Policial bolsonarista que chegou à Alesp com ajuda de Tarcísio vê perseguição na PF

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Danilo Campetti é o soldado ferido que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não deixou para trás –ainda que o resgate tenha demorado quase dois anos.

Agora deputado estadual pelo Republicanos, o policial federal de São José do Rio Preto (SP) tomou posse na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) em 27 de junho após articulação do governador nos bastidores e um acordo com o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Com projetos na área da segurança pública, Campetti, 46, promete levar para um plenário marcado pelo bolsonarismo estridente o estilo mais atenuado de Tarcísio, a quem se refere como “chefe” e diz manter uma relação de “proximidade, lealdade, confiança e amizade”.

“Eu sou bolsonarista, sou conservador, vou defender os princípios e valores conservadores, mas eu tenho o meu perfil, que é bem alinhado ao do governador Tarcísio, e é nesse sentido que eu vou atuar. Sem adjetivações, combatendo ideias e não pessoas”, afirma em entrevista.

A ligação entre eles é evidente. Campetti contratou o cunhado de Tarcísio como assessor especial em seu gabinete.

O agora deputado, por sua vez, seria assessor especial de Tarcísio no governo, como foi no Ministério da Infraestrutura, se a PF não tivesse barrado sua cessão em junho de 2023, o que configurou o primeiro embate entre o Palácio dos Bandeirantes e o governo Lula (PT) e serviu de sinal do que o deputado entende hoje como perseguição da corporação.

Essa história tem início no tiroteio em Paraisópolis (zona sul da capital) que interrompeu uma agenda da campanha de Tarcísio em 2022, ocasião em que Campetti, que acabara de ser eleito segundo suplente no primeiro turno, sacou sua arma e seu distintivo –embora não tenha atirado, segundo ele. Um homem morreu.

No último dia 19, a Polícia Federal indiciou Campetti em um processo administrativo interno que pode levar a sua demissão, acusando-o de ter infringido cinco normas relacionadas àquele episódio.

Antes disso, ele já havia sido suspenso temporariamente pela PF e perdeu seu porte de arma nesse período, o que fez Tarcísio acelerar o processo de abrir uma vaga para aliado na Alesp.

A Polícia Federal afirma que, durante o segundo turno, Campetti se deslocou para a capital antes de ter uma ordem expedida para isso, exerceu a segurança de Tarcísio sem autorização, utilizou sua arma de fogo e insígnia indevidamente e se valeu do cargo de policial para se promover politicamente na eleição, já que usou uma foto fardado e portando fuzil em sua propaganda.

Embora seja um especialista da PF em acompanhar autoridades, com atuação na escolta de Jair Bolsonaro (PL) na campanha de 2018 e de Lula no período de prisão, Campetti diz que não foi segurança de Tarcísio na campanha. Naquele dia, conta, estava de folga e entrou em ação pelo dever como policial.

Campetti também foi alvo de processo na Justiça Eleitoral por supostamente ter usado seus instrumentos de trabalho em benefício da campanha de Tarcísio, o que é proibido. As decisões tanto do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) quanto do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foram favoráveis ao policial.

Ele afirma que “a perseguição da PF” é clara e que o cenário seria diferente se a corporação estivesse sob Bolsonaro em vez de Lula.

“É lamentável que uma instituição como a Polícia Federal seja capturada. Sabidamente, temos uma orientação superior para que culmine com a minha demissão”, diz ele, acrescentando não saber de quem partiu essa ordem.

Campetti, no entanto, não planeja voltar para a polícia, após 24 anos de carreira. “Acredito que essa guinada seja definitiva”, diz ele, que planeja a reeleição em 2026.

Na convenção do Republicanos no mês passado, Tarcísio afirmou no palco que o aliado estava como “pinto no lixo” na Alesp, depois do vaivém para empossá-lo. “Eu realmente estava feliz, foi muito esperado e foi um processo árduo”, diz Campetti.

Em seu primeiro partido e em sua primeira eleição, o policial teve 52,4 mil votos e tornou-se segundo suplente do Republicanos. De início, Tarcísio nomeou a primeira suplente, Coronel Helena Reis, sua secretária do Esporte, mas restava abrir mais uma vaga.

Ainda no ano passado, o governador tentou emplacar Tomé Abduch (Republicanos) em uma secretaria estadual e, neste ano, na gestão Nunes, mas o deputado não topou.

O prefeito, que tem em Tarcísio seu principal cabo eleitoral nesta eleição, abriu espaço, então, para Rui Alves (Republicanos) na Secretaria de Turismo, em uma negociação que levou meses por conta de divergências sobre cargos. Campetti conserva a maior parte do gabinete do antecessor.

No governo Bolsonaro, ele foi chamado para um cargo no Ministério da Agricultura, mas logo migrou para a pasta da Infraestrutura após conhecer Tarcísio na Esplanada.

Mas foi a condição de algoz de Lula e segurança de Bolsonaro que o credenciou a se juntar à campanha do chefe em busca de uma vaga na Alesp. Como a segurança dos candidatos à Presidência fica a cargo da PF, Campetti escolheu atuar com Bolsonaro na eleição de 2018, pois já era bolsonarista naquela altura.

“Bolsonaro acordou a população nesse sentido, até então nós não tínhamos uma direita no Brasil”, opina.

No ano seguinte, Campetti, que havia participado da condução coercitiva e da prisão de Lula, viu uma foto sua acompanhando o petista no velório do neto, em 2019, viralizar por ter usado o emblema da Swat, grupo tático especial da polícia americana, na farda.

“O problema não é o mesmo policial que fez a escolta do Lula ter feito a segurança do Bolsonaro nas eleições. O grave é o engajamento político do policial pró-Bolsonaro. É caso de corregedoria. Vamos tomar providências. E pedir explicações do porquê ostentar o símbolo da polícia americana”, afirmou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, à época.

“A questão do símbolo no meu uniforme é perfeitamente regulamentada na Polícia Federal e é em razão de um curso que fiz junto a Swat de Miami”, diz Campetti.

Ele diz que agiu “institucionalmente” e que suas convicções políticas não interferiram em seu trabalho.

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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