Caiaque cross debuta nas Olimpíadas com Brasil na briga por medalhas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Como parte dos esforços do COI (Comitê Olímpico Internacional) de aumentar a audiência das Olimpíadas e a conexão com um público mais jovem, o breaking e o caiaque cross são as duas modalidades que fazem sua estreia nos Jogos de Paris.

Cada qual a sua maneira —com rodopios ao som do hip hop ou com a disputa entre os caiaques na corredeira—, os esportes dialogam com o rejuvenescimento buscado pelos organizadores das Olimpíadas, que já viu em Tóquio a estreia do skate, do surfe e da escalada.

No caso do caiaque cross, o Brasil chega a Paris com boas chances de medalhas nas categorias masculina —com Pepê Gonçalves— e feminina —com Ana Sátila.

No breaking, o Brasil não terá representantes na França. Dançarinos da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos estão entre os grandes favoritos para o primeiro pódio olímpico da prova.

Supervisor da CBCa (Confederação Brasileira de Canoagem), Denis Terezani explica que o caiaque cross é uma nova prova dentro da canoagem slalom, competição que fez sua estreia nas Olimpíadas em Munique-1972, mas que não voltou a ser realizada até Barcelona-1992, quando regressou de forma permanente.

As provas de canoagem slalom acontecem em dois tipos de embarcação —caiaque e canoa— no modo contra o relógio, com os atletas descendo um por vez corredeiras de até 300 metros de extensão com obstáculos em busca do melhor tempo.

Enquanto no caiaque o remo tem duas pás, com os atletas se posicionando sentados na embarcação, na canoa o remo tem apenas umas pá e o atleta vai ajoelhado.

A grande diferença do caiaque cross é que quatro competidores largam ao mesmo tempo, com os dois primeiros a cruzar a linha de chegada se classificando para a próxima etapa, em provas de mata-mata.

Terezani afirma que a estratégia a ser adotada por cada atleta para superar os competidores e os obstáculos durante o percurso é um ingrediente novo que promete aumentar a emoção das disputas.

“Sou um dos primeiros atletas a acreditar nessa modalidade [caiaque cross], desde antes dela entrar no programa olímpico. É um investimento de tempo que fiz de acreditar na categoria e agora estou colhendo os frutos”, diz Pepê Gonçalves à reportagem. O atleta obteve o melhor resultado do Brasil na canoagem slalom na história das Olimpíadas, com uma sexta colocação no caiaque na Rio-2016.

Ele acrescentou que está no páreo na briga pelo pódio na França, sendo o único atleta em Paris a ter disputado duas finais do caiaque cross nas últimas etapas da Copa do Mundo antes das Olimpíadas. O brasileiro terminou em quarto em ambas. “Isso mostra que estou no meu melhor e que vou buscar essa medalha inédita para o Brasil.”

“A expectativa [para os Jogos] é muito boa, estou muito contente com o trabalho que fiz durante todo esse ciclo, os resultados que tive no início da temporada mostram isso”, diz Ana Sátila, tricampeã pan-americana de canoagem slalom na canoa e campeã do caiaque cross no Pan de Santiago, em 2023. Na última etapa da Copa do Mundo, a brasileira foi prata na canoa.

O caiaque cross “é uma modalidade em que tudo pode acontecer, mas a gente quer estar lá na final e lutar por medalha, como em qualquer outra categoria. Acho que o principal é conseguir dar o meu melhor e representar bem o Brasil”, afirma a atleta.

As provas de canoagem slalom serão disputadas no Estádio Náutico de Vaires-sur-Marne, também conhecido como Estádio da Água Branca, entre 27 de julho e 5 de agosto.

LITUANA DE 17 ANOS É UMA DAS CANDIDATAS A PÓDIO NA ESTREIA DO BREAKING

A cerca de 30 km de distância do local das provas de canoagem, na praça La Concorde, B-boys e B-girls –como são conhecidos os dançarinos de breaking— de todo o planeta estarão rodopiando no chão em busca da primeira medalha olímpica da modalidade, nos dias 9 e 10 de agosto.

Estilo urbano de dança que tem sua origem na região do Bronx, em Nova York, como uma das vertentes da cultura hip hop, o breaking combina movimentos atléticos, incluindo giros e saltos, em batalhas um contra um em que os atletas precisam sincronizar as acrobacias com a música selecionada pelo DJ.

Segundo HP Klinger, atleta e técnico do CT Breakin´Brasil, em Diadema, aspectos como originalidade, técnica, execução e musicalidade estão entre os critérios considerados pelos árbitros para atribuir as notas. Não adianta nada o atleta ser extremamente ágil ou fazer movimentos plásticos, se os passos estiverem desconectados do ritmo da música, explica Klinger.

“O breaking tem o lance cultural, de lifestyle do hip hop, e tem também a parte física, de competição do esporte”, afirma o dançarino, acrescentando que a entrada nas Olimpíadas tende a impulsionar a prática.

Ele diz que notou no CT em Diadema um aumento no público interessado em aprender a respeito da dança nos últimos meses. Lá fica o primeiro centro de treinamento dedicado exclusivamente ao breaking do país, com aulas gratuitas para crianças e adolescentes. “Tem toda essa expansão ocorrendo no esporte, com competidores famosos, ganhando dinheiro com patrocínio, mas sem perder a essência do lado social, de estar nas comunidades.”

O espaço em que será realizada a competição de breaking em Paris é o mesmo que vai abrigar as disputas de skate, duas modalidades que vão de encontro aos esforços do COI de atrair uma audiência mais jovem.

Presidente do COI, Thomas Bach declarou que a inclusão do skate e do breaking “contribuem para tornar o programa dos Jogos Olímpicos mais equilibrado em termos de gênero, mais jovem e mais urbano. Eles oferecem a oportunidade de se conectar com a geração jovem.”

Em Tóquio, o pódio no street feminino —com Rayssa Leal e as japonesas Momiji Nishiya e Funa Nakayama— teve uma média de idade de 14 anos, a menor das Olimpíadas na Era Moderna.

Em Paris, o breaking também promete um pódio formado por atletas bastante jovens. Uma das principais candidatas a medalha é a lituana Dominika Banevič, conhecida como B-Girl Nicka, que tornou-se a mais nova campeã mundial de breaking em 2023, aos 16 anos. Dominika também conquistou o campeonato europeu de breaking no ano passado e completou 17 anos no dia 7 de junho.

Atuais campeões asiáticos, Shigeyuki Nakarai, mais conhecido como B-boy Shigekix, do Japão, de 22 anos, e Liu Qingyi, ou B-girl 671, da China, de 18, também estão entre os favoritos, assim como o atual campeão mundial Victor Montalvo, 30, dos Estados Unidos.

O brasileiro Leony Pinheiro chegou à última etapa do pré-olímpico em Budapeste, nos dias 22 e 23 de junho, ainda com chances de se classificar para Paris. O paraense de Ananindeua, contudo, acabou eliminado na primeira fase e não conseguiu a vaga.

“Infelizmente não deu para trazer a vaga para o Brasil, mas tenho certeza que o recado foi dado. A gente pode! Que os futuros ‘breaks’ brasileiros sintam-se inspirados a fazer melhor”, escreveu Leony no Instagram.

CAIAQUE CROSS

– Em vez de provas contra o relógio, quatro atletas largam ao mesmo tempo, a partir de uma rampa localizada acima da água;

– Competidores precisam completar um percurso de até 300 metros com seis portões a jusante (acompanhando a correnteza) e dois portões a montante (contra a correnteza);

– Os dois primeiros se classificam para a próxima fase;

– 82 atletas disputarão a canoagem slalom em Paris, 41 homens e 41 mulheres, distribuídos em três provas: canoagem slalom, canoa slalom e caiaque cross ou canoagem slalom extremo.

BREAKING

– O breaking será disputado em batalhas um contra um, em palco circular de chão liso que não interfira no movimento dos atletas;

– As batalhas terão um MC (mestre de cerimônia) que convoca os atletas a cada batalha, com cada um se posicionado de um lado do palco;

– O DJ começa a tocar a música para que os dançarinos façam suas apresentações;

– Os jurados avaliam cinco critérios: técnica, originalidade, musicalidade, execução e variedade de movimentos;

– O vencedor é anunciado pelo MC.

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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