19 de janeiro também é dia de festa para a MPB!
Isso porque, três grandes nomes da nossa MPB nasceram no dia de hoje e merecem ser lembrados e celebrados: Nara Leão, Luiz Ayrão e Luiz Caldas.
Os três recebem as nossas homenagens, na data que celebra o seu nascimento.
Nara Leão
Nara Leão foi uma das maiores cantoras da história do Brasil e – se não tivesse nos deixado muito cedo cedo, aos 47 anos, vítima de um tumor maligno no cérebro, em junho de 1989 – completaria 82 anos de idade hoje.
Mas sua partida precoce não a impediu de fazer história como uma das maiores vozes e representantes da nossa MPB.
Nara Leão ficou conhecida como a “Musa da Bossa Nova”, por ter sido uma das precursoras do movimento de renovação do samba, lá no finzinho dos anos 50, iniciado por um grupo de jovens músicos de classe média, que se encontravam em apartamentos da Zona Sul carioca, entre eles, o apartamento da Nara.
Nessa turma, estavam nomes como João Gilberto (considerado o “Pai da Bossa Nova”), Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Carlos Lyra.
Mas, Nara Leão foi muito além da Bossa Nova. Ela rompeu com o movimento quando parte dele foi contra as inovações na música trazidas pelas guitarras da Jovem Guarda e também do Tropicalismo.
Nara se uniu aos tropicalistas no disco de lançamento do movimento – Panis Et Circensis ou Tropicália, lá em 1968 – e transitou por várias vertentes da música brasileira: se aproximou do poetas do morro e do samba de raiz e foi uma das cantoras que mais se posicionou politicamente, lutando contra o regime militar e a realidade social do país.
Na época, Nara foi responsável por lançar muitos novos compositores e também por resgatar compositores já consagrados. Ela transformava tudo o que gravava em sucesso estrondoso.
Cantou de Tom e Vinicius a Zé Keti; de Chico Buarque a Cartola; de Roberto Menescal a Nelson Cavaquinho; de Caetano Veloso a Fagner; de Carlos Lyra a Dominguinhos. Em seus 25 anos de carreira, lançou quase 30 discos e transformou para sempre a história da nossa música popular brasileira.
Entre as principais canções na sua voz estão: João e Maria, Com Açúcar com Afeto e A Banda (todas de Chico Buarque); Além Do Horizonte (de Erasmo Carlos e Roberto Carlos); O Barquinho (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli); Opinião (de Zé Keti, com quem protagonizou, ao lado também de João do Vale o espetáculo de protesto que levou o mesmo nome, em 1964); O Circo (de Sidney Miller); Diz Que Fui Por Aí (Zé Keti e Hortêncio Rocha); Este Seu Olhar (Tom Jobim); entre muitas outras.
Para conhecer a obra e a trajetória completa de Nara Leão, escute o episódio do Acervo MPB especial sobre a cantora. Uma série de áudio-biografias exclusiva da Novabrasil, que conta a história de grandes nomes da MPB de um jeito que você nunca viu!
Luiz Ayrão
O cantor e compositor carioca Luiz Ayrão nasceu exatamente no mesmo dia de Nara Leão: 19 de janeiro de 1942.
E segue firme e forte, completando 82 anos neste 2024 e abrilhantando cada vez mais a nossa música brasileira.
Ayrão é autor de grandes clássicos da nossa MPB, como: Ciúme de Você, Nossa Canção, Bola Dividida, No Silêncio da Madrugada e Porta Aberta; e foi gravado por outros grandes artistas como Roberto Carlos, Djavan, Vanessa da Mata, Cauby Peixoto, Golden Boys, Renato & Seus Blue Caps, e outros astros da Jovem Guarda.
Filho do músico e compositor Darcy Ayrão (1915–1955), cresceu em ambiente musical. Na casa de um tio, Juca de Azevedo – saxofonista – costumavam frequentar nomes como Pixinguinha e João da Baiana, que tocavam composições do maestro e professor, seu pai.
Aos 20 anos, por meio do seu tio compositor, Luiz Ayrão conheceu vários artistas de renome, entre eles, Ataulfo Alves e Humberto Teixeira. Logo, desenvolveu o gosto pela música e seus cadernos – cheios de composições – faziam sucesso entre os colegas que frequentavam o Bar do Divino, conhecida esquina do subúrbio carioca onde jovens, que mais tarde se tornariam muito famosos – como Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jorge Ben Jor – se encontravam.
Nessa época, Luiz Ayrão tornou-se vizinho e se aproximou bastante de Roberto Carlos, que pouco depois – junto com Erasmo – veio a tornar-se um dos líderes da Jovem Guarda, principal movimento musical do rock brasileiro e um dos maiores movimentos musicais e culturais de massa do país, que revolucionou o comportamento jovem brasileiro.
Em 1962, Ayrão teve sua primeira composição gravada: Só por Amor, interpretada por Roberto Carlos, no seu segundo disco da carreira: Splish Splash. Logo depois, em 1966, Roberto gravou também Nossa Canção, composição de Luiz Ayrão, considerada o primeiro sucesso romântico do Rei.
Durante essa época, Ayrão compôs várias canções que foram gravadas por diversos artistas da Jovem Guarda, ícones dessa geração, como Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, entre outros.
Em 1973, Luiz Ayrão gravou um compacto simples com a canção Porta Aberta, composição de sua autoria em homenagem à Portela, que foi considerada seu primeiro sucesso como cantor. Devido ao grande sucesso do compacto, a gravadora Odeon lançou, em 1974, seu primeiro LP.
Pouco depois, mudou-se com a família para São Paulo e passou a cantar na Catedral do Samba, uma das principais casas da noite paulistana, dividindo o palco com Pery Ribeiro e Leny Andrade. Em São Paulo, tornou-se um dos maiores nomes do samba e – como empresário – fundou três casas de shows: Canecão Anhembi, Sinhá Moça e Modelo da Liberdade, por onde passaram os maiores nomes da nossa música.
Luiz Ayrão também é autor de três livros: o romance O País dos meus Anjos (2000); Meus Ídolos & Eu, (2010), onde abre seu acervo de memórias, reunidas ao longo de 50 anos de vivência no meio artístico e narra de maneira bem-humorada histórias dos bastidores vividas e contadas por algumas personalidades do nosso universo musical; e – mais recentemente – mais um romance: Da Aurora ao Pôr do Sol (2016), inspirado em sua história pessoal.
O artista gravou mais de trinta discos, fez shows em países da América Latina, Estados Unidos da América, Itália, França e Japão, e ganhou muitos prêmios importantes.
Confira em nossa série especial Saudando Grandes Compositores da MPB, a matéria em que contamos a história de dois grandes clássicos da carreira de Luiz Ayrão: Nossa Canção e Ciúme de Você.
E também a entrevista do artista no programa Radar Novabrasil.
Luiz Caldas
O cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical baiano Luiz Caldas, também nasceu no dia 19 de janeiro, mas alguns anos depois, em 1963.
Nome de imensa importância para a música popular brasileira, Luiz Caldas – que completa 61 anos hoje – é considerado o pai ou precursor do gênero musical que criou um novo movimento no circuito baiano na década de 1980: o Axé Music.
O artista baiano começou cedo na música: aos sete anos, fez sua primeira apresentação como integrante de uma banda mirim e, aos dez, já viajava em turnês com bandas da cidade, aprendendo a tocar diversos instrumentos.
No fim dos anos 70, o artista passou a ganhar espaço no cenário musical de Salvador e se tornou o inventor de um ritmo que mistura o pop com o reggae, toques caribenhos, ijexá, frevo e samba, e que ganhou o apelido de Deboche (ou também chamado Fricote, por conta do nome de uma música de muito sucesso que Caldas lançou nessa época).
Esse ritmo foi evoluindo pra outros tantos ritmos lançados no carnaval baiano e se somando também com o samba-reggae, o merengue, o forró, o pagodão baiano, o samba duro, os ritmos do candomblé, o pop rock e com outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos, consolidando-se no popular estilo ou gênero musical que atualmente é denominado como Axé Music e influenciando uma geração de artistas baianos, mudando para sempre a história do carnaval de Salvador e do Brasil inteiro.
O Axé Music de Luiz Caldas se consolidou mesmo em 1980, quando uma turma de músicos baianos é contratado pelo estúdio WR, que depois disso se tornou muito famoso por produzir os artistas de Axé e de Trio Elétrico em Salvador.
Luiz Caldas passou a liderar a banda Acordes Verdes, formada nesse estúdio e que já contava com o arranjador Alfredo Moura, um dos principais arranjadores do gênero. Mais tarde, Carlinhos Brown também entrou para a banda, que deu início ao chamado movimento do Axé Music.
Em 1985, Luiz Caldas lançou o seu primeiro disco solo autoral, Magia, que conta com o primeiro grande sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: o tal do Fricote.
O ritmo naquela época era chamado de Deboche, e havia sido criado por Alfredo Moura e Carlinhos Brown. O arranjo inovador e de alta qualidade técnica foi marcante pra que a canção (de apenas dois acordes) se tornasse um dos maiores sucessos brasileiros, um verdadeiro hit, espalhando-se por todo o país, estourando nas rádios e virando um marco para a história da música brasileira.
Logo, Caldas passou a ser presença constante nos principais programas de televisão da década de 1980, principalmente no Cassino do Chacrinha, que funcionava como uma vitrine musical pros artistas da época. Com seu visual icônico e suas músicas dançantes, o baiano virou paixão nacional.
Depois disso, lançou outros tantos sucessos e hits carnavalescos como Haja Amor, Tieta e Flor Cigana, vendeu mais de 2 milhões de discos e influenciou uma geração de artistas baianos e de trio elétrico que vieram depois.
Para conhecer a obra e a trajetória completa de Luiz Caldas, também escute o episódio do Acervo MPB especial sobre o artista.