SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo de três pesquisadores defende que devemos começar a considerar que o satélite natural da Terra está no Antropoceno Lunar. O conceito segue uma ideia semelhante, de que o planeta Terra se encontra em uma era geológica chamada de Antropoceno.
Na Terra, a ideia é que as ações humanas têm gerado impactos profundos no planeta, ao ponto de que os efeitos serão perceptíveis em rochas por milênios. Dessa forma, as mudanças provocadas pela humanidade teriam encerrado, há décadas, a época geológica Holoceno, que começou há 11,7 mil anos com o fim da última grande era glacial.
A discussão para o Antropoceno ainda está em curso.
Em um comentário publicado na revista científica Nature Geoscience, alguns cientistas tentam levar a mesma ideia para a Lua.
“Uma característica evolutiva importante que separa Homo sapiens de outros animais é nossa capacidade de expansão ecológica em ambientes diversos e extremos”, diz o comentário. “Atualmente estamos passando por nossa próxima grande expansão: o povoamento do nosso Sistema Solar. Mas, em vez de ferramentas de pedra e lareiras, deixamos para trás pegadas humanas, rovers e trilhas de rovers, landers e vários equipamentos científicos.”
Os pesquisadores apontam que a ação humana sobre a Lua começou em 1959, quando a Luna 2, sonda da então União Soviética, chocou-se contra a região conhecida como Mare Imbrium e criou a primeira cratera com origem humana no satélite. Segundo os três cientistas, desde então, outros 58 locais da superfície lunar sofreram perturbações pelo homem.
A marca humana começou em 1959, quando a sonda soviética Luna 2 impactou a leste de Mare Imbrium na Lua, produzindo a primeira cratera feita pelo homem. Desde esse evento, os humanos causaram perturbações na superfície em pelo menos 58 locais adicionais na superfície lunar.
“À medida que entramos na próxima corrida espacial, caracterizada por empresas privadas oferecendo acesso por meio do turismo espacial e planos para mineração industrial, argumentamos que é hora de discutir se a Lua da Terra também entrou em sua própria ‘época dos humanos’ um Antropoceno Lunar”, escreveram os cientistas.
Os pesquisadores apontam que cinco países e empresas privadas se preparam para visitar a superfície do satélite nos próximos dois anos.
“Dado que a Lua não possui atmosfera, a taxa de mudança geomórfica (ou seja, erosão/deposição) ocorre muito mais lentamente do que na Terra, e, portanto, o registro da atividade humana inicial permanece preservado na superfície. Sugerimos que a história recente da exploração espacial resultou em uma assinatura geomórfica mensurável da atividade humana na superfície lunar, marcando uma mudança significativa na história geológica da Lua”, dizem os cientistas.
Os cientistas dizem que a escala de tempo geológico na Lua é baseada na sobreposição de crateras de impactos e episódios de preenchimento de lava que causaram perturbações superficiais mensuráveis. Os períodos geológicos são: pré-nectárico; nectárico; ímbrico; eratosteniano; e copernicano.
Segundo os cientistas, é inevitável o retorno humano à Lua e a designação do Antropoceno Lunar poderia facilitar a discussão científica e os estudos conforme a exploração lunar se intensifica.
“Outras preocupações sobre a exploração espacial humana no século 21 surgiram, incluindo o que acontece com os detritos de espaçonaves. Atualmente, apenas um esforço mínimo está sendo feito para rastrear a deposição do patrimônio espacial na Lua e em outros lugares”, dizem os cientistas.
“Em sua formulação inicial, o conceito de Antropoceno significava que, em algum momento, os seres humanos passam de agentes mínimos de perturbação para importantes impulsionadores da mudança na superfície e no sistema planetário. Já ultrapassamos esse limite para a Lua”, concluem os pesquisadores.
PHILLIPPE WATANABE / Folhapress