Ex-Flamengo estreou na seleção em Wembley e mandou bola na lua

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A chance de estrear na seleção brasileira que está diante de alguns convocados por Dorival Júnior neste sábado (23), contra a Inglaterra, foi justamente o que aconteceu na vida de Charles Guerreiro, há 32 anos.

O então lateral-direito do Flamengo não só entrou em campo contra os ingleses em Wembley, como teve uma chance de ouro que poderia ter dado a vitória ao Brasil. Mas o chute quase na pequena área foi pelos ares, talvez levando consigo a perspectiva de estar com frequência maior naquela que seria a seleção do tetra.

“Zagallo falou: ‘Pô, garoto, se você faz aquele gol, você nem voltaria mais para o Brasil’. Mas a Rainha acabou pegando a bola e ficou de lembrança. Seria 2 a 1, a gente teria ganhando da Inglaterra, em Wembley”, disse Charles Guerreiro, à reportagem.

Era o último jogo antes da demolição para a profunda reforma que gerou o estádio moderno, atual, onde a seleção joga às 16h (de Brasília). Poderia ter sido histórico —positivamente- e não uma lembrança do tipo “e se”.

Charles fez jus ao apelido de Guerreiro pela disposição em campo. Ele chegou à seleção porque viveu boa fase num Flamengo que viria a ser campeão brasileiro naquele ano de 1992. Mas por que perdeu aquele gol?

“Foi ansiedade”, resume ele, que nunca foi conhecido por fazer muitos gols. Pelo contrário.

“A vontade era muito grande. Tinha uma situação de eu estar quase cinco anos no Flamengo e não fazer gol. Jogadores sacaneando, imprensa. Matéria no Fantástico com o Gilmar [ex-goleiro] chutando bola. Teve o pessoal entrevistando o Luxemburgo [técnico do Flamengo à época], dizendo que não precisava fazer gol, que tinha que cruzar bola para o Gaúcho”, lembrou.

A chance de entrar no jogo foi após Luís Carlos Winck se machucar. A substituição ocorreu logo após o intervalo. Aí, quando a oportunidade apareceu, a força foi exagerada.

“O gramado era um tapete persa. Bebeto meteu a bola em profundidade. Valdeir deu de calcanhar. A bola subiu muito. Acabei perdendo aquele gol”, lembra.

Brasil e Inglaterra empataram por 1 a 1. O gol da amarelinha foi de Bebeto, enquanto David Platt empatou para os donos da casa. Lineker perdeu pênalti no começo do jogo.

Charles Guerreiro atualmente tem 60 anos e trabalha como coordenador técnico do Imperatriz-MA, atual terceiro colocado do Estadual. Depois do Flamengo, ele ainda jogou por outros grandes do Rio (Fluminense e Vasco) e se aposentou no futebol paraense.

O QUE MAIS CHARLES GUERREIRO FALOU

A consequência disso?

“A trajetória seria diferente, porque quando eu estava jogando, fui convocado, eu estava indo para a seleção. Em 1994, eu ainda rompi o ligamento, acabei me machucando. Em 1995 eu até fui convocado de novo e quebramos o tabu de ganhar da Argentina em Buenos Aires, depois de 19 anos.”

A repercussão do lance te machucou?

“Não me machucou. O pessoal brincou. Quem pegou pesado foi uma repórter, que fazia o esporte na Globo, acho que foi a Renata Ceribelli: ‘Um nome de príncipe, um chute de plebeu’. Mas foi tranquilo. O pessoal lembra até neste sábado (23) que eu joguei em Wembley.”

Conselhos para os estreantes com Dorival

“Vai ser uma grande oportunidade, a seleção está voltando depois de muitos anos ao estádio. É ter a consciência de colocar na cabeça que é oportunidade na vida deles. A oportunidade passa. Eu fui para Wembley poderia ter uma consciência maior, de uma oportunidade única. Poderia dar uma calibrada, aproveitado a oportunidade. Mas foi coisa que passou. A gente torce para os atletas que vão jogar.”

IGOR SIQUEIRA / Folhapress

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