Morre Maggie Smith, que marcou gerações no cinema, no teatro e na televisão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A atriz Maggie Smith, dona de uma carreira prolífica no cinema, na televisão e no teatro, morreu aos 89 anos, nesta sexta-feira.

Entre seus trabalhos mais marcantes, estão “A Primavera de uma Solteirona”, lançado na década de 1960 nos cinemas, “Harry Potter”, que fez sucesso nos anos 2000, também nas telonas, e “Downton Abbey”, feita para televisão na década de 2010.

A informação foi confirmada por seus filhos, Chris Larkin e Toby Stephens, em uma declaração enviada à imprensa britânica. “Ela morreu em paz, no hospital, na manhã desta sexta-feira. Era uma pessoa muito privada e esteve com a família e os amigos em seus últimos dias”, escreveram os herdeiros, que ainda agradeceram à equipe dos hospitais de Chelsea e Westminster pelo “cuidado e gentileza incansáveis”.

PRÊMIOS

Durante sua trajetória, que começou nos anos 1950, Smith ganhou duas estatuetas do Oscar —um por melhor atriz em “A Primavera de uma Solteirona”, e outro por melhor atriz coadjuvante em “California Suite – Um Apartamento na Califórnia”.

No Tony, a principal láurea do teatro, Smith venceu uma estatueta de melhor atriz em 1990, por “Lettice and Lovage”, uma comédia satírica que foi uma das peças que ficou por mais tempo em cartaz em Londres.

Smith também brilhou no Emmy, a premiação mais importante da televisão. Ganhou sua primeira estatueta em 2003, como melhor atriz em “Minha Casa na Úmbria”, e outras três vezes, nos anos de 2011, 2012 e 2016, como atriz coadjuvante em “Downtown Abbey”.

TRAJETÓRIA

Smith nasceu em Ilford, uma pequena cidade próxima a Londres, em 1934, filha de uma escocesa e de um inglês. A carreira daquela que seria uma das maiores atrizes britânicas de todos os tempos começou aos 16 anos, quando ela decidiu estudar atuação em Oxford, onde estreou nos palcos, na década de 1950.

A vontade de ser atriz existia desde a infância. “Não é nem que você particularmente queira ser ator”, ela disse uma vez. “Você tem que ser. Não há nada que você possa fazer para impedir isso.”

Pouco depois de se formar, Smith se juntaria à Old Vic Company, companhia de teatro centenária que fez sucesso no começo do século 20 por suas adaptações das peças de William Shakespeare. Em 1963, ela entrou para o National Theatre e fez peças como “Otelo”, “Muito Barulho por Nada”, “Black Comedy” e “The Country Wife”.

Em 1969, a atriz saltaria do estrelato nos palcos britânicos para a fama mundial, por seu papel em “Primavera de Uma Solteirona”, que lhe rendeu um Oscar. No filme, ela interpreta Jean, uma professora progressista em uma escola para meninas na década de 1930.

Em “California Suite”, de 1978, ela chamou a atenção ao interpretar uma atriz britânica que vai à cerimônia do Oscar com o marido bissexual e tem uma noite decepcionante. Na vida real, no entanto, a noite de Smith na cerimônia daquela premiação foi longe de ser negativa. Ela foi aclamada por Hollywood mais uma vez, ganhando sua segunda estatueta.

Smith ainda foi celebrada por “Viagens Com Minha Tia”, de George Cukor, e “Morte no Nilo”, de John Guillermin, baseado no romance homônimo de Agatha Christie, além de “O Jogo da Verdade”, “Vidas Privadas”, “Noite e Dia”, “O Clube das Desquitadas” e “Chá com Mussolini”.

Mesmo com o sucesso nos cinemas, a atriz nunca deixou de se apresentar no teatro, onde continuou sendo aclamada em peças como “Hedda Gabler”, dirigida por Ingmar Bergman, e “Virginia”, de Edna O’Biren, em que viveu a escritora Virginia Woolf.

Em 1990, Smith recebeu o título de Dama pelo Império Britânico, e na virada do milênio já acumulava prêmios no Oscar, no Tonys, no Globo de Ouro e no Bafta, com outras dezenas de indicações. No entanto, ela diz que ainda podia ir a qualquer lugar sem ser reconhecida.

Em 2001, Smith virou um símbolo da cultura pop e conquistou o imaginário de uma nova geração ao viver a professora Minerva McGonagall, da franquia de “Harry Potter”. Em 2009, ela gravou “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, o sexto filme da saga, em tratamento contra um câncer de mama.

McGonagall usava vestidos de gola alta, um broche distintivo e o cabelo preso sob um chapéu preto de cone. Era uma presença marcante na tela. “Muitas crianças costumavam me cumprimentar, e isso era agradável”, disse Smith em 2015, quando contou que um menino perguntou se ela era realmente um gato, lembrando que sua personagem na série se transformava em um felino.

A televisão foi, para Smith, mais um palco a ser conquistado. Estreou a série “Downton Abbey”, que se tornou a produção de época britânica de maior sucesso, com seis temporadas, na qual viveu Violet Crawley, a viúva do lorde Grantham, que teimava em seguir os costumes vitorianos —detestava a luz elétrica e ridicularizava todos ao redor.

Se já era um ícone para o cinema e o teatro, depois de “Harry Potter” e “Downton Abbey”, Smith se tornou uma superestrela aos 70 anos —motivo de incomodo para uma atriz que sempre preferiu a atenção voltada ao seu trabalho, e não à sua vida pessoal.

“É ridículo. Eu levava uma vida perfeitamente normal até ‘Downton Abbey'”, ela disse à radio Times em 2017. “Ninguém sabia quem eu era.” Mais tarde, Smith expôs seu descontentamento também com assédios que sofria na rua. “Opto por não ir a lado nenhum e, nas ocasiões em que saio, tenho sempre um amigo comigo. É muito difícil quando estou sozinha, porque não há por onde escapar.”

“Sou profundamente grata pelo trabalho em ‘Harry Potter’ e ‘Downton Abbey’, mas não é o que chamaria de satisfatório. Eu realmente não sentia que estava atuando nessas coisas”, afirmou ela à ES Magazine, em 2019.

São palavras de uma pessoa introvertida, que não gostava de assistir às suas próprias performances. “Sempre fico muito aliviada em ser outra pessoa, porque não tenho certeza de quem sou ou qual é a minha personalidade”, disse ela, em 1979, ao The Times.

Em 2018, o sentimento se provou o mesmo, ao ser questionada se os sets de filmagens ainda eram assustadores para ela. “Todos os dias são assustadores”, respondeu Smith, que deixa dois filhos e cinco netos.

ALESSANDRA MONTERASTELLI E PEDRO MARTINS / Folhapress

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