SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No Brasil, a grande maioria da população compreende o impacto da humanidade na crise climática. Nova pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo (17), aponta que 78% dos brasileiros afirmam que as atividades humanas contribuem para o aquecimento do planeta, sendo que mais da metade (54%) diz acreditar que elas afetam muito o clima.
Um quarto dos entrevistados (25%) acha que o impacto é pequeno e 5% não souberam responder. Apenas 17% afirmaram que as ações dos humanos não contribuem para o aumento das temperaturas no mundo.
Conforme aponta o consenso científico, as mudanças climáticas atuais são causadas pelos gases de efeito estufa emitidos pelas atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Em 2021, uma análise de quase 90 mil artigos científicos mostrou que mais de 99,9% dos pesquisadores do mundo concordam sobre este tema.
A pesquisa Datafolha foi realizada presencialmente, com 2.004 pessoas de 16 anos ou mais em 135 municípios pelo Brasil, no dia 5 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com taxa de confiança de 95%.
“Esse dado de 78% é interessante porque revela que o Brasil é um país que sabe que sofre os impactos climáticos. Em outros lugares, não é assim. Um exemplo são os Estados Unidos”, afirma a diretora-adjunta da Conectas Direitos Humanos, Julia Neiva, que coordena o programa de defesa dos direitos socioambientais da ONG.
“Nos últimos anos, pesquisas comparando os dois países mostraram que o Brasil tem um número bem mais alto de pessoas que entendem que as mudanças climáticas estão acontecendo e que são provocadas e intensificadas pelas ações humanas.”
O entendimento sobre as causas da crise climática é maior entre os mais jovens e aqueles com maior educação formal.
Na faixa etária de 16 a 24 anos, 85% afirmam que as atividades humanas influenciam o aquecimento global, número que cai para 70% entre os entrevistados com 60 anos ou mais. O índice chega a 90% entre aqueles com ensino superior, mas cai para 66% no estrato com ensino fundamental.
O negacionismo climático –ou seja, a negação do consenso científico sobre o tema– chega a 21% entre as pessoas de mais de 45 anos e a 24% entre os que têm ensino fundamental.
Para o estrato por faixa etária, a margem de erro vai de cinco a seis pontos percentuais, enquanto no recorte por escolaridade, de três a cinco, para mais ou para menos.
Neiva avalia que ambos os aspectos –educação e idade– estão conectados, na medida em que os mais jovens tiveram um currículo escolar mais completo e atualizado em educação ambiental.
“Hoje a educação ambiental é obrigatória no currículo escolar, mas não foi sempre assim. Então dá para entender porque as gerações mais velhas podem ter maior resistência a acreditar nessa informação, já que isso talvez não tenha feito parte da formação inicial delas”, diz.
“Também não é surpreendente que as pessoas com maior escolaridade tenham essa compreensão. Como elas tiveram acesso à informação científica e qualificada, podem estar menos suscetíveis a fake news e desinformação”, completa, ressaltando que os resultados demonstram a relevância de fechar a lacuna do acesso à educação formal no país.
Para ela, a educação socioambiental é essencial “para que entendamos cada vez mais as conexões entre clima, acesso à Justiça, direitos humanos e defesa dos territórios”. “Por exemplo, um dos fatores que no Brasil mais gera impactos na mudança climática é o desmatamento. Então, precisamos entender não só que é necessário defender a floresta em pé, mas também os povos das florestas, que atuam nessa preservação”, explica.
Eventos extremos
Neste ano, que será o mais quente já registrado em 125 mil anos, segundo o observatório europeu Copernicus, e em que foram presenciados extremos climáticos diversos –de deslizamentos em São Paulo e alagamentos no Rio Grande do Sul à seca histórica na amazônia e queimadas no pantanal–, o Datafolha também perguntou sobre a percepção desse tipo de ocorrência.
Entre os entrevistados, 64% disseram acreditar que situações como estas estão acontecendo mais: para 46%, ocorrem com cada vez mais frequência e, para 18%, com um pouco mais de frequência.
Por outro lado, 25% acham que o número de eventos climáticos extremos está diminuindo: para 12%, eles estão ocorrendo um pouco menos e 13% dizem acreditar que acontecem com cada vez menos frequência.
Outros 9% afirmam que a quantidade de eventos extremos se mantém constante e 2% não souberam opinar.
Também foram questionados sobre a frequência com que esse tipo de situação deve acontecer no futuro. Para 79%, o número de eventos vai aumentar, enquanto para 6% se manterá o mesmo e, para 12%, irá diminuir. Dois por cento não opinaram.
Segundo as previsões do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), quanto mais a temperatura do planeta aumentar, mais intensos e frequentes serão os eventos climáticos extremos, como secas, ondas de calor, tempestades e furacões.
JÉSSICA MAES / Folhapress