J.D. Vance se sai melhor que Tim Walz em debate morno de vices nos EUA

WASHINGTON, EUA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um debate morno e estranhamente cordial para esta eleição, o candidato a vice de Donald Trump, J.D. Vance, conseguiu se sair melhor do que seu adversário, Tim Walz, e até do que o cabeça de sua chapa no embate com a democrata Kamala Harris no mês passado.

Ao longo do evento transmitido pela CBS, que aconteceu em um estúdio da emissora em Nova York, o senador republicano por Ohio conseguiu desviar de pontos fracos de Trump e de seu partido, como aborto e política externa, e pressionou o governador de Minnesota em pontos que os eleitores americanos mais criticam o governo, como economia e imigração.

Nesse segundo tema, Vance foi questionado sobre o boato que espalhou, deliberadamente, dizendo que imigrantes haitianos na cidade de Springfield estariam comendo animais de estimação de vizinhos, uma declaração negada repetidas vezes por autoridades locais e considerada racista.

O republicano evitou responder diretamente à pergunta e reforçou a ideia de que a mídia e o Partido Democrata se importam mais com imigrantes do que com cidadãos americanos; segundo ele, o segundo grupo teve “suas vidas destruídas pelas políticas de Kamala Harris”.

Walz buscou pressionar o adversário relembrando que Trump atuou nos bastidores para torpedear uma legislação bipartidária que teria direcionado mais recursos para o combate à imigração ilegal na fronteira dos EUA com o México.

Entretanto, o governador não conseguiu colocar Vance na defensiva no tema, e mesmo quando confrontado com a polêmica política do governo Trump de separar famílias de imigrantes, o senador apenas disse que são as políticas pró-imigração que separam famílias, mas ele se referia às americanas. Em seu raciocínio, imigrantes estão associados ao tráfico de drogas e ao aumento da criminalidade em geral, a despeito do que mostram as evidências.

O primeiro tema do debate foi Israel, um dos poucos em que houve concordância quase completa entre os dois candidatos. Ambos defenderam Tel Aviv contra os ataques desta terça-feira do Irã, realizados depois da invasão do Líbano por tropas israelenses, e não mencionaram as ações do país aliado na Faixa de Gaza, onde mais de 41 mil palestinos já morreram em ataques de Israel, segundo autoridades de saúde locais, sob governo do grupo terrorista Hamas.

Quanto a conversa se voltou para economia, Walz repetiu análises de economistas que afirmam que os planos de Trump de aumentar impostos aumentariam o custo de vida nos EUA. Vance insistiu em uma resposta simples para a investida: “Precisamos parar de escutar especialistas, não vamos resolver esses problemas prestando atenção no que eles têm a dizer. Temos que voltar ao senso comum” –Walz perdeu a deixa e não rebateu a tese do republicano.

Os dois candidatos ficaram na defensiva sobre a questão do aborto, que costuma ser um ponto frágil para o Partido Republicano –pesquisas apontam que a maioria da população americana é contra restrições à interrupção da gravidez defendidas por Trump, Vance e outros membros do partido.

Walz negou que apoiaria um aborto no nono mês de gestação, após ser questionado por uma das moderadoras da CBS. Em seguida, mencionou o chamado Projeto 2025, um plano conservador radical e impopular para um eventual novo mandato de Trump do qual os republicanos tentam se distanciar.

Uma das propostas é a criação de uma espécie de autoridade para fiscalizar abortos. Questionado se apoiaria algo assim, Vance negou e disse ser favorável a dar mais opções a mulheres –um argumento comum do movimento contra o aborto é que as interrupções de gravidez acontecem por falta de apoio e seriam evitadas se esse apoio existisse.

Ao longo de todo o debate, Vance buscou enfatizar suas origens de uma família de classe média baixa no interior dos EUA –uma das primeiras coisas que disse foi uma breve apresentação, buscando se identificar com o eleitor americano médio, e sempre sorrindo ao falar da própria família e dos filhos.

Walz, que tem um perfil parecido e busca se vender como o “tio simpático” e “pé no chão”, não conseguiu passar essa impressão tão bem, graças a uma performance mais hesitante e menos confortável do que a do adversário.

Ainda assim, o confronto foi pautado pela cordialidade, com elogios mútuos em vários momentos e frases como “tenho certeza que o senhor concorda com isso…”. Esse comportamento, em parte, fez com que o debate tivesse menos apelo do que o entre Kamala e Trump, como apontou a mídia americana. Ao fim do evento, Vance e Walz se cumprimentaram e conversam, apresentaram suas esposas, e deram risada –uma cena inédita na campanha eleitoral desse ano nos EUA.

FERNANDA PERRIN E VICTOR LACOMBE / Folhapress

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