BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dos partidos que apoiou formalmente a candidatura de Lula (PT) em 2022, o Solidariedade se reúne nesta terça-feira (6) com a cúpula do oposicionista PSDB para discutir a formação de uma federação, em um claro sinal de insatisfação com o Palácio do Planalto.
Embora tenha integrado a chapa de Lula, o Solidariedade não está na lista de prioridades do governo e do PT na relação com aliados, o que tem provocado críticas públicas e o afastamento do principal líder da sigla, o deputado federal licenciado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força.
Após o ato do 1º de Maio em que Lula se referiu ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), como “nosso adversário municipal” e pediu votos para Guilherme Boulos (PSOL), Paulinho afirmou que Lula despreza os partidos que estão em sua base.
“Depois, como ele pede voto no Congresso, à medida que trata todo mundo como adversário? Se é adversário aqui [em São Paulo], também vai ser lá. Ou seja, ele só cria dificuldade para o governo dele”, disse Paulinho da Força, que em São Paulo apoia a reeleição de Nunes.
Tanto o Solidariedade quanto o PSDB -até a década passada um dos maiores partidos do Brasil– têm tamanho pequeno no Congresso Nacional.
Na Câmara, ocupam apenas 22 das 513 cadeiras (5 do Solidariedade e 17 da federação PSDB-Cidadania). No Senado, apenas 1 das 81 vagas (PSDB).
Lula não reservou ao Solidariedade espaço nos ministérios, nem em cargos de maior relevo, na divisão entre os partidos que o apoiaram e as siglas de centro e de direita que ele procurou atrair para ter governabilidade. O partido controla apenas a presidência da Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural).
No encontro desta terça, que ocorrerá em Brasília, as duas legendas debaterão a formação da federação para as eleições de 2026. Mas, de acordo com integrantes das siglas, a ideia é estabelecer desde já um caminho de parceria no Congresso e nas eleições municipais de outubro.
Pelo Solidariedade, devem comparecer o presidente da sigla, Eurípedes Jr. (ex-presidente do Pros, que se fundiu ao Solidariedade), Paulinho da Força, vice-presidente e fundador do partido, e Felipe Espirito Santo, secretário-geral.
Do lado do PSDB, vão o presidente nacional da sigla, Marconi Perillo, o deputado federal Aécio Neves (MG), presidente do Instituto Teotônio Vilela, e o deputado federal Paulo Abi-Ackel (MG), secretário-geral do partido.
As conversas entre Solidariedade e PSDB já ocorrem há algum tempo. Paulinho e Aécio, inclusive, têm um histórico de aproximação.
Em 2014, o partido de Paulinho apoiou a candidatura de Aécio à Presidência da República. Dois anos depois, ambos também compuseram a linha de frente de congressistas que aprovaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
O PSDB firmou federação com o Cidadania em 2022. Essa união tem que ser mantida na atual legislatura, que termina em janeiro de 2027.
A insatisfação do Solidariedade com o tratamento dado pelo governo é direcionada em especial a ministros que estão na linha de frente das articulações com o Congresso: Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).
“Se o governo continuar ‘padilhando’, vai continuar patinando na relação com os aliados”, diz Felipe Espirito Santo.
Padilha também é alvo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), mas até o momento Lula não tem demonstrado intenção de trocar sua articulação política.
RANIER BRAGON / Folhapress