SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apenas 15% das 23,6 mil estações de monitoramento de rios no Brasil transmitem as informações em tempo real no Brasil atualmente, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Isso significa que cerca de 20 mil estações (85% do total) não tem esse tipo de acompanhamento. A maioria delas opera no sistema manual, quando um funcionário recolhe os dados, geralmente duas vezes ao dia, e transmite para os órgãos de monitoramento.
O sistema se divide em estações que medem as chuvas e as que medem a vazão dos rios, além de equipamentos que fazem as duas funções. A rapidez de levantamento de informações é fundamental para emitir avisos para as autoridades e a população em geral.
O monitoramento correto de rios e lagos poderia ter atenuado os efeitos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Mas faltavam dados sobre os afluentes dos principais rios. Com isso, as autoridades demoram mais tempo para descobrir se a água está subindo em determinada região. Isso é principalmente grave em cidades menores do interior, que muitas vezes só descobrem a cheia quando é tarde demais.
Segundo Leandro Casagrande, engenheiro responsável pelo monitoramento hidrológico do Cemaden, a rede própria do serviço conta com 2.600 equipamentos que fazem o monitoramento de 1.133 municípios em todo o país.
“O Cemaden foi criado em 2011, após as tragédias na região serrana do Rio de Janeiro e começou com o monitoramento de 53 municípios”, conta.
Para conseguir um melhor monitoramento, o órgão trabalha também com informações de outras entidades interligados em rede, como o Serviço Geológico Brasileiro (SGB), o Instituto Nacional de Metereologia (Inmet) e a Agência Nacional das Águas (ANA).
“Foram órgãos criados para outras funções, como a pesquisa de solo, o monitoramento das águas para a agropecuária e o abastecimento de água e da capacidade hidrelétrica”, diz.
Com a criação do Cemaden, todos os órgãos passaram a atuar juntos na prevenção a eventos climáticos extremos. A adaptação dos antigos serviços obrigou o órgão a intensificar as atividades na faixa a 200 quilômetros do oceano, onde se concentra a maior parte da população brasileira e havia falta de informações.
Casagrande admite que o sistema precisa passar por aperfeiçoamentos, não só com o aumento de informações em tempo real, mas também com uma maior preocupação com bacias menores. No caso do Rio Grande do Sul, as enchentes começaram com chuvas intensas em rios menos na região do planalto.
Ele explica que bacias que não eram de grande interesse para outras funções passam a ser prioritárias na prevenção de eventos climáticos extremos, porque podem ter grande concentração de população em áreas que podem ser atingidas pelas cheias.
Além do sistema nacional, estados como Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, contam com redes estaduais de monitoramento. Existem municípios que também contam com a infraestrutura e monitoramento e prevenção.
LEONARDO FUHRMANN / Folhapress