Apoiadores atendem Bolsonaro e chegam à Paulista sem faixas e cartazes contra o STF

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ato chamado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (25) para a avenida Paulista tem características diferentes de anteriores, em que membros do STF (Supremo Tribunal Federal) e a própria corte costumavam ser os principais alvos de faixas e cartazes.

Os manifestantes, que comparecem ao ato chamado em meio às investigações da Polícia Federal que apuram suspeita de que Bolsonaro participou de uma tentativa de golpe de Estado, seguem o desejo de seu líder de não manter os ataques diretos desta vez.

O temor é que críticas à Justiça possam complicar ainda mais a situação de Bolsonaro. A simples organização do ato, de qualquer forma, já é um ato de pressão direta ao STF, que tem autorizado prisões e buscas em torno da investigação de uma trama golpista em 2022 para impedir a posse de Lula (PT).

Como esperado, há muitas bandeiras do Brasil e também de Israel, motivo de críticas de bolsonaristas ao presidente Lula diante de seus recentes acenos contra a investida do país na Faixa de Gaza.

Não há estimativa oficial de público pela Polícia Militar, mas por volta das 14h os manifestantes se concentram por dois quarteirões da avenida, entre a alameda Ministro Rocha Azevedo e a rua Professor Otávio Mendes. Bolsonaro chegou ao carro de som por volta das 14h40.

Antes do evento, bolsonaristas já se preparavam para pedir que abaixassem os cartazes e fechassem as faixas. “Se alguém aparecer com cartaz ou faixa, nós vamos educadamente pedir para que recolham”, avisou o deputado federal Tenente-Coronel Zucco (PL-RS), um dos participantes da manifestação.

Em eventos anteriores, além de criticar o STF e o Congresso, apoiadores de Bolsonaro também exibiram faixas e cartazes apoiando a ideia de um golpe de Estado no Brasil e enaltecendo a ditadura militar que ocorreu entre 1964 e 1985.

Saudosista da ditadura, Bolsonaro reiterou ao longo de anos sua tendência autoritária e seu desapreço pelo regime democrático. Ele negou a existência de ditadura no Brasil e se disse favorável a “um regime de exceção”, afirmando que “através do voto você não vai mudar nada nesse país”.

Em 2021, por exemplo, ele deu a entender que não poderia fazer tudo o que gostaria por causa dos pilares democráticos. “Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil.”

Bolsonaro aposta mais uma vez numa manifestação para tentar demonstrar seu capital político. Os preparativos do ato deste domingo, no entanto, são marcados pelo medo, uma vez que o ex-presidente e aliados estão acuados pelas apurações da PF.

Não foram poucos os conselheiros que orientaram Bolsonaro a ter cautela nas palavras. Além do mais, há no entorno dele quem tema que algo fuja do controle durante a manifestação ou mesmo que haja baixa adesão do público —o que aumentaria a percepção de isolamento do ex-mandatário.

Bolsonaro ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes levaram a Polícia Federal a deflagrar uma operação que mirou seus aliados no início deste mês.

Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

Aliados apontam que eventuais gritos de ordem de cunho golpista poderiam trazer ainda mais prejuízos a processos jurídicos que miram Bolsonaro.

O conselho de aliados a Bolsonaro é que ele evite em seu discurso ofensas a membros do Judiciário (o que já foi uma constante durante seu período na Presidência), sobretudo ao ministro Alexandre de Moraes.

Alguns chegaram a alertá-lo de que declarações com margem de serem interpretadas como crimes poderiam até mesmo resultar na prisão do ex-presidente. De acordo com pessoas próximas, Bolsonaro demonstrou estar alinhado a essas orientações.

ANA LUIZA ALBUQUERQUE E ARTUR RODRIGUES / Folhapress

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