Boulos se alia a partido que ‘namorou’ Bolsonaro, abriga Weintraub e refuta bandeira feminista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) recebeu nesta quinta-feira (23) o apoio do PMB (Partido da Mulher Brasileira) representado no evento por sua presidente nacional, Suêd Haidar Nogueira, e ao qual o ex-ministro bolsonarista Abraham Weintraub é filiado.

Ao anunciar a adesão -que eleva para sete o número de siglas da coligação, ela contestou a associação da legenda a Jair Bolsonaro (PL), embora o PMB abrigue simpatizantes do ex-presidente.

Suêd reiterou que o partido não é feminista, posição que se choca com a composição majoritariamente de esquerda dos partidos da aliança. Boulos, apoiado pelo presidente Lula (PT), e dirigentes do PSOL e do PT minimizaram eventuais divergências, tratando o apoio como um sinal de que a pré-candidatura dialoga com outros campos e está disposta a fazer concessões caso seja vencedora.

A presidente rechaçou ligações com Bolsonaro, que em 2021 cogitou entrar no partido após ter deixado o extinto PSL. “Eu nunca entreguei uma ficha de filiação para Jair Messias Bolsonaro”, disse Suêd, relatando que em 2017 convocou reunião da executiva em Brasília e ficou decidido que o apoio a ele era proibido.

Ela afirmou ainda, sem mencionar o ano, que chegou a ir a Brasília conversar com ele, já presidente, e disse que ele não seria candidato pela legenda. “Ele desceu para o cercadinho e falou que o PMB estava com ele, mas ninguém nunca viu uma proposta do PMB na mão dele, de assinatura para entrada dele.”

O deputado federal fez críticas à gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputa a reeleição com o apoio de Bolsonaro e tem 11 partidos em sua coligação, o que deve lhe garantir o maior percentual no tempo de propaganda gratuita em rádio e TV e maior volume de dinheiro do fundo eleitoral.

Boulos exaltou a chegada do PMB e lembrou que o partido orientou seus filiados em 2022 a não apoiarem a reeleição do então presidente. Um dos eixos da campanha dele a prefeito é o apelo para derrotar o bolsonarismo na cidade, representado por Nunes.

“Por isso há coerência [do PMB] com a decisão de aqui em São Paulo enfrentar a candidatura que expressa o bolsonarismo”, disse o deputado, referindo-se ao bolsonarismo como “aquilo que há de pior na política brasileira”, por trabalhar com uma “política tóxica, agressiva, baseada em cultura do ódio”.

O nanico PMB não tem representantes no Congresso Nacional nem militância consolidada na cidade. Questionada sobre a posição ideológica da legenda, Suêd disse que o partido não é de direita nem de esquerda nem de centro, mas “está na frente”.

“É o bucho, é a mulher que pare”, afirmou. “Cuidar da vida das pessoas” é a ideologia do PMB, segundo ela, que falou ainda em estar “do lado certo” e junto de “quem estiver caminhando certo”.

“Nosso partido pode não ter dinheiro, mas ainda tem voz”, disse a presidente, que fez alusões a tentativas de compra do partido, sem citar nomes. “Sai daqui que isso aqui não é quitanda”, afirmou ela, reproduzindo a reação diante de “todas as ofertas que fizeram para comprar o CNPJ do PMB”.

Suêd repetiu que “o Partido da Mulher Brasileira não é feminista”, argumentando que, por ser um partido, “é composto de programas e metas”. E comparou: “Eu sou mulher, eu sou política, eu sou feminina”.

Ela disse, no entanto, defender a participação das mulheres na política e ilustrou a importância de maior presença falando de sua própria trajetória.

“Fundei o PMB em homenagem não só às mulheres, mas a todas as famílias brasileiras”, discursou.

O PMB lançou em Curitiba a pré-candidatura a prefeita da bolsonarista Cristina Graeml. Em São Paulo, um dos filiados é Weintraub, ministro da Educação no governo Bolsonaro e vinha se apresentando como pré-candidato a prefeito pela legenda.

Ele concorreu a deputado federal pela sigla em 2022, mas não se elegeu. Naquele ano, o ex-ministro se referiu ao PMB como “o único espaço 100% conservador na política” e “o berço da reação conservadora”.

Ele diz que, caso seu projeto seja barrado pela legenda, irá à Justiça reivindicar o direito de concorrer com uma candidatura independente, ou seja, desvinculada de partido político. A legislação brasileira impede as chamadas candidaturas avulsas. O assunto é debatido no STF (Supremo Tribunal Federal), mas não haverá mudanças para o pleito deste ano.

À Folha Weintraub afirma que é contra o apoio do partido a Boulos. Para o ex-ministro, a sigla tem se esforçado para sobreviver diante das mudanças que dificultam a atividade de partidos pequenos. Ele se apresenta como opção para o campo conservador, mas demarca diferenças com Bolsonaro.

Suêd disse no evento que, antes da eleição de 2022, fechou um acordo com Weintraub em que o então postulante a deputado se comprometia a “bater no Bolsonaro”, mas “não houve” essa postura. O ex-ministro, contudo, passou a fazer oposição ao ex-presidente e se distanciou do grupo dele.

Dirigentes dos outros seis partidos da aliança de Boulos (PSOL, PT, Rede, PC do B, PV e PDT) também participaram do anúncio, que ocupou um pequeno auditório em um hotel na região da avenida Paulista.

O presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro, elogiou o que descreveu como habilidade de Boulos para formar alianças, combinando fidelidade às suas convicções e propostas antagônicas. Ele afirmou que as forças que aderem à pré-candidatura também precisam fazer concessões.

“Boulos tem tido capacidade extraordinária de construir consensos com diversas forças políticas”, disse.

O pré-candidato comentou que a riqueza da frente que está montando “está na diversidade” e que o diálogo com o PMB foi edificado “sobre divergências e convergências”. Prometeu que, se eleito, fará uma gestão aberta. “Governo não é feito sozinho por um prefeito”, disse.

As falas têm relação com o esforço de combater a imagem de radical de Boulos e apresentá-lo como um político apto para negociações.

Aliados de Boulos negam contradição entre as bandeiras do pré-candidato e a parceria com o PMB, argumentando que o partido passa por um reposicionamento.

“É um apoio que representa esse nosso esforço de ampliação e de diálogo com toda a sociedade”, diz Josué Rocha, coordenador da pré-campanha. “O Boulos tem uma trajetória consolidada já, com histórico e compromisso com pautas que mostram qual é o perfil da candidatura.”

Dirigentes do PMB afirmam que o partido está situado ao centro. Há, no entanto, variações conforme a região. Suêd disse serem naturais as particularidades de cada cidade e estado, ao ser indagada sobre o contraste entre apoiar um pré-candidato ligado a Lula e lançar outra que quer o apoio de Bolsonaro.

“Essa companheira que está lá é uma mulher, é militante, é jornalista de renome, boa pra caramba. Espero que ela ganhe as eleições e faça bonito lá no estado dela”, declarou sobre Cristina Graeml.

Sidclei Bernardo, que é vice-presidente nacional da legenda e participou das conversas em torno da aliança com Boulos, diz que a orientação é evitar extremismos, seja à direita ou à esquerda.

“Tudo que é extremista nós não vamos permitir no partido. É um partido de brasileiro para brasileiro. A gente tem que entender o que é bom e aproveitar o que é bom [para a sociedade]. A gente entendeu que [Boulos] é um bom projeto para a Prefeitura de São Paulo.”

A legenda diz que também conversou com representantes das pré-campanhas de Nunes e de Tabata Amaral (PSB). “Mas entendemos que o melhor é Boulos”, afirma Sidclei.

No Paraná, onde planeja lançar Cristina Graeml, o PMB “não permitirá coligações com partidos de esquerda em nenhum município”, segundo o presidente da sigla no estado, Fabiano dos Santos. “O partido na [gestão] nacional tem a posição determinada de centro”, afirma.

A sigla tentou mudar de nome duas vezes, primeiro para Brasil 35 e mais recentemente para Por Mais Brasil, mas o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não autorizou.

JOELMIR TAVARES / Folhapress

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