SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Goiás concluiu o inquérito sobre a morte do PM Tiago White e indiciou o irmão dele, Alexandre White, pelo crime, que teria sido motivado após o suspeito ter sido agredido pelo agente na frente de familiares, em 11 de julho. À reportagem, a defesa de Alexandre informou que ele está arrependido e “agiu sem raciocínio” após ter sido “humilhado” pela vítima.
Alexandre vai responder pelo crime de homicídio doloso praticado com arma de fogo de uso restrito e de modo que impossibilitou a defesa da vítima. O inquérito foi concluído na sexta-feira (19) e entregue ao Ministério Público de Goiás nesta segunda-feira (22). Caberá ao órgão dá prosseguimento ao caso e apresentar a denúncia à Justiça estadual.
Suspeito teria agido ao ser agredido pelo irmão na frente de outros familiares. Conforme a investigação, os dois irmãos eram muito unidos, mas no dia do crime eles tiveram uma discussão motivada por questões financeiras de uma pizzaria que tinham juntos em Uruaçu, cidade em que moravam, além de outros assuntos pessoais que não foram expostos.
Vítima e suspeito estavam bêbados no momento do crime. Ainda segundo a investigação, após ter sido espancado por Tiago, Alexandre pegou a arma de fogo do irmão, que era agente da Polícia Militar de Goiás, e disparou contra ele sem permitir qualquer chance de defesa.
Alexandre está “bastante consternado” com o acontecido e agiu “movido tão somente pela humilhação”, disse à reportagem o advogado dele, Martiniano Neto. “As imagens [das câmeras de segurança da casa] e os depoimentos colhidos pelo delegado foram suficientes para elucidar o caso. Alexandre continua preso, aguardando o julgamento do habeas corpus. Ele está bastante consternado com o acontecido. No mais, saliento que Alexandre nunca quis tal resultado, que agiu sem raciocínio, movido tão somente pela humilhação”, afirmou ainda.
ENTENDA O CASO
No dia do crime, Tiago White comemorava seu aniversário e a aprovação em curso da Polícia Militar. Ao final do churrasco de comemoração dos seus 34 anos, que seriam completados no sábado, dia 13, e do ingresso em um curso da PM, Tiago teria aconselhado o irmão mais novo sobre o relacionamento amoroso do caçula com a atual companheira, conforme relataram testemunhas ao delegado do caso, Sandro Costa.
Na sequência, irmão reagiu ao conselho com críticas ao ‘padrão familiar’ do policial. “Possivelmente já influenciado pelo álcool no final do churrasco, começou um assunto familiar. A vítima [Tiago] aconselhou sobre o relacionamento do autor [Alexandre] com a sua companheira e, segundo o próprio Alexandre me relatou no interrogatório, ele teria dito que o padrão familiar do irmão mais velho não seria parâmetro e que, por essa razão, não aceitaria o conselho”, disse Costa à reportagem.
Irmão disse que policial tinha outra família fora do casamento. Argumento usado por Alexandre teria sido exposto em voz alta e próximo à esposa de Tiago, o que teria despertado “a fúria” do PM.
“Isso despertou a fúria da vítima [policial], que agrediu o autor [irmão mais novo]. Tiago era bem forte, um policial de grupo especializado. E o autor, até onde a gente sabe, tinha perfil pacífico e não tinha um porte físico avantajado ou atlético como a vítima. Então, a luta foi basicamente uma agressão da vítima contra o autor, até ele [irmão mais novo] praticamente perder a consciência”, esclareceu o delegado.
Familiares tentaram intervir na agressão. A discussão entre os irmãos e as agressões duraram alguns minutos, até membros da família intervirem e o policial interromper os “socos, chutes e murros” contra o irmão mais novo, ainda segundo Costa.
Quando recobrou a consciência, Alexandre foi até o quarto do irmão e apanhou a arma usada pelo policial na corporação.
“Tiago estava pelo pátio, à beira da piscina, quando seu irmão foi até o quarto, onde possivelmente já sabia que a arma estava, apanhou a arma brasonada, da própria Polícia Militar, e voltou para o pátio. Ali, eles quase se toparam na porta e foi o momento em que o autor apontou a arma e disparou dois tiros, sem conversa, surpreendendo, então, a vítima”, contou ainda o delegado.
Baleada, a vítima caiu na piscina e foi socorrida por familiares. Um dos tiros atingiu o policial na mão e ricocheteou no abdômen e, o segundo, acertou as costas. “Esse último tiro foi supostamente o que causou o óbito e o fez cair na piscina, alvejado”, informou o delegado.
Policial saiu com vida da piscina, mas morreu a caminho do hospital. Antes da chegada dos bombeiros que socorreram Tiago, familiares tiraram a arma da posse de Alexandre. O autor dos disparos teria saído da casa do irmão já com a intenção de se apresentar à delegacia, segundo as testemunhas ouvidas no caso.
‘TINHAM BOA RELAÇÃO’
Irmãos tinham “bom convívio familiar”. Testemunhas ouvidas pelo delegado disseram que Tiago e Alexandre tinham “boa relação”. Os dois trabalhavam juntos em uma pizzaria de Uruaçu, da qual eram sócios, junto com o pai e outro irmão.
“Eles não tinham histórico de má convivência, se davam muito bem, trabalharam juntos (…). Todo mundo reconhece que eles tinham boa convivência. (…) Uns falam que o autor tinha quase um respeito de pai em relação à vítima, que era seu irmão mais velho”, contou Costa.
Tiago era lotado no 18º Comando Regional da Polícia Militar de Goiás e atuava na 7ª Companhia Independente de Policiamento Especializado (CPE) de Uruaçu, além de ser sócio da pizzaria onde trabalhava com a família.
Policial é descrito como “bom militar”. “Trabalhei com ele em algumas ocorrências, nas quais ele se apresentou como um bom militar, como todos aqui do CPE, que é um grupo especializado de Goiás, ao qual são sempre selecionadas pessoas qualificadas tecnicamente”, afirmou Costa.
TIAGO MINERVINO / Folhapress