Direita em Fortaleza busca moderação, se afasta de Bolsonaro e briga entre si

FORTALEZA , CE (FOLHAPRESS) – Candidatos de direita na disputa pela Prefeitura de Fortaleza buscam moderar seus discursos na televisão e em peças de campanha para atrair um eleitorado mais amplo, enquanto disparam ataques entre si com o objetivo de chegar ao segundo turno das eleições.

Hoje o cenário está indefinido, com quatro candidatos com chances de avançar para a próxima etapa do pleito –dois deles de direita.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada na última quarta-feira (25), André Fernandes (PL) tem 27% das intenções de voto, Evandro Leitão (PT), 25%, Capitão Wagner (União Brasil), 17%, e o atual prefeito, José Sarto (PDT), 15%. A margem de erro do levantamento, contratado pelo jornal O Povo, é de três pontos.

Adversários dos candidatos dizem que os nomes de direita escondem a imagem de Jair Bolsonaro (PL) nas campanhas por causa da rejeição que o ex-presidente tem no estado. No segundo turno de 2022, Lula (PT) ganhou dele com 58% dos votos válidos.

Numa tentativa de atrair um eleitorado mais amplo, os candidatos dessa ala ideológica têm tentando afastar a imagem do bolsonarismo mais radical em seus discursos.

Apesar de os dois criticarem o PT, começaram a se atacar. Nas últimas semanas, o ex-PM Wagner passou a criticar Fernandes, que é deputado federal, em debates e peças de campanha, depois de desidratar nas pesquisas eleitorais e ver o crescimento do adversário.

Fernandes, por sua vez, adotou discurso de que estava sendo “apunhalado pelas costas” pelo ex-aliado, já que o apoiou no passado.

De um lado, Wagner diz que não tem padrinhos políticos na corrida eleitoral e se coloca como o candidato da “mudança segura”, com maturidade e experiência para comandar a capital cearense dialogando com todos e sem radicalização. Ele apoiou no passado Bolsonaro, mas não cita o ex-presidente em suas peças publicitárias.

De outro, André Fernandes, nome apoiado Bolsonaro no pleito, tem adotado tom mais moderado, que destoa de seu perfil combativo na Câmara dos Deputados na oposição ao governo Lula. Ele também não tem usado a imagem do ex-presidente em peças publicitárias.

Bolsonaro participou de uma carreata de motos ao lado de Fernandes no dia 17 de agosto. Nas redes sociais do candidato, só há registros do ex-presidente nesse dia, com cinco publicações -entre vídeos do ato e fotografias.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), outro da ala bolsonarista do PL, esteve em Fortaleza para ato de campanha ao lado de Fernandes no dia 22, momento que também foi registrado nas redes. Em outra ocasião, o candidato do PL publicou vídeo ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

No último debate antes do primeiro turno, na quinta-feira (3), os dois candidatos da direita reforçaram a postura mais moderada e, diferentemente dos outros encontros, não tiveram duros embates. O gesto foi entendido por adversários como uma sinalização de que um pode acabar apoiando o outro num eventual segundo turno.

Houve até mesmo um ensaio de pedido de desculpas de parte a parte. “Queria me dirigir ao candidato André. A maturidade dos meus 45 anos permite entender que, numa disputa dessa, muitas vezes os ânimos se acirram, a temperatura aumenta e a gente ultrapassa certos limites. Estou aqui, como cristão, para reconhecer meus erros e admitir que me excedi”, disse Wagner.

“Aceito suas desculpas e, como bom cristão, peço desculpas também se em algum momento me excedi nesse período eleitoral”, respondeu o candidato do PL.

O ex-PM foi líder de um motim policial entre 2011 e 2012. Essa será a quarta disputa majoritária da qual participa –perdeu as eleições em Fortaleza em 2016 e 2020 e para o governo do estado em 2022. Um de seus jingles tem o mote “faz o coração, faz o coração, chegou a vez do capitão”. Num vídeo de campanha, afirma que “tem que ser um homem de direito, não basta ser de direita”, ao atacar comportamento de Fernandes.

Outra peça publicitária mostra a esposa do candidato, a deputada Dayany do Capitão (União Brasil-CE), falando da mudança de postura do marido.

“Não vou mentir, eu gostava também do Capitão Wagner quando começou tipo ‘pah, pah’, chamava atenção do que estava errado. Mas eu estou amando mais ainda o Wagner que está maduro, mais calmo, mais sereno, com mais mansidão, uma pessoa mais centrada”, diz.

O deputado Danilo Forte, coordenador-geral da campanha de Wagner, disse à Folha que “política é luta pela sobrevivência”, e que faz mais sentido que os candidatos do mesmo campo político ataquem uns aos outros para conseguir votos. Ele afirma que a moderação de Wagner é justificada porque “uma coisa é o palanque, outra coisa é a gestão”.

Fernandes, por sua vez, critica o que classifica como postura de “em cima do muro” de Wagner, chegou a apelidar o adversário de “tapioca” em jingles e se descreve como um candidato contra o sistema e a “velha política”. O mote de sua campanha é “coragem para mudar”, com foco na modernização da capital e apostando na renovação (ele tem 26 anos).

Em caminhada com apoiadores no bairro Planalto Ayrton Senna, na quarta-feira (2), Fernandes disse que sua campanha não atua na polarização entre esquerda e direita, mas afirmou que trabalha pela mudança.

“A nossa campanha não é querer tentar polarizar, não é direita contra esquerda, não é Lula contra Bolsonaro, não é isso. O que está acontecendo é que de um lado tem os mesmos de sempre. Do outro, estamos nós para mudar”, afirmou.

Apoiadores carregavam algumas bandeiras com fotografias de André e Bolsonaro, mas elas não eram a maioria. Também havia adesivos com imagem do ex-presidente. No debate na quinta, Fernandes foi provocado ao menos quatro vezes a falar do apoio de Bolsonaro, mas silenciou e não citou o nome do padrinho político.

Eleito deputado federal mais votado do Ceará, Fernandes tem visto adversários usarem sua atuação na Casa para atacá-lo, ao citar, por exemplo, que ele votou contra o projeto de lei que garante igualdade salarial entre homens e mulheres.

O deputado também foi um dos parlamentares investigados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em razão dos atos golpistas de 8 de janeiro. Um integrante da campanha do bolsonarista minimiza a mudança de perfil do candidato e diz que ele teve que se adaptar ao formato da televisão, que é diferente do mundo digital, com o qual ele está acostumado.

VICTORIA AZEVEDO / Folhapress

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