SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar opera em leve alta nesta segunda-feira (30), com os investidores aguardando o relatório de emprego de setembro dos Estados Unidos, que será publicado na sexta (4), e o discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) às 15h, a fim de projetar a trajetória dos juros nos EUA.
Às 11h22, a moeda norte-americana subia 0,42%, a R$ 5,4593, após abrir a sessão em queda. O Ibovespa tem leve queda de 0,08%, a 132.622 pontos.
Na sexta-feira (27), o dólar fechou em queda de 0,15%, a R$ 5,436, e a Bolsa recuou 0,21%, a 132.730 pontos.
Na sexta-feira, a sessão foi embalada pela divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos e pelo anúncio de novas medidas de estímulo à economia da China.
Indicador de inflação mais monitorado pelo Fed, o PCE teve alta de 0,1% em agosto uma desaceleração em relação ao resultado de julho, de 0,2%.
No acumulado de 12 meses, o índice ficou em 2,2%, após marcar 2,5% no mês anterior. Já no núcleo do PCE, que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia, a alta foi de 0,1%, ante projeção de 0,2%.
O BC americano trabalha com um mandato duplo, isto é, olha de perto os dados de inflação e do mercado de trabalho para decidir sobre juros. Enquanto os índices inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta anual de 2%, os números de emprego têm desacelerado a cada nova leitura.
Na última decisão de política monetária, no dia 18 de setembro, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos, com uma redução de 0,50 ponto percentual. A taxa agora está na faixa de 4,75% e 5% e a expectativa do mercado é que o ciclo de alívio se sustente pelas próximas reuniões.
O ritmo dos próximos cortes, porém, está dependente dos números da economia americana. Com o PCE de agosto, as apostas de um afrouxamento maior, de 0,50 ponto, passaram a reunir 52,1% dos operadores na ferramenta CME Fed Watch. As de um corte menor, de 0,25 ponto, concentram os 47,9% restantes.
“O resultado deu sinais de que a inflação está controlada nos EUA, o que reforçou a expectativa de cortes mais agressivos nas taxas de juros pelo Fed”, afirma Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
O dólar costuma se depreciar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana se depreciam. Isso leva operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.
O pacote de estímulos anunciado pela China na semana passada ainda impulsionou a desvalorização do dólar globalmente.
O Banco Central chinês reduziu a taxa de compulsório de bancos em 0,50 ponto percentual, o que deve liberar 1 trilhão de iuanes (R$ 775,94 bilhões) em liquidez para o sistema bancário.
A medida segue a esteira de outros anúncios feitos pelo governo e pela autoridade monetária nos últimos dias. Na quinta, o Partido Comunista chinês prometeu “gastar o necessário” para que o país cumpra a promessa de terminar o ano com um PIB (Produto Interno Bruto) em 5%.
Na terça, foi divulgado o pacote de estímulos à economia mais agressivo desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020, divulgado na terça-feira.
Desde que os anúncios começaram, os mercados globais têm experimentado ganhos devido à expectativa de uma demanda maior por commodities da China, o país que mais importa matérias-primas do mundo.
O efeito do estímulo chinês tem sido mais evidente em mercados emergentes, cujas moedas dependem diretamente do desempenho dos preços das matérias-primas. Com isso, o dólar recuou ante o peso mexicano, o peso chileno e o rand sul-africano.
No Brasil, porém, a indícios de aceleração da inflação e preocupações com as contas públicas frearam maiores ganhos do real.
O IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), conhecido como a “inflação do aluguel”, acelerou a 0,62% em setembro, depois de ter avançado 0,29% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas).
A expectativa de analistas era de que a alta fosse de 0,47%. Com o resultado, o acumulado de 12 meses bateu 4,53%.
Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego brasileira continuou em trajetória de baixa e recuou a 6,6% no trimestre encerrado em agosto, mostrou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam o dado em 6,7%.
“Os dados mostram que a economia brasileira está aquecida e, ao mesmo tempo, que teremos mais pressão na inflação. Será inevitável o Banco Central subir os juros”, avalia João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
A bateria de divulgações chegou em um momento de preocupações renovadas do mercado em relação ao compromisso do governo com o ajuste das contas públicas.
A agência de classificação de risco, Fitch Ratings, afirmou na quinta-feira que a política fiscal atual do Brasil e seus efeitos não estão acompanhando o forte desempenho da economia nacional e que os desafios para o governo federal devem persistir e crescer no próximo ano.
Em evento na sexta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ainda condicionou uma taxa de juros mais baixa à política fiscal.
“Em todos os momentos na história recente brasileira, você ser capaz de cair os juros e conviver com os juros mais baixos está associado a um choque positivo no fiscal. Não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal. Isso é importante”, disse, durante o 1618 Spring Investment Meeting, em São Paulo.
Redação / Folhapress