Dólar sobe e Bolsa cai, com estímulos decepcionantes na China e sabatina de Galípolo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta terça-feira (8), em dia embalado pela decepção dos investidores com os estímulos econômicos da China e pela sabatina de Gabriel Galípolo no Senado Federal.

Às 11h13, a moeda subia 0,62%, cotada a R$ 5,520, em linha com a força da divisa americana em mercados emergentes. Já a Bolsa perdia 0,60%, aos 131.218 pontos, pressionada pela forte queda da Vale e da Petrobras.

De volta de um feriado de uma semana, a China detalhou algumas medidas de estímulos fiscais nesta terça-feira, parte de um pacote de incentivos que visa colocar a segunda maior economia do mundo de volta aos trilhos.

Em entrevista coletiva, o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zheng Shanjie, afirmou que o governo chinês planeja usar 200 bilhões de iuanes (US$ 28,3 bilhões) em gastos orçamentários antecipados e projetos de investimento a partir do próximo ano.

O país também acelerará os gastos fiscais e “todos os lados devem continuar se esforçando mais” para fortalecer as políticas macroeconômicas, acrescentou.

“O mercado internacional está volátil, o protecionismo comercial global se intensificou e os fatores de incerteza e instabilidade aumentaram. Isso terá um impacto adverso na China por meio de comércio, investimento, finanças e outros canais”, disse Zheng.

O anúncio foi um banho de água fria para os investidores. “Ficou bem abaixo do esperado. O mercado se decepcionou, e, então, o mal humor se espalhou no exterior, em especial nas commodities”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Em um esforço para reverter a desaceleração da economia, a China anunciou o pacote de estímulos mais agressivo desde a pandemia. A notícia instalou um frenesi entre os operadores, sobretudo por indicar que a demanda por commodities teria um novo impulso entre os chineses.

Quando anunciadas, antes do feriado de uma semana que fechou os mercados, as medidas levaram à disparada do minério de ferro e do petróleo, e, por consequência, atraíram investidores a mercados exportadores, como o Brasil.

A expectativa de mais apoio fiscal, porém, foi frustrada com as falas de Zheng. “Até agora, a coletiva de imprensa da comissão parece não ter dado muitos detalhes com relação às medidas de estímulo. As expectativas foram elevadas, mas a entrega foi decepcionante”, disse Christopher Wong, estrategista cambial da OCBC.

Com isso, os contratos do minério de ferro na Bolsa de Dalian perderam 2%, e os preços do petróleo Brent, referência no exterior, ainda tinham desvalorização de mais de 3%. Isso, no mercado de câmbio, levava o dólar a se valorizar sobre moedas de mercados dependentes do desempenho de commodities, como o real, o rand sul-africano e o peso chileno.

Já na Bolsa brasileira, o reflexo era no derretimento das ações da Vale (-3,20%) e de pares do setor de mineração e siderurgia. Petrobras ainda perdia 2,20%, ajudando a empurrar o índice para baixo.

Na cena corporativa, o destaque positvo era a disparada de quase 20% das ações da Azul, em resposta ao acordo com arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos. A empresa trocou de cerca de R$ 3 bilhões em obrigações de dívida por emissão de novas ações.

Também no radar dos investidores está a sabatina de Gabriel Galípolo no Senado Federal. O atual diretor de Política Monetária do BC (Banco Central) foi indicado para assumir a presidência da autarquia no fim do ano, no lugar de Roberto Campos Neto.

O mercado monitora de perto das falas de Galípolo, na expectativa de antever a postura que será adotada por ele no comando do BC.

Ele afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lhe garantiu total liberdade para tomar decisões à frente do cargo, privilegiando o interesse do povo brasileiro.

“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões, e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro”, afirmou.

“Que cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro”, acrescentou.

A equipe da XP, em relatório enviado a clientes, espera que Galípolo seja aprovado à presidência do BC sem grandes obstáculos.

Outro fator de relevância para os ativos globais tem sido a escalada de conflitos no Oriente Médio.

Desde terça-feira (1º), o mundo —e o mercado financeiro— tem estado em alerta para uma possível guerra generalizada na região. O Irã, em retaliação às ofensivas de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano, disparou cerca de 200 mísseis contra Israel, que já prometeu uma resposta.

A possibilidade de um ataque ao Irã, um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, tem levantado temores de uma diminuição da oferta da commodity. Na semana passada, a cotação do barril do Brent, referência do mercado externo, disparou, e, hoje, ultrapassou US$ 80.

Olhando para o mercado doméstico, a alta do petróleo no exterior costuma favorecer o real ante o dólar, já que o Brasil é exportador da commodity.

“Apesar de os mercados observarem agora uma desaceleração mais lenta na taxa de juros dos EUA, a redução dos conflitos geopolíticos deve reaquecer o apetite por risco, favorecendo principalmente as moedas emergentes e países exportadores de commodities”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

A semana ainda guarda dados de inflação do Brasil, na quarta-feira, e dos Estados Unidos, na quinta, cruciais para calibrar as expectativas dos investidores sobre as próximas decisões de juros.

Redação / Folhapress

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