Fósseis de anfíbio gigante de 280 milhões de anos são encontrados na Namíbia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muito antes de os dinossauros dominarem a Terra, anfíbios gigantes circulavam livremente pelo planeta. Na Namíbia, no sul da África, foi encontrado um conjunto de fósseis da espécie Gaiasia jennyae, um tipo de salamandra que media cerca de três metros de comprimento, considerada, talvez, o maior predador da época. O crânio do animal já extinto podia chegar a medir 60 centímetros e sua boca era repleta de dentes enormes, de acordo com os pesquisadores.

A descoberta foi detalhada em um artigo publicado no último dia 3 na revista Nature. A espécie é totalmente nova para a ciência —há conhecimento de fósseis de pelo menos quatro indivíduos na região.

Esses animais viveram cerca de 50 milhões de anos antes dos primeiros dinossauros, no final da era Paleozoica, no continente de Gondwana, que hoje formam os territórios da América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica. Seu habitat natural era, possivelmente, as margens de lagos –era um animal de água doce.

Gaiasia jennyae é um espécie arcaica até mesmo para os padrões de sua época, segundo os autores do estudo. O animal pode ter parentesco com organismos que existiram 40 milhões de anos antes de sua época.

A espécie foi nomeada de Gaiasia em homenagem às formações rochosas chamadas de Gai-as, onde os fósseis foram encontrados, e jennyae por causa da paleontóloga inglesa Jennifer Clack (1947-2020), importante referência nos estudos sobre a evolução de tetrápodes.

O achado é importante porque, até então, pesquisadores acreditavam que a região de Gondwana tinha uma biodiversidade pobre. “Era tudo dominado por camadas de gelo, com condições climáticas severas e frias”, descreve Claudia Marsicano, autora do artigo e pesquisadora da Universidade de Buenos Aires. “Um animal desses ter vivido nesse ambiente mostra que a história dos primeiros animais quadrúpedes na Pangea durante o Paleozoico é muito mais complexa do que pensávamos.”

Um animal tão grande quanto o Gaiasia jennyae ter vivido em um ambiente considerado, até agora, hostil, abre a possibilidade para os pesquisadores de que havia uma fauna e uma flora mais diversa.

“Ele era um predador do topo da cadeia alimentar, era um animal grande, então precisava caçar outras populações para se alimentar, dependia de outros animais”, afirma Juan Cisneiros, paleontólogo da UFPI (Universidade Federal do Piauí), que não participou do estudo. “A biodiversidade era mais rica e mais diversa do que pensávamos, mesmo com o frio que fazia na região.”

De acordo com os autores do artigo, o gigante se alimentava de peixes que viviam no mesmo habitat.

Para os cientistas, a investigação impacta a paleontologia porque quase todo o conhecimento sobre o período anterior aos dinossauros vem dos territórios do norte global (Europa, Estados Unidos e Canadá). “Até agora, todo o nosso conhecimento sobre os vertebrados do [período] Carbonífero e do início do Permiano provém de fósseis do hemisfério norte, por isso, Gaiasia preenche uma lacuna importante sobre as faunas de tetrápodes que habitavam as latitudes altas de Gondwana naquela época”, diz Marsicano.

Fora o gigante sul-africano, um fóssil de anfíbio gigante de Gondwana também foi descoberto nos últimos anos, e em território brasileiro. Prionosuchus plummeri viveu na mesma época do Gaiasia jennyae, há cerca de 280 milhões de anos, e é maior animal conhecido daquele tempo. “Ele tinha de 5 a 6 metros de comprimento, um focinho longo, parecido com o de um gavião”, afirma Cisneiros.

Agora, os pesquisadores esperam que a nova espécie traga mais respostas sobre o passado –e, talvez, o futuro– do planeta.

LETÍCIA NAÍSA / Folhapress

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