Dólar sobe a R$ 5,12 com pessimismo sobre juros americanos; Bolsa cai

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar voltou ao patamar dos R$ 5,10. Nesta sexta-feira (12), a moeda americana registrou alta de 0,61%, em sua terceira sessão consecutiva de valorização, e fechou o dia cotada a R$ 5,121, renovando seu maior valor desde outubro do ano passado. No acumulado da semana, o avanço foi de 1,11%, o mais intenso desde janeiro.

O principal motivo para o salto recente da divisa continua sendo os dados recentes de inflação nos Estados Unidos, que enterraram apostas de queda de juros no país neste semestre.

A perspectiva de juros mais altos nos EUA beneficia o dólar pois aumenta a rentabilidade da renda fixa americana, atraindo recursos para o país e penalizando mercados de maior risco, como o Brasil.

O movimento está em linha com o cenário global: o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, subia 0,72% no fim da tarde e caminhava para seu desempenho mais forte desde setembro de 2022.

O dia também foi de aversão global ao risco por causa do aumento das tensões no Oriente Médio.

Nesta sexta, as forças israelenses voltaram a bombardear a Faixa de Gaza, segundo informações divulgadas pelo Hamas, em um momento de tensão elevada após o Irã ter ameaçado responder ao ataque contra seu consulado na Síria.

A Bolsa brasileira, que começou o dia em estabilidade, também foi penalizada e passou a registrar queda, pressionada pelo setor financeiro. Em Wall Street, o clima é de pessimismo após balanços corporativos fracos do setor bancário americano, jogando contra o Ibovespa.

Na cena doméstica, as atenções se voltam para a decisão de um juiz federal de São Paulo de suspender do cargo o presidente do conselho de administração da Petrobras. As ações da companhia operaram em forte queda durante boa parte da sessão, descolando-se da subida do petróleo no exterior.

Discussões sobre o cenário fiscal e juros locais também seguem no radar do mercado.

“As incertezas sobre as taxas de juros nos EUA e os recentes dados de atividade econômica no Brasil podem fomentar debates sobre um patamar mais alto para a Selic terminal. O real, por sua vez, pode enfrentar pressões de depreciação por causa da persistente valorização do dólar”, dizem analistas da Guide Investimentos.

Com isso, o Ibovespa recuou 1,13%, terminando o dia aos 125.946 pontos, o nível mais baixo do ano.

Na quarta (10), dados mostraram que a inflação medida pelo CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) nos Estados Unidos subiu para 3,5% em março, acima das expectativas do mercado. Economistas consultados pela Bloomberg projetavam alta de 3,4%.

Os novos dados indicaram resiliência da alta de preços no país e adiaram novamente as apostas sobre o tão esperado afrouxamento de juros americano.

Se antes as projeções indicavam um primeiro corte em maio, agora os mais otimistas esperam que ele ocorra apenas em setembro.

Um relatório separado, mostrando que o índice de preços ao produtor dos EUA subiu menos do que o esperado em março, não conseguiu aplacar o pessimismo do mercado, e a moeda americana seguiu em trajetória de alta.

Nesta sexta, o Itaú revisou sua projeção para o dólar no fim de 2024, aumentando de R$ 4,90 para R$ 5,00. Como justificativa, os analistas citam aumento de incertezas sobre o ciclo de corte de juros nos EUA.

O banco também revisou suas projeções para a Selic e o crescimento econômico do Brasil. Agora, espera que a taxa básica de juros brasileira termine o ano em 9,75%, ante 9,25% em previsão anterior. Para o PIB, a projeção subiu de 2% para 2,3%.

Sobre os Estados Unidos, o Itaú adiou de setembro para dezembro sua projeção para o início do ciclo de queda dos juros americanos.

“Atividade econômica forte e inflação mais persistente devem levar o Fed a esperar mais tempo e coletar mais dados, antes de ter confiança para iniciar o processo de flexibilização monetária”, afirma Mario Mesquita, economista-chefe do banco.

Já Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury Bank, é mais otimista: diz que a casa ainda não alterou suas apostas de valorização do real, afirmando que os últimos eventos geraram volatilidade, mas não mudaram os fundamentos de apostas sobre a moeda brasileira.

“A questão dos juros americanos pode realmente ser um impeditivo para a queda do dólar. Ainda temos dois dados de inflação até junho, basta que um deles venha abaixo do esperado para os mercados colocarem um corte de volta no cronograma do Fed. Até lá, mantemos nossa visão construtiva da moeda brasileira”, diz Moutinho.

IBOVESPA REGISTRA TERCEIRA QUEDA CONSECUTIVA

Na Bolsa brasileira, as principais quedas do dia foram da Petrobras e da Vale, as empresas de maior peso do Ibovespa, que se descolaram da alta das commodities no exterior e caíram 0,91% e 0,37%, respectivamente.

O setor financeiro também pressionou a Bolsa, e ações do Bradesco e do Itaú caíram 1,25% e 1,03%, acompanhando o desempenho dos pares americanos.

“O movimento está em linha com NY, onde seus pares iniciaram as divulgações dos resultados do primeiro trimestre que evidenciaram o impacto dos juros elevados nos EUA, em especial sobre empréstimos. Uma vez que as perspectivas do mercado passam a contemplar uma postergação dos juros altos, o efeito pode se ampliar”, afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Nos EUA, os índices S&P 500, Nasdaq e Dow Jones recuaram 1,46%, 1,62% e 1,24%, respectivamente. Grandes bancos como JPMorgan e Wells Fargo caíram cerca de 1,55%.

Com o recuo desta sexta, o Ibovespa marca três sessões consecutivas de queda e termina a semana com saldo negativo de 0,67%.

“A semana para os dois mercados, tanto de índice quanto de dólar, foi bem direcional. O Ibovespa teve três dias consecutivos de quedas expressivas, o dólar três dias consecutivos de alta. Temos um momento de muita cautela, principalmente na Bolsa, e a falta de atratividade para trazer recursos dos Estados Unidos para o Brasil se reflete na cotação alta do dólar”, diz Dierson Richetti, sócio da GT Capital.

MARCELO AZEVEDO / Folhapress

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