CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO (FOLHAPRESS) – A maior votação da história do México foi encerrada às 21h de Brasília (18h locais) deste domingo (2) sob expectativa de vitória para Claudia Sheinbaum, a candidata do presidente Andrés Manuel López Obrador que liderou as pesquisas de intenção de voto.
Sob o manto do medo em algumas regiões, o pleito refletiu a campanha eleitoral e registrou episódios de violência. Na cidade de Tijuana, duas pessoas foram baleadas em um centro de votação. Já em Querétaro, homens lançaram gasolina e coquetéis molotov em três centros.
Enquanto isso, a Cidade do México era quase um oásis nas eleições em que estavam em jogo mais de 20,7 mil cargos. A capital registrou focos de violência e violação da lei eleitoral como fazer propaganda política dentro ou fora do local de votação, mas em grau não comparável com o de estados como o de Chiapas (sul) ou Michoacán (centro).
As urnas abriram às 11h de Brasília (8h locais), e eleitores compareciam com relativa tranquilidade às chamadas “casillas”, as mesas de votação em espaços públicos e privados, para registrar seus votos em cédulas.
Na capital, votava-se para a chefia do governo local, para a Presidência, a Câmara, o Senado e mais uma porção de cargos locais. O clima era bem distinto do que ocorre em outras regiões do país.
Em um dos centros de votação visitados pela reportagem, uma longa fila se formava com muitos idosos. Os termômetros marcavam mais de 32°C para a felicidade da sorveteria da esquina, e os eleitores compareciam com roupas de manga longa para se proteger do sol e sombrinhas. A Cidade do México vive sua terceira onda de calor neste ano.
Alguns membros da comunidade local convocados para operar a mesa de votação, como manda o sistema eleitoral mexicano, não haviam comparecido naquela “casilla”, e por isso o processo não podia ser iniciado e foi atrasado em 1 hora.
Por isso, membros do Instituto Nacional Eleitoral (INE) buscavam um “jeitinho” de convencer os que estavam na fila a serem voluntários por 550 pesos mexicanos (R$ 170) mais alimentação, kits de sanduíches com maça. Mas a disposição era pouca. “Já temos outros planos para este domingo, não nos programamos”, diziam algumas mulheres.
Até este sábado (1º), o INE, órgão autônomo, havia informado que mais de 220 das “casillas” tiveram de ser fechadas por questão de segurança em todo o país. No total, há 170 mil centros de votação, e mais de 99 milhões de eleitores inscritos para votar.
Isso dificultou a participação de quem queria comparecer às urnas, que assim teve de se deslocar para um centro de votação mais distante de sua casa. O voto no país é obrigatório, segundo a Constituição, mas não há punição para quem não comparecer. Na última eleição presidencial, de 2018, a participação foi de 63,5%.
Há justificativas concretas para o temor sobre a insegurança. Dados preliminares divulgados pela Secretaria de Segurança mostram que este maio foi o mês mais violento do ano, com 2.410 assassinatos em todo o país, média de ao menos 77 assassinatos por dia.
Os eleitores tinham de preencher à mão uma porção de “boletas”, as cédulas eleitorais, uma para cada cargo. Na capital, eram seis. A saber: presidente, Senado federal, Câmara de Deputados, chefe de governo (similar a governador) da Cidade do México, subprefeito da região administrativa onde se vota e Congresso local. Alguns, em especial os mais velhos, mostravam-se confusos com o volume de papéis.
Na fila para votar em um centro esportivo da subprefeitura de Cuauhtémoc, no centro da capital, Maribel Vázquez, 55, diz que se permitiu ter esperança, já que o país terá a primeira mulher presidente. “Por isso, esperamos que seja mais sensível em algumas coisas”, diz ela. “Mas também fica a incógnita do que vai realmente cumprir.”
Vázquez coloca o combate à violência como prioridade. “Quando os filhos vão para a rua, ‘estás con Jesus en la boca'”, diz sobre a sensação de insegurança e medo. Mãe de três filhas que são mães solteiras, ela também as ajuda a criar os quatro netos e estava apressada para voltar para casa. “Essa é a realidade de muitas mulheres no México.”
Nestas eleições estão em disputa a Presidência da segunda nação mais populosa e da segunda maior economia da América Latina, além de todas as vagas da Câmara de Deputados (ou Congresso da União, como é chamado) e do Senado. Também serão escolhidos nove governos de estados, incluindo a Cidade do México, e milhares de cargos locais.
A favorita presidencial é Claudia Sheinbaum, ex-chefe da capital e apadrinhada do incumbente, o populista Andrés Manuel López Obrador. Ela liderou a maioria das pesquisas de intenção de voto e ostentava uma vantagem de cerca de 15 pontos nas sondagens.
A principal concorrente é a ex-senadora Xóchitl Gálvez, indígena que representa uma coalizão histórica de três partidos tradicionais, PRI-PAN-PRD. Ao votar, ela disse que a eleição ocorreu em termos desiguais e que AMLO “se meteu muito na campanha, apoiou sua candidata sempre que pode”.
Analistas políticos dizem que já há dois anos o México está em campanha eleitoral. Isso porque desde 2022 a população já tem alguma ideia de que Sheinbaum seria a candidata governista devido aos múltiplos sinais dados pelo presidente.
Ela representa uma tríade de partidos da situação: o Morena, uma das siglas mais jovens do México, fundada em 2011 por Obrador; o PT (Partido do Trabalho) e o PVEM (Partido Verde Ecologista). A reeleição não é permitida no México, o que força a saída de AMLO do poder.
Para muitos dos votantes o desejo era assegurar a continuidade de políticas das quais usufruem hoje, como para Maria Balcas, 83.
Ela é um dos idosos de mais de 68 anos que sob López Obrador recebem o que o governo chama de bolsa de aposentadoria, que paga cerca de 2.400 pesos mensais (R$ 740) em um complemento da Previdência. Trata-se do principal programa social de AMLO.
MAYARA PAIXÃO / Folhapress