Tradicional martelo de Tarcísio ficou de fora da privatização da Sabesp

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cerimônia que marcou a privatização da Sabesp aconteceu nesta terça-feira (23), na B3. Mas um detalhe intrigou alguns: a ausência do tradicional martelo com o qual o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) costuma acertar potentes golpes na base do malhete em leilões na Bolsa de São Paulo.

No encerramento da cerimônia nesta terça, o governador tocou a campainha da Bovespa enquanto caía uma chuva de pequenos papéis laminados. A diferença é que a privatização da Sabesp não aconteceu por meio de um leilão tradicional, segundo o Governo de São Paulo. Apenas os leilões, como os de concessão pública, têm o martelo como um símbolo da concretização do negócio.

No caso da Sabesp, a desestatização aconteceu por meio de uma oferta secundária de ações (follow-on), na qual o governo vendeu uma porcentagem de sua participação na companhia a fundos e investidores pessoas físicas (17%) e a um acionista de referência (15%), que foi a Equatorial Energia.

No processo da oferta ocorre o chamado bookbuilding (formação do livro), que é uma espécie de leilão coordenado pelo banco de investimentos contratado pela companhia para os interessados na subscrição das ações. Nesse processo, a ação foi precificada em R$ 67 bilhões, cerca de 20% a menos do que a cotação atual.

Mas não se trata de um leilão tradicional e a B3 faz essa diferenciação nas cerimônias.

Em leilões, ao final, é comum que pessoas que lideraram o negócio participem de um ritual, que envolve segurar o malhete e bater na base. Mas esse momento se tornou uma marca registrada do governador Tarcísio, desde que ele começou a bater o martelo com força.

Em março do ano passado, ao comemorar o fim do leilão para a conclusão das obras do trecho norte do Rodoanel, Tarcísio descolou o símbolo da B3 com as marteladas. Mas brincou que os martelos estão cada vez mais resistentes. “Você vê que não quebra de jeito nenhum”, disse na época.

Diferentemente da privatização da Sabesp, na desestatização da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), a alienação da participação do Estado aconteceu em abril deste ano por meio de um leilão tradicional, com lances feitos por corretoras. Na ocasião, Tarcísio deu três fortes golpes com o martelo no fim da cerimônia.

Durante o evento desta terça-feira, Tarcísio defendeu o modelo de privatização da Sabesp, que foi polêmico e criticado por parte do mercado. Ele lembrou a função social da companhia de saneamento, e disse que a opção por escolher um acionista de referência, que fosse sócio do governo, era para que este se comprometesse a cumprir os objetivos do Estado.

Além de prometer a redução das tarifas, o governo também pretende, com a desestatização, atrair investimentos para antecipação da universalização dos serviços de água e esgoto em São Paulo de 2033 para 2029. Para isso, a previsão é de investimento pela Sabesp de R$ 260 bilhões até 2060, sendo R$ 69 bilhões até 2029.

“Podíamos ter escolhido diversas formas de fazer essa desestatização. E a [secretária] Natália [Resende] disse: ‘escolhemos o caminho mais difícil’. Talvez, mas escolhemos o caminho mais consistente. Nós escolhemos o caminho que vai nos permitir deixar um legado”, declarou o governador.

Sobre o valor mais baixo da ação precificado na oferta, Tarcísio disse a jornalistas, após a cerimônia, que não se preocupa com as críticas de que o governo tenha aberto mão de uma quantia bilionária ao permitir que o preço de venda fosse abaixo da cotação do papel.

“É a maior ordem individual da história da ofertas públicas de ação, ou seja, um cheque de quase R$ 7 bilhões, para uma empresa que está pagando esse valor, mas não tem o controle”, disse Freitas.

“O segundo ponto relevante é o lock-up [regra que exige que a empresa fique com as ações por um período]. É um lock-up de cinco anos. Então, era natural que tivesse um desconto em relação ao valor de tela no dia”, completou.

Ainda segundo Tarcísio, houve valorização da ação após a divulgação do acionista de referência, o que mostra que o mercado aceitou bem esse investidor estratégico. Ele questionou se o valor da ação não estaria menor ao que está hoje se o processo de privatização não passasse por essa escolha do acionista de referência.

Redação / Folhapress

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