Alice Wegmann fala sobre abuso sexual de sua personagem em ‘Justiça 2’: ‘Mexeu muito comigo’

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Se é difícil assistir às cenas da personagem Carolina em “Justiça 2”, imagine então interpretá-las. Na série, que estreou no último dia 11 no Globoplay e tem novos episódios disponibilizados na plataforma de streaming todas as quintas-feiras, Alice Wegmann dá vida à jovem, que foi estuprada pelo tio e sofre abusos dele até hoje.

“Foi muito difícil e também muito emocionante; é uma personagem que mexeu muito comigo”, relata a atriz. “Eu acho que é uma história que fala muito sobre muitas mulheres aqui no Brasil. Infelizmente, muita gente vai se identificar.”

Apesar da dificuldade de acessar essas emoções, ela conta que achou relevante trazer o assunto para discussão por meio da arte. “Muita gente vai criar coragem para fazer o que tem que ser feito, para denunciar, para virar o jogo, para falar sobre isso dentro das famílias porque são coisas muito veladas, muito silenciadas”, afirma. “Então acho que a gente vem com uma função, com uma importância mesmo muito grande.”

Já no âmbito pessoal, a atriz –que já revelou ter sido ela própria vítima de abuso sexual no passado– diz que foi significativo explorar esses sentimentos. “Foi difícil, mas, ao mesmo tempo, foi necessário. Eu ter atravessado essa série foi muito simbólico para mim.”

Na trama, o abusador de Carolina é Jayme, interpretado por Murilo Benício. A atriz conta que tê-lo como companheiro de cena foi fundamental para tornar o clima mais ameno nos bastidores. “Foi curioso porque é uma série muito emocionante e densa”, relata. “Então, nesse caso, foi muito especial para mim ter um parceiro como ele, porque ele me fazia rir horrores, tinha milhares de vezes que eu chorava de rir, chorava, chorava.”

A troca entre eles foi fundamental para que as lembranças das gravações sejam majoritariamente positivas. “Se eu não tivesse dado tanta risada quanto eu dei com ele no set, talvez eu não tivesse sido tão feliz fazendo e talvez isso tivesse me botado muito pra baixo”, avalia. “Sabe quando a gente vive muito personagem e vai afundando? Porque isso acontece com muita frequência, acontece muito.”

Mesmo assim, foi difícil não levar uma personagem com dramas tão profundos para casa de vez em quando. Alice diz que, ocasionalmente, não conseguia se desligar totalmente de Carolina quando encostava a cabeça no travesseiro e tentava descansar.

“Nem sempre foi fácil, muitas vezes eu chegava em casa e precisava ligar pros meus amigos, pra ficar falando de outras coisas, ou pra desabafar”, relata. “Para mim, foi muito importante ter uma rede de apoio nesse momento. Foi uma personagem que realmente mexeu com questões muito íntimas, muito particulares e eu acho que muito femininas também.”

A atriz, aliás, elogia o olhar da autora Manuela Dias sobre o assunto, mas evita fechar questão sobre se um homem conseguiria chegar a um resultado tão sensível ao falar do tema. “Olha, talvez… porque a gente não fala muito sobre isso, mas homens também são estuprados, também são abusados”, lembra. “Então, eu acho isso muito relativo, depende. O que posso afirmar com certeza é que a Manu soube contar brilhantemente.”

VITOR MORENO / Folhapress

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