WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A tentativa feita por Joe Biden de enquadrar democratas parece não ter funcionado. Desde segunda-feira (8), quando o presidente confrontou o partido em defesa de sua candidatura, mais nomes vieram a público pedir que ele se retire da corrida.
Até agora, dez deputados e um senador fizeram um apelo para que o presidente retire sua candidatura. A expectativa é que o número cresça aceleradamente a partir desta quinta (11), quando termina a cúpula da Otan em Washington por respeito ao evento e ao tema de segurança nacional, muitos preferiram permanecer em silêncio nos últimos dias.
Além do temor de o partido perder a Casa Branca para Donald Trump em novembro, pesam no cálculo de deputados e senadores sua própria sobrevivência. O raciocínio é que um candidato fraco à Presidência contamina todos os nomes do partido abaixo dele na cédula.
As defecções se avolumam às vésperas de um momento visto como crucial para a campanha: às 19h30 (horário de Brasília) desta quinta, Biden deve participar de uma entrevista coletiva com jornalistas, algo raro em seu mandato.
A agenda está sendo encarada como uma oportunidade de escrutinar suas condições físicas e cognitivas. Em meio à crescente pressão para que desista, o presidente de 81 anos precisa provar estar apto para exercer o cargo e que o debate foi apenas uma noite ruim, como tem afirmado.
Questionamentos sobre a viabilidade eleitoral devem dominar a “coletiva de menino grande”, como foi chamada pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em alusão ao momento solo entre Biden e imprensa.
Essa tarefa fica ainda mais espinhosa diante dos apelos feitos por aliados na quarta para que ele desista, ou ao menos reflita melhor se sua permanência na chapa do partido é o melhor para os EUA.
O nome mais recente a se juntar a esse grupo foi Peter Welch, o primeiro senador a pedir publicamente que Biden saia da corrida.
“Eu entendo por que o presidente Biden quer concorrer. Ele nos salvou de Donald Trump uma vez e quer fazer isso novamente. Mas ele precisa reavaliar se é o melhor candidato para isso. Na minha opinião, ele não é. Pelo bem do país, estou pedindo ao presidente Biden que se retire da corrida”, escreveu Welch em artigo publicado no Washington Post.
O texto foi ao ar poucas horas depois de George Clooney, um importante apoiador democrata, fazer pedido semelhante em um artigo publicado no New York Times. O ator participou no mês passado de um evento de arrecadação de fundos para a campanha que levantou US$ 28 milhões.
“É devastador dizer isso, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas no evento de arrecadação de fundos não era o Joe Biden do ‘isso é do c.’ de 2010 [elogio feito ao ex-presidente Barack Obama ao promulgar a reforma do sistema de saúde]. Ele nem era o Joe Biden de 2020. Ele era o mesmo homem que todos testemunhamos no debate”, escreveu Clooney.
Completam a debandada desta quarta os deputados Pat Ryan e Earl Blumenauer. Nesta quinta, somou-se à lista a deputada Hillary Scholten. No total, dez democratas da Câmara já pediram publicamente a saída de Biden da corrida.
As declarações seguiram uma entrevista dada pela ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, uma das principais lideranças do partido, em que ela afirmou que o tempo para o presidente tomar uma decisão sobre sua candidatura está acabando algo que foi lido nas entrelinhas como um pedido para ele repensar sua continuidade na corrida.
Outro senador do partido, o representante do Colorado Michael Bennet, não pediu explicitamente a desistência do presidente, mas afirmou que teme uma derrota de lavada em novembro.
Segundo o New York Times, a campanha de Biden encomendou uma pesquisa de intenção de voto simulando o nome da vice-presidente, Kamala Harris, no lugar de Biden. Não está clara, porém, o que motivou essa decisão –se servir de argumento contra ou a favor da continuidade do presidente na corrida.
A campanha democrata já havia antecipado que essa semana seria sensível, com o retorno de congressistas a Washington após o feriado de 4 de julho e a retomada das articulações partidárias. Por isso, Biden partiu para o ataque na segunda e enviou uma carta à sua base para dar a um basta nas especulações sobre sua substituição.
Na terça, as bancadas democratas na Câmara e no Senado tiveram reuniões a portas fechadas separadamente. Congressistas não esconderam suas frustrações com o presidente, mas a mensagem oficial após os encontros foi de apoio ao mandatário, o que deu um alívio momentâneo à Casa Branca.
As novas defecções nesta quarta, porém, mostram que a turbulência está longe de ter sido superada.
Seguindo a estratégia de expor mais o presidente publicamente, para que ele prove ser capaz de cumprir a função sem o auxílio de assessores ou teleprompters, a campanha anunciou uma nova entrevista a um canal de TV, a rede NBC, para a segunda-feira (15), a segunda em duas semanas.
QUAIS CONGRESSISTAS DEMOCRATAS PEDIRAM A SAÍDA DE BIDEN DA CORRIDA
Deputados
Lloyd Doggett (Texas)
Raul Grijalva (Arizona)
Seth Moulton (Massachusetts)
Mike Quigley (Illinois)
Angie Craig (Minnesota)
Adam Smith (Washington)
Mikie Sherrill (Neva Jersey)
Pat Ryan (Nova York)
Earl Blumenauer (Oregon)
Hillary Scholten (Michigan)
Senadores
Peter Welch (Vermont)
FERNANDA PERRIN / Folhapress