SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Embora não seja invenção nova, a IA (inteligência artificial) se popularizou, principalmente com a criação do ChatGPT, da Open AI. Tamanha visibilidade traz consigo uma demanda de pessoas qualificadas e que promovem conscientização sobre o uso da ferramenta. É o que tenta fazer Heloisy Pereira Rodrigues, 24, a primeira mulher a se formar no curso de Inteligência Artificial no Brasil, na UFG (Universidade Federal de Goiás).
Nascida em Ceres, interior de Goiás, Heloisy se mudou para Goiânia para cursar o ensino médio, inicialmente aspirando seguir carreira na medicina. Contudo, ela foi aprovada em odontologia, iniciou o curso, mas não se identificou. Durante a formatura de sua irmã na UFG, Heloisy descobriu a criação do curso de Inteligência Artificial, o primeiro do país, e decidiu tentar.
Algumas coisas a deixaram segura nessa mudança de rumo: o mercado de trabalho promissor, sua afinidade com exatas e o fato de ela não ser tão alheia à tecnologia. Gostava de computador, mas o usava para questões normais e, como qualquer outra criança em sua época, jogava Habbo o dia inteiro.
Heloisy diz que compara a sua trajetória com a de outras amigas que quase não mexia no computador. “Eu sei que eu tenho muito mais afinidade do que elas, então isso também me deu uma tranquilizada quando eu descobri a área”, diz.
Além disso, ela destaca o apoio da família como essencial em sua jornada. No primeiro semestre da faculdade, Heloisy conta que se destacou: fechou todas as matérias com média alta, e foi convidada a participar de projetos de pesquisa. No curso, ela já desenvolvia projetos remunerados, o que mostrou a ela como o mercado é atrativo, já que empresas contratavam estudantes no início da graduação.
Heloisy não foi a única mulher a entrar no curso, mas a única a se formar –de 40 pessoas, 15 terminaram. “Eu sabia que seriam poucas, justamente pelo ambiente de tecnologia”, diz. Existe uma baixa representação feminina em cursos de exatas e um afastamento de mulheres de profissões da área, segundo estudos. Foi durante a colação de grau, em 2024, que a ficha de Heloisy sobre o assunto caiu.
“Algumas calouras que tinham recém-entrado no curso viraram para mim e disseram: ‘Nossa Heloisy, você é minha inspiração'”, conta. “Foi algo que eu nem imaginava e que eu fiquei tão grata de escutar porque justamente quando você olha para essas áreas de tecnologia e vê que quase não tem mulher, você fica com aquele receio, nossa será que eu vou dar conta de estar nesse ambiente predominantemente masculino?”
A presença de mulheres no curso, afirma, tem aumentado. Quando ela entrou, diz que havia 10% de mulheres na sala e agora a proporção está em 25%.
Logo após se formar, no final de 2023, Heloisy abriu uma startup voltada para IA em teleatendimento. “A gente quer fazer com que os humanos voltem a desenvolver tarefas de humanos e não tarefas repetitivas, tarefas maçantes, que isso cabe muito à máquina fazer”, afirma. A empresa é reflexo do seu desejo de trabalhar com processamento de linguagem e um desenvolvimento mais humano da inteligência artificial.
VITÓRIA MACEDO / Folhapress