Datena desliza em promessas genéricas e se contradiz sobre sua ideologia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sabatinado nesta terça-feira (16), o pré-candidato José Luiz Datena (PSDB) despejou críticas ao seu adversário e atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), mas não respondeu como resolverá os principais problemas da cidade caso seja eleito, enumerando promessas genéricas.

Na entrevista a jornalistas da Folha e do UOL, o apresentador disse, por exemplo, que a segurança pública será seu foco, ainda que essa seja uma atribuição do governo estadual. Ele afirmou que “vai nomear Deus como secretário” e também deslizou em frase sobre “ensinar a pessoa [de baixa renda] a viver em comunidade”. Manteve ainda dúvidas sobre sua candidatura e desviou de perguntas sobre sua ideologia.

Datena tem 11% das intenções de voto na capital paulista e está empatado tecnicamente com o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que marca 10%, segundo pesquisa Datafolha feita entre os dias 2 e 4 de julho. Na frente deles, estão o prefeito Nunes, com 24%, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), com 23%.

Veja cinco declarações do pré-candidato durante a entrevista:

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1. ‘VOU NOMEAR DEUS COMO SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA’

Ao longo de uma hora de sabatina, Datena ignorou diversas vezes perguntas sobre suas propostas para problemas de São Paulo e continuou fazendo críticas à gestão de Nunes. “O que você acha [que eu vou fazer]?”, devolveu ao ser questionado sobre o que faria para resolver a desigualdade. “Se eu sou contra a prefeitura rica e o povo pobre, é raspar o tacho da prefeitura que já ganha muito”, acrescentou.

Sobre a Cracolândia, falou que “vai nomear Deus como secretário de Segurança Pública”. Sobre segurança, afirmou que “todos os atores da segurança pública têm que estar em ação”. Sobre educação, disse que vai “investir o máximo possível, pagar bem o professor”.

Ao final, instado a dizer três metas que vão constar em seu plano de governo, balbuciou e respondeu: “Recolocar essas pessoas que não têm trabalho […], hospitais que atendem e logo em seguida, além do primeiro atendimento, resolvem o seu problema. E, de repente, cuidar da segurança alimentar, porque tem muita gente passando fome em São Paulo”.

2. ‘MEU PRINCIPAL PROJETO É A SEGURANÇA PÚBLICA’

Ao citar essas três metas de sua eventual gestão, o apresentador declarou que “tudo isso faz parte de uma coisa só, que é o meu principal projeto que é a segurança pública”. A prefeitura é responsável pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), que tem entre suas atribuições a proteção do patrimônio público e a ação preventiva, mas a principal responsabilidade é do governo estadual.

O pré-candidato passou mais de dez minutos discorrendo sobre a atuação do crime organizado na cidade e a ação das polícias. Questionado sobre suas propostas práticas sobre o tema, porém, disse apenas que vai “fazer o possível para se sentar com o Tarcísio [de Freitas, governador]”, e “com todos os agentes envolvidos”, incluindo promotores, cientistas e médicos.

“Todos têm que se conversar. Como prefeito eu posso ser uma espécie de intermediário para que eles juntos consigam resolver”, afirmou.

3. ‘VOCÊ TEM QUE ENSINAR A PESSOA [DE BAIXA RENDA] A VIVER EM COMUNIDADE’

Ainda sobre o que faria para reduzir as desigualdades em São Paulo, Datena disse que investiria mais em áreas mais pobres. “Pega o Jockey Club e faz prédio popular. E não adianta fazer só prédio para a pessoa de baixa renda morar. Você tem que primeiro ensinar a pessoa a viver em comunidade, porque ela está tão acostumada a ser maltratada na periferia que de repente vai acontecer a mesma coisa”, declarou.

“Meia dúzia de criminosos vão lá, tomam conta desses empreendimentos, expulsam as pessoas de lá. Tem que ter inclusão social. Se você não tiver inclusão social a pessoa não sabe nem morar num apartamento desse”, acrescentou.

4. ‘EU VOU CONTINUAR NA EXPECTATIVA DE SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO’

Datena manteve dúvidas sobre sua candidatura: “Até que eu faça parte do meio político e passe a ter confiança nos políticos de uma forma geral, eu vou continuar na expectativa de ser ou não ser, eis a questão. Se alguém me sacanear de hoje até o dia da eleição, [a candidatura] vai ficar no meio do caminho também”, disse.

Ele foi lançado pré-candidato pelo PSDB em dezembro, mas já flertou com diferentes políticos de distintas ideologias e integrou outros dez partidos, de variados espectros. Essas movimentações políticas, contudo, acabaram não resultando em candidaturas de fato. “Eu sou o político mais vitorioso da história: eu nunca perdi uma eleição”, ironizou.

5. ‘NÃO ME PREOCUPO [COM A BANDEIRA DOS PARTIDOS]’

Datena ainda desviou de perguntas sobre quais são suas bandeiras políticas e sua ideologia. “Não me preocupo [com a bandeira dos partidos]. Eu acho que os partidos são importantes, fundamentais, ideologia é importante, fundamental. Mas partido se fosse bom não chamava partido, chamava inteiro”, respondeu.

Questionado se era progressista ou conservador, rebateu: “Sou constitucionalista. Eu sou pelo povo brasileiro”. Ele negou ter apoiado a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas disse que também não declarou apoio a Lula. Apesar disso, afirmou que “é óbvio” que o petista é um presidente melhor que o rival. “O melhor governo foi o Lula. Não é à toa que ele foi eleito três vezes”, resumiu.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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