Brics não vão discutir Ucrânia, diz chanceler do Brasil

KAZAN, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – A Guerra da Ucrânia não será, como seria previsível, tema da reunião do Brics em Kazan, na Rússia. “O tema é a cooperação dos Brics”, disse o chanceler brasileiro, Mauro Vieira.

O anfitrião do evento, Vladimir Putin, determinou a invasão do vizinho em 2022, e o tema portanto é tabu. Dos membros fundadores do bloco, só o Brasil havia condenado a guerra quando a ONU votou resolução sobre o tema, dias depois do início do conflito.

Dos novos membros admitidos neste ano, egípcios e emiratis também condenaram Moscou. Em comum, contudo, todos são contra o regime de sanções ocidentais a que a Rússia está sendo submetida e mantém boas relações com o Kremlin.

Na reunião de 2023 do grupo, na África do Sul, Lula fracassou em tentar trazer o tema à mesa. Após ser duramente criticado por equivaler Putin a Volodimir Zelenski e a sugerir concessões a Kiev, o presidente se recolocou no tema aderindo ao esforço chinês de promover uma cúpula de paz. O processo está parado, e não deve ser debatido em Kazan.

Vieira chegou à cidade russa, uma joia com 1.019 anos de história às margens do rio Volga, na tarde desta segunda (21, manhã no Brasil). O chanceler substitui o presidente Lula (PT), que desistiu de viaja por recomendação médica, após bater a cabeça em uma queda doméstica.

O chanceler minimizou a ausência do chefe. “A participação do Brasil é sempre igual. Vamos tratar dos próximos passos do Brics”, afirmou.

Sem Lula, contudo, as reuniões bilaterais previstas com chefes de Estado foram desmarcadas. O petista já tinha horários com Putin, com o chinês Xi Jinping e com o novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian.

No Itamaraty, ainda que a boa relação com os iranianos seja uma pedra de toque desde os dois primeiros mandatos de Lula, houve quem celebrasse em termos pragmáticos a ausência de Lula. O Irã, afinal, está na linha de frente contra Israel e os Estados Unidos na corrente guerra no Oriente Médio. A teocracia é aliada de russos e chineses.

A diplomacia brasileira é minoritária em seu esforço para que o Brics não seja um clube de inimigos do Ocidente, ao mesmo tempo em que o defende como instrumento de multilateralismo.

Vieira repassou rapidamente os temas da cúpula, como a adoção de países parceiros, e disse que “todos os países que se inscreveram” para futura admissão como membro efetivo serão avaliados, como a Venezuela.

A questão sobre o vizinho mirava o fato de o governo Lula estar com a relação abalada com seu aliado Nicolás Maduro desde que o ditador fraudou a eleição em que foi reconduzido ao cargo, neste ano. O Brasil não reconheceu a vitória de nenhum dos lados, mas sabe que o venezuelano não irá ceder e considerar um novo pleito.

A entrada da Venezuela e da Nicarágua, que está rompida com o Brasil, é desejada pela Rússia, que tem nas duas ditaduras aliadas no quintal geopolítico de Washington. O caso de Caracas é visto por diplomatas como problemático, pois a relação de Putin com o regime é antiga e muito próxima.

“O Brics, com a expansão, é um processo em formação”, disse. Esta 16ª reunião anual do bloco é a primeira com os seus quatro novos integrantes: Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia. Eles foram aceitos, ao lado de Argentina e Arábia Saudita, na reunião passada, por pressão da China.

Os argentinos pularam fora após a posse de Javier Milei, que se posiciona no polo americano da Guerra Fria 2.0, e os sauditas não consumaram até agora a participação, sendo tratados como membros mesmo sem estar nas discussões —algo que tem a ver com a presença dos rivais iranianos no bloco.

Vieira não quis adiantar quais membros poderão ser aceitos como parceiros. “Tudo vai ser discutido com os chefes de Estado”, disse, na reunião plenária de quarta-feira (23). Nela, Lula deve participar por meio de videoconferência ou enviando uma mensagem gravada.

IGOR GIELOW / Folhapress

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