Putin retoma 1/3 do território invadido pela Ucrânia na Rússia

KAZAN, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – Quase três meses após a surpreendente invasão ucraniana da região meridional russa de Kursk, as forças de Vladimir Putin já retomaram um terço do território ocupado. A situação redobra a pressão sobre o presidente Volodimir Zelenski, o fiador do ataque ao vizinho que o invadiu em 2022.

A estimativa foi feita à Folha por analistas militares russos e diplomatas ocidentais a par da situação. Oficialmente, Kiev diz que ainda mantém controle sobre os cerca de 1.000 km2 que havia tomado desde o começo de agosto, mas a realidade em solo parece distinta.

Mesmo observadores ucranianos, como os que alimentam o site DeepState, apontam as dificuldades para Zelenski. O questionamento sobre a sapiência da decisão de invadir Kursk já estava colocado desde seu começo, mas agora os sinais apontam para o esgotamento da tentativa.

O presidente ucraniano deu algumas versões para sua iniciativa, que gerou uma humilhação a Putin e alguma pressão doméstica, já que o país não via tanques estrangeiros entrarem em suas fronteiras desde que Adolf Hitler o fez em 1941.

Primeiro, disse que queria tomar prisioneiros de guerra para trocar pelos seus em mãos russas. Essas operações seguem, mas com mediação externa: Emirados Árabes, Qatar e o Vaticano figuram como principais atores humanitários. Não há indício de mudança de ritmo devido a Kursk.

Depois, Zelenski falou que tomar a região obrigaria Putin a negociar. Ocorreu o contrário: as conversas que haviam avançado rumo a algum tipo de trégua, lideradas principalmente pela China, empacaram.

Nesta segunda (21), isso foi colocado em palavras públicas pelo embaixador da Rússia na ONU, Vassíli Nebenzia. “A aventura em Kursk apenas atrasou as perspectivas de uma solução pacífica”, afirmou à agência de notícias russa Tass.

Na mesma reportagem, a Tass trouxe números do Ministério da Defesa segundo os quais 260 ucranianos foram mortos em Kusk nas últimas 24 horas. As baixas envolveriam 25 mil militares, entre mortos e feridos, um número que é impossível de ser verificado.

Isso dito, os relatos de falta de mão de obra bélica no lado ucraniano se multiplicam, assim com os avanços da Rússia no leste do país. Segundo imprecisas últimas contas divididas pelas mesmas pessoas que avaliaram a situação de Kursk, Putin controla praticamente a totalidade de Lugansk, 60% de Donetsk e 75% de Kherson e Zaporíjia.

Essas quatro regiões foram anexadas pelo russo em 2022, mesmo sem o controle total. Putin já disse que sua total incorporação é uma das condições, ao lado do desarmamento e neutralidade de Kiev, para acabar com a guerra. Zelenski, com o apoio do Ocidente, rejeita qualquer perda territorial e ainda quer a Crimeia, incorporada pela Rússia em 2014, de volta.

Zelenski quis mostrar ao Ocidente que tinha capacidade de operar na Rússia para além dos já bem-sucedidos ataques com seus drones a bases militares e refinarias. Mas não convenceu líderes como o americano Joe Biden a lhe permitir empregar armas ocidentais contra alvos distantes dentro da Rússia.

Por ora, ficou com mais promessa de apoio e, nesta segunda, viu os EUA enviarem seu secretário de Defesa, Lloyd Austin, a Kiev com um pacote de US$ 400 milhões (R$ 2,3 bilhões hoje) de ajuda militar extra.

A tática do Kremlin em Kursk foi a de contenção inicial do ataque, sem o envio de reservas significativas ou de forças que estavam em ação na Ucrânia, como também disse desejar Zelenski. Agora, com o atrito cobrando mais de quem tem menos recursos humanos à mão, lentamente os russos retomam áreas.

No campo de batalha ucraniano, a Rússia voltou a atacar com mísseis e drones o país. Houve ao menos uma morte em Zaporíjia (sul), enquanto Kiev e Odessa tiveram danos registrados.

SEUL COBRA MOSCOU POR SOLDADOS DE KIM

Em outra frente da guerra, a Coreia do Sul convocou o embaixador russo em Seul para explicar a questão do emprego de tropas de Pyongyang na guerra.

Há três dias, a agência de espionagem sul-coreana disse que a ditadura de Kim Jong-un havia decidido o envio de ao menos 12 mil soldados para servir junto a forças de Putin na Ucrânia. Mil e quinhentos deles já estão em treinamento, segundo Seul.

O Kremlin não tem comentado o assunto, deixando-o sem resposta, o que sinaliza talvez alguma verdade na acusação. Neste ano, Putin e Kim assinaram um pacto de defesa mútua que agora está sendo regulamentado.

Se for verdade, seria o primeiro emprego de tropas regulares de um terceiro país no conflito —há mercenários e consultores militares do Ocidente na Ucrânia, mas não envio de contingentes. Nesta segunda, o novo secretário-geral da Otan, o holandês Mark Rutte, disse que a hipótese implicaria uma escalada grave no conflito.

IGOR GIELOW / Folhapress

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