Diretoria da Fundação Saúde é exonerada após doação de órgãos com HIV no RJ

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foram exonerados nesta segunda-feira (21) todos os membros da diretoria da Fundação Saúde, empresa pública do Rio de Janeiro responsável pelo contrato com o PCS Lab Saleme, laboratório investigado por emitir laudos com falso negativo para HIV que resultaram na infecção de seis pacientes transplantados.

Por meio de nota, o governador Cláudio Castro (PL) informou que aceitou a renúncia da diretoria e que a medida “amplia a transparência e assegura que não haja interferências nas apurações já determinadas pelo Governo do Estado”.

Informou também que em breve será anunciada uma nova diretoria. Dentre os membros demitidos estão o estão diretor-geral da fundação, João Ricardo da Silva Pilotto.

No domingo (20), a bióloga e coordenadora técnica do laboratório PCS Lab Saleme, Adriana Vargas dos Anjos, foi presa por suspeita de envolvimento na emissão dos laudos com falso negativo para HIV.

Anjos foi presa em casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e levada para a Decon (Delegacia do Consumidor), na Cidade da Polícia, zona norte do Rio.

A coordenadora foi acusada por funcionários de ter dado ordem para economizar no controle de qualidade. O advogado Leonardo Mazzutti Sobral, que representa a bióloga, afirmou que ela “não recebeu e tampouco emitiu qualquer ordem para reduzir a periodicidade de atos relativos a controle de qualidade”.

Segundo as investigações, houve uma falha operacional no controle de qualidade aplicado nos testes, com o objetivo de diminuir custos. A análise das amostras deixou de ser realizada diariamente e se tornou semanal.

A coordenadora do laboratório PSC Saleme já tinha sido ouvida pela polícia sobre essa suspeita. No depoimento, ela declarou que o controle de qualidade dos equipamentos era feito diariamente por sua orientação e que ela nunca ordenou que fosse semanal.

Ainda segundo a declaração de Anjos, o controle era feito pelos técnicos Ivanilson Fernandes dos Santos e Everaldo Medeiros Dias. Ambos afirmaram à polícia que a ordem para economizar no controle de qualidade no laboratório teria sido da bióloga.

Ivanilson Santos foi preso na segunda-feira (14). Além dele, estão presos os técnicos Cleber de Oliveira Santos e Jacqueline Iris Bacellar de Assis, e o ginecologista Walter Vieira, um dos sócios. Nenhum dos envolvidos assumiu a culpa pelos erros nos exames.

Paciente que recebeu órgão infectado por HIV é internado no Rio

Um dos pacientes que recebeu órgãos infectados por HIV está internado desde domingo (20) no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro. O homem de 75 anos recebeu um fígado em maio.

Segundo um dos familiares, que preferiu não se identificar, o homem está internado no CTI (Centro de Terapia Intensivo) e intubado. Na sexta-feira (19) e no sábado (20), ele havia apresentado em casa quadro de cansaço e saturação baixa de oxigênio.

Os filhos acionaram, no domingo, equipes da secretaria estadual de Saúde, que montou um gabinete de crise para atender aos transplantados.

A família afirma que médicos investigam quadro de pneumonia e descartam relação direta com o fígado recebido. Procurada, a Fiocruz não respondeu até a publicação da matéria.

O homem soube do órgão infectado no dia 8 de outubro, após uma bateria de exames realizada a pedido da médica responsável pelo transplante. Àquela altura o caso já havia chegado à secretaria estadual de Saúde. A imprensa divulgou a história três dias depois, no dia 11.

As seis pessoas infectadas com o vírus a partir da doação de órgãos contaminados vão precisar de acompanhamento médico constante e por toda a vida.

Caso não tenha sido identificada a infecção por HIV de forma precoce e iniciado o tratamento correto com antivirais, a doença pode dificultar a recuperação desses pacientes.

LAIZ MENEZES / Folhapress

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