Boulos responde a Marçal em sabatina, acata propostas, é cobrado a manter nível e ignora laudo falso

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) participou de sabatina organizada pelo influenciador Pablo Marçal (PRTB) na tarde desta sexta-feira (25), acatando propostas do ex-coach, que teve 28% dos votos no primeiro turno, e fazendo acenos para seus eleitores.

O parlamentar não citou laudo falso apresentado por Marçal na campanha para associá-lo falsamente ao consumo de drogas, e foi cobrado pelo influenciador a “manter o nível” quando citava denúncias da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Nunes também foi convidado para o evento, mas se recusou a participar. “Eu liguei aí no seu celular, Ricardo, mandei mensagem você visualizou. Espero que você também participe”, afirmou Marçal no início da conversa.

O influenciador também pediu que seus seguidores comentassem na transmissão online frases como “chega aqui, Nunes”, e parabenizou Boulos pela “coragem” de comparecer à sabatina.

Boulos voltou a dizer que aceitou participar da conversa, tratada por Marçal como uma “entrevista de emprego”, porque nunca fugiu de nenhum embate. “Se fosse levar para o pessoal, eu seria a última pessoa a aceitar esse convite, até pelos ataques da sua candidatura. Mas não me movo por mágoa, ressentimento, e sim por um propósito”, afirmou.

“Goste ou não, você teve mais de 1 milhão e 700 mil votos dos paulistanos. A maioria das pessoas que votaram em você quer a mudança. Governando para São Paulo, vou ter que governar para todos, até para os que votaram em você.”

Boulos se referiu a Marçal como “cara” ao longo da sabatina. Já o ex-coach o chamou sempre de “Guilherme”, deixando de lado apelidos usados no primeiro turno, como “Boules”.

No meio da conversa, o influenciador interrompeu Boulos no momento em que ele citava denúncias contra Nunes e pediu para o candidato do PSOL “manter o nível”. Marçal se referia às regras da sabatina, algo que o ex-coach muitas vezes não respeitava ao longo dos encontros do primeiro turno.

O influenciador questionou Boulos sobre sua alta rejeição. O deputado falou de forma genérica sobre fake news na campanha, mas sem citar os casos mais graves contra ele no primeiro turno, ambos proporcionados por Marçal —o laudo falso sobre um atendimento psiquiátrico por uso de drogas que nunca ocorreu e as afirmações de que ele seria viciado em cocaína.

“A rejeição tem a ver com duas coisas. Primeiro, nunca fiquei em cima de muro. Quem tem menos rejeição no Brasil é o centrão, porque nunca toma lado e está em todos os barcos”, disse Boulos.

“Segundo, tem a ver também com mentira. Quanto me atacam com mentiras sobre minha vida, nem sempre a verdade chega tão rápido como a mentira. Fui ouvir as pessoas, uma disse que nunca trabalhei, outras que eu invadi casa, e outros que não fiz nada como deputado. E eu explicava, e a gente conseguia quebrar a rejeição e virar votos”, completou Boulos.

O ex-coach também perguntou por que o parlamentar nunca prosperou, por não ter enriquecido ao longo da vida. “Ser professor não dá dinheiro, você faz por vocação, por acreditar. Eu fazia o que gostava, minha família nunca passou necessidade. Prosperidade para mim não é apenas cifrões na conta bancária. O que defendo é que todo mundo possa prosperar, cada um do seu jeito”, respondeu Boulos.

Marçal questionou ainda o que seria de São Paulo se as empresas não existissem. O deputado respondeu que elas têm um papel decisivo para gerar empregos e afirmou que o período em que elas mais prosperaram foi em governos como o do presidente Lula (PT), tentando desconstruir o medo do comunismo associado à sua imagem.

Boulos admitiu na live que incorporou propostas de Marçal como, por exemplo, as escolas olímpicas. E também defendeu a educação financeira nos colégios, uma das promessas de Marçal enquanto candidato.

Como estratégia para conter seus índices de rejeição, a campanha de Boulos mapeou eleitores de Marçal, sobretudo aqueles espalhados pelas regiões periféricas de São Paulo, para entrevistá-los e coletar quais as suas aspirações.

Entre os grupos que mais chamou atenção estão os autônomos, empreendedores nas periferias “como a boleira e a manicure”, motoristas de aplicativos, taxistas e motoboys.

Questionado sobre sua opinião sobre personalidades, Boulos criticou Tarcísio e Nunes. “O Tarcísio se elegeu em cima do Bolsonaro. Ele está há dois anos no governo, e o que ele fez foi vender a Sabesp, que pode virar a Enel da água agora”, afirmou Boulos.

“O meu adversário agora não é o Ricardo Nunes. Ele é um fantoche do Tarcísio, um cara inseguro. Não vou usar palavras porque você pediu para manter a regra.”

Boulos também foi perguntado sobre o papel do poder público no incentivo ao empreendedorismo, pauta central do programa de governo proposto por Marçal. O parlamentar respondeu que as pessoas que querem se tornar empreendedoras precisam ser valorizadas pela gestão municipal. “A prefeitura não vai aparecer só para cobrar boleto, como é na gestão Nunes”, disse.

O deputado ressaltou ainda, em outro aceno aos eleitores do influenciador, que os dois defenderam no primeiro turno levar empregos para a periferia. “Aquele trabalhador que quer virar empreendedor, o governo tem que dar oportunidade para ele”, disse.

A sabatina é dividida em três blocos. Marçal assume o papel de mediador e terá liberdade para fazer comentários e ponderações durante cada resposta.

A live teve momentos de descontração, embora Boulos tenha começado com o semblante tenso. Em um momento, Marçal disse que assim como hoje existe “Lula ou Bolsonaro” vai ter “Marçal ou Guilherme”. Boulos sorriu.

Ao longo da campanha, o candidato do PSOL foi um dos principais alvos de ofensas, factoides e mentiras divulgadas pelo autodenominado ex-coach, incluindo a divulgação de um laudo falso sobre uso de cocaína.

No primeiro turno, por exemplo, disse que suas filhas choraram ao ouvirem acusações contra o pai e que acusações de Marçal tentam ferir sua família, sua história e sua reputação.

Agora, atrás nas pesquisas do 2º turno, o deputado federal afirma que seu objetivo é dialogar com os eleitores do influenciador.

Nunes disse nesta quinta-feira (24) que a ida de Boulos à sabatina de Marçal é fruto de desespero pelo fato de estar atrás nas pesquisas de intenção de voto.

O desafio foi lançado por Marçal na manhã de quarta (23) em suas redes sociais. “Eu chamo sem gracinha, sem diferenciação, fazer perguntas contundentes, falar aquilo que o povo quer falar. (…) Se um aparecer ou os dois aparecer [sic], o pau vai quebrar”, afirmou em vídeo.

Ainda na quarta, Boulos disse que aceitava o convite e que não tinha medo do diálogo, e aproveitou para criticar a ausência de Nunes em outros debates.

ANA LUIZA ALBUQUERQUE E CARLOS PETROCILO / Folhapress

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