RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal afirma ter coletado indícios de que o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, coagiu por meio da corporação pessoas que estavam em litígio com um cliente de sua empresa de consultoria.
As evidências foram obtidas na fase final da investigação sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e o seu motorista Anderson Gomes. Barbosa é acusado de ter ajudado no planejamento do homicídio.
Em nota, os advogados Marcelo Ferreira e Felipe Dalleprane, que representam o delegado, afirmam que a PF “sempre se mostrou muito perdida em sua investigação sobre o caso” Marielle.
“Diante de tantas suposições e informações desencontradas, cabe a defesa, nesse momento de encerramento das investigações, desconsiderar o relatório da PF e se ater somente ao que restou consignado na denúncia”, afirmam os advogados.
As suspeitas sobre as atividades comerciais de Rivaldo não têm relação direta com o homicídio. As evidências sobre a atuação empresarial do delegado serão enviadas ao Rio de Janeiro, onde o Ministério Público estadual já investiga o tema.
Em um dos relatórios complementares sobre o caso, a PF afirma que depoimentos e documentos obtidos na investigação apontam “possível uso da polícia para coagir e intimidar pessoas envolvidas em litígios e disputas comerciais” com a construtora Calper, cliente da consultoria fundada por Rivaldo.
Relatório do Coaf apontou que a construtora repassou, entre 2016 e 2018, R$ 1 milhão para a empresa Mais I Consultoria Empresaria, fundada por Rivaldo em 2014 em sociedade com sua mulher, Erika Araújo.
O relato mais enfático sobre a suposta intimidação partiu de um advogado envolvido no empreendimento Nexus Hotel & Residences junto com a Calper.
Segundo o depoimento, após ele e seus sócios fazerem questionamentos em relação aos gastos da obra executada pela Calper incluindo os pagamentos para a Mais I, foram alvo de intimação da unidade de lavagem de dinheiro da Polícia Civil a partir de uma denúncia anônima registrada duas semanas antes.
O relato feito à PF afirma que a intimação foi entregue por agentes armados, “com o condão de causar-lhe constrangimento, devido a suposta atitude agressiva dos policiais e o armamento de grosso calibre que ostentavam”.
O advogado declarou ainda que sua sócia foi arrolada como testemunha em outro inquérito policial para apurar fato com o qual não tinha qualquer vinculação.
Os dois inquéritos citados foram abertos em 2018, quando Rivaldo estava na chefia da Polícia Civil.
A PF apresenta também o depoimento de uma dentista cuja mãe participou do empreendimento TIC Frames. Ela contou que Ricardo Ranauro, dono da Calper, registrou na Polícia Civil uma notícia crime contra sua mãe após divergências no empreendimento.
Neste caso, porém, as partes entraram em acordo. A PF afirma que o relato pode ter sido complacente em relação à coação em razão da solução do litígio.
O relatório ressaltou, porém, o “estranhamento provocado nesta equipe ao verificar que nos acordos em questão, o empresário [Ranauro] se comprometeu a peticionar junto ao procedimento criminal declarando o desinteresse no prosseguimento das investigações”.
“Tendo em vista que a conduta imputada fora falsidade ideológica, crime cuja iniciativa da ação penal seria pública incondicional, as apurações deveriam prosseguir independente de qualquer manifestação da vítima”, relata o documento da PF.
PF SE MOSTRA PERDIDA EM INVESTIGAÇÃO DO CASO, DIZEM ADVOGADOS
A defesa do delegado Rivaldo Barbosa afirmou, em nota, que a PF “sempre se mostrou muito perdida em sua investigação sobre o caso, levantando suposições que sequer foram levadas em consideração pela PGR na denúncia”.
“Depois de mais de 20 mil páginas de inquérito policial, nada há de inédito que possa corroborar a delação de um assassino confesso que pretende obter benefício penal indevido, tentando retirar a credibilidade da polícia que o prendeu. Diante de tantas suposições e informações desencontradas, cabe a defesa, nesse momento de encerramento das investigações, desconsiderar o relatório da PF e se ater somente ao que restou consignado na denúncia”, afirmam os advogados Marcelo Ferreira e Felipe Dalleprane, em nota.
Os advogados também classificam a acusação da PGR como “rasa e sequer consegue demonstrar qualquer tipo de irregularidade ou vínculo do dr. Rivaldo Barbosa com os demais denunciados”.
A construtora Calper afirmou, em nota, que não mantém relação contratual com a Mais I desde 2017.
“A Calper Construtora esclarece que, na época divulgada, contratou a empresa Mais I de forma regular, cujos pagamentos foram realizados através da emissão das respectivas notas fiscais e que sempre teve a sócia majoritária e administradora, Érika [mulher do delegado], como ponto de contato para todas as tratativas para prestar o serviço de compliance e gestão patrimonial”, afirma a nota.
A construtora afirma não ter conhecimento sobre a denúncia anônima que motivou a intimação apontada pela PF. Declarou, ainda, que o inquérito sobre falsidade ideológica continuou tramitando após a declaração de desinteresse de Ranuaro, e “só foi arquivado em 2022, a pedido do Ministério Público”.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress