SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando um problema no cronômetro atrasou em 20 minutos o andamento da partida entre Golden State Warriors e Los Angeles Lakers, LeBron James lançou um sorriso em tom irônico e disse: “Já estou velho demais para essa merda”.
Mas não está. Aos 39 anos, o astro americano terminou o confronto com 40 pontos, igualando sua melhor marca na temporada, cravando 49.749 pontos em sua carreira. O número o coloca agora à frente de Oscar Schmidt, até então apontado como o maior cestinha de todos os tempos, com 49.737.
O novo recorde, porém, passou batido nos Estados Unidos. Pelo menos, não foi exaltado pela NBA durante o jogo, na quadra da Crypto Arena, nem nos perfis da liga nas redes sociais, onde os 31 pontos de Stephen Curry, que contribuíram para a vitória dos Warriors por 128 a 121, ganharam mais destaque.
Não há um ranking oficial unificado que contabilize os maiores pontuadores do basquete mundial, mas a marca de Oscar sempre foi destacada em artigos no site da FIBA (Federação Internacional de Basquete), em textos no portal da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e no site do próprio Mão Santa.
Oscar somou seus 49.737 pontos em partidas oficiais por equipes e pela seleção brasileira, com a qual ele disputou nove competições. Em 2013, o brasileiro entrou para o Hall da Fama do basquete, nos EUA.
LeBron, que promete disputar os Jogos de Paris e está em sua 21ª temporada na NBA, registrou a marca considerando a temporada regular da NBA, playoffs, play-in, In Season Tournament (a Copa da NBA), All-Star Games, seleção dos EUA e partidas oficiais internacionais com equipes.
O astro também defendeu seu país no basquete Fiba, que possui regras diferentes, em cinco ocasiões. Na primeira delas, em 2004, na Olimpíada de Atenas, fez parte do único “Dream Team” que fracassou no mais alto palco do basquete internacional. Perdeu para a Argentina, que levou o ouro. Os americanos deixaram o torneio com o bronze.
Depois, no Mundial de 2006, outro bronze, com derrota para a Grécia, que perderia a final para a Espanha. Com o reforço de Kobe Bryant na equipe, James alcançou três vezes o ouro nas competições seguintes: Fiba Americas Championship (2007), Olimpíada de Beijing (2008) e Olimpíada de Londres (2012).
Existem outras contagens que já colocavam o americano em vantagem em relação ao brasileiro, como a que cita 1.763 pontos em jogos de pré-temporada, que não são considerados oficiais.
Agora, porém, não há mais contas em que ele não esteja à frente de Oscar. O curioso é que novamente o americano alcança uma marca importante sem festejar completamente.
Em toda grande marca alcançada por ele, sua equipe sai derrotada. Foi assim também em março de 2019, quando passou Michael Jordan na lista de pontos, pois seu Lakers foi derrotado pelo Nuggets. Em janeiro do ano seguinte, deixou Kobe Bryant para trás, mas novamente com revés, desta vez, diante do 76ers.
Em março de 2022, assumiu a segunda posição na história, superando Karl Malone, mas sendo derrotado pela então fraca equipe do Wizards. Em fevereiro do ano passado, tornou-se o maior cestinha da história da NBA, passando Kareem Abdul-Jabbar, mas novamente com um fracasso, diante do Thunder.
Mais recentemente, ele alcançou a marca de 40 mil pontos em temporadas regulares ao longo de sua carreira, índice inédito na história da NBA, mas novamente saiu de quadra derrotado, na ocasião, pelo Denver Nuggets, atual campeão da liga.
“LeBron precisa parar de quebrar esses recordes, porque toda vez nós perdemos”, brincou o pivô Anthony Davis.
A NBA, no entanto, não costuma se importar com o resultado das partidas para usar a imagem do astro para promover a liga.
Para Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM, “LeBron é um dos grandes protagonistas da liga, que rompeu os limites da base de fãs de basquete, com seus feitos e personalidade, gerando interesse muito além das quatro linhas”.
“O que diferencia os atletas como o LeBron é justamente a capacidade de se manterem no mais alto nível, ou de se aprimorarem, mesmo quando integram um grupo que não está num bom momento”, diz Thiago Freitas, da Roc Nation Sports, empresa que gerencia as carreiras de atletas.
A NBA realmente adota esta linha estratégica. Tanto nos Estados Unidos quanto em outras partes do mundo, exalta o feito com posts, artes especiais, vídeos comemorativos, entrevistas exclusivas e não menciona a partida, deixando esse trabalho para os sites de notícias.
“Independentemente do que está ocorrendo coletivamente, quando um atleta alcança marcas históricas, como o LeBron alcançou, esses fatos, esses feitos, eles têm que ser ressaltados e celebrados”, defende o especialista de marketing Fábio Wolff.
A maldição persegue LeBron não só nos recordes, mas também nas marcas históricas. Quando cravou 10 mil pontos na carreira, o camisa 23, à época no Cavs, perdeu para o Celtics, em 2008. Ao chegar a 30 mil pontos, de volta a Cleveland, sucumbiu diante do San Antonio Spurs, em 2018. Com 40 mil, a mais recente, foi superado por Nikola Jokic e companhia, que também estragaram a noite de inauguração da estátua de Kobe Bryant, em fevereiro.
A exceção que confirma a regra está na marca de 20 mil, quando, ao lado de Dwyane Wade e Chris Bosh, ajudou o Heat a vencer o Warriors, em 2013.
LUCIANO TRINDADE / Folhapress