que por isso ainda não tinha informações para quem se destinavam, nem sobre a produção de drogas.
LARANJAS E LAVAGENS DE DINHEIRO
A investigação apurou que depósitos suspeitos para a Anidrol teriam sido feitos na boca do caixa, em dinheiro vivo, por uma grande farmacêutica -como se fosse pagamento de uma compradora.
Assim que o dinheiro entrava na conta da Anidrol, valores semelhantes eram transferidos para uma empresa do ramo automobilístico. A hipótese da PF é que a operação servia para lavagem de dinheiro.
Ainda segundo os policiais federais, essa grande farmacêutica comprovou que não havia comprado os produtos e que não tem a Anidrol na sua lista de fornecedores. A empresa também teria comprovado que não faz pagamentos em espécie.
Os investigadores dizem acreditar que as notas eram faturadas em nome de grandes farmacêuticas porque estas têm altos volumes de produção e seria mais fácil não levantar suspeitas.
As notas, no entanto, foram verificadas pela Receita Federal, que abriu investigação contra três farmacêuticas, e assim o esquema acabou descoberto.
Em entrevista para a GloboNews, o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão à Entorpecentes da PF, afirmou que as investigações e as 60 notas fiscais com suspeita de fraude demonstram que os sócios tinham conhecimento pleno dos desvios de produtos químicos.
“Há diversas informações bem robustecidas nas investigações que determinam a participação de todos eles de maneira bem consciente. Não há essa cegueira deliberada em relação a outros funcionários. Eles tinham conhecimento daquilo que estava acontecendo dentro da empresa”, afirmou Galli.
“Informações produzidas por peritos da Polícia Federal que apontaram que esses produtos químicos quando desviados são utilizados para a produção de cocaína e crack batizado”, disse.
Segundo a Polícia Federal, os suspeitos vão responder pelos crimes de tráfico equiparado, associação para fins de tráfico, e lavagem de dinheiro. Se condenados, as penas cominadas podem ultrapassar 35 anos de reclusão.
SURPRESA E TRANQUILIDADE
A reportagem procurou o influenciador via ligações no celular, mensagens na rede social e ligações na empresa, mas ninguém respondeu aos contatos. À tarde, ele se pronunciou por meio de vídeos publicados Instagram.
“Pela manhã fui surpreendido pelo cumprimento de mandado de busca e apreensão da polícia na minha casa, onde fui informado que não só a minha empresa, mas várias empresas estão sendo investigadas num processo que eu não sei. Os meus advogados agora vão dar entrada pedindo para ver o processo e aí sim eu vou entender o que consta nessa investigação”, afirmou em um deles.
Ele ainda disse que a empresa tem mais de 40 anos e opera com todas as licenças necessárias.
Em outra publicação mais tarde, Cariani afirmou ter sido acordo por volta das 6h pela Polícia Federal e que estava tranquilo.
“Mas, o importante é o seguinte, é que eu sei quem eu sou, a jornada que cumpro, sei muito bem disso. Quem tem empresa está fadado a esse tipo de situação. Estou tranquilo”, afirmou, em trecho do vídeo.
MAIS DE 7 MILHÕES DE SEGUIDORES
Cariani é atleta e empresário do ramo fitness. Químico de formação, ele é sócio do grupo Supley, que abriga as marcas Max Titanium (suplementos esportivos), Dr. Peanut (alimentos à base de amendoim) e Probiótica (suplementação e nutrição esportiva).
Cariani também atua como influenciador fitness e de fisiculturismo. Com mais de 7 milhões de seguidores no Instagram, ele publica conteúdos diários sobre musculação, dieta e estilo de vida.
Também tem um projeto no Youtube no qual ajuda famosos a emagrecer e ganhar músculos. Entre as pessoas que já passaram pelo projeto estão os apresentadores Danilo Gentili, do SBT, Igor 3K, do Flow Podcast, e Sérgio Sacani, do canal Space Today.
Nas redes sociais, Igor saiu em defesa do influenciador. “Eu conheço o Cariani e duvido muito que ele seja culpado. Se for, infelizmente é mais um amigo que teve a vida destruída pelo crack mas, por enquanto, não sabemos o suficiente”, escreveu.
A Max, uma das empresas de Cariani, é patrocinadora de Ramon Rocha Queiroz, o Ramon Dino, duas vezes vice-campeão do Mr. Olympia e considerado o maior expoente do esporte no Brasil.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress