Com Beyoncé, Kamala tenta recuperar empolgação do início de sua campanha

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Quando substituiu Joe Biden na chapa democrata, Kamala Harris disse que a marca da sua campanha seria a da alegria. A entrada da vice-presidente na corrida reenergizou o partido, que vivia tempos sombrios diante da perspectiva de uma derrota quase certa para Donald Trump.

Às vésperas da eleição, a empolgação passou, e a campanha se vê novamente à sombra de um desfecho trágico em novembro.

Na tentativa de recuperar o ânimo, Kamala fará um comício nesta sexta-feira (25), 11 dias antes da votação em 5 de novembro, em Houston, no Texas, ao lado de Beyoncé. A cantora é a responsável por “Freedom”, a música-tema da campanha democrata. Com o hit, democratas almejavam trazer um ar de juventude e uma mensagem positiva, em contraste com a campanha sob Biden.

Passados três meses, o partido se vê novamente sob pressão, diante da recuperação de Trump nas pesquisas. O levantamento mais recente do New York Times/Siena College, divulgado na manhã desta sexta, mostra que a liderança de Kamala evaporou. Os dois estão numericamente empatados, com 48% das intenções de voto cada.

O Texas não está na lista dos estados em disputa -a vitória de Trump é dada como certa. Integrantes da campanha justificam a escolha à imprensa americana como uma forma de tentar recuperar os holofotes na reta final, usando o local como um palco para um público mais amplo disperso em Arizona, Nevada, Geórgia, Carolina do Norte, Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, os sete estados-pêndulo.

Para isso, o tema escolhido é o direito ao aborto. Além de Beyoncé, devem participar do evento mulheres do Texas que sofreram as consequências da proibição quase total ao procedimento implementada no estado.

A bandeira dos direitos reprodutivos é a principal arma de democratas contra Trump, uma vez que a revogação do direito ao aborto em âmbito federal após decisão da Suprema Corte só foi possível porque o republicano conseguiu formar uma maioria conservadora na instância máxima da Justiça americana.

A decisão permitiu ao Texas implementar uma das legislações mais restritivas do país. O aborto é proibido desde a concepção, sem exceção mesmo em casos de estupro e incesto. A única permissão para o procedimento é no caso de risco de morte da mãe.

No entanto, temendo a punição de multa e prisão, profissionais de saúde no estado têm se negado a interromper a gravidez mesmo nessa situação, preferindo aguardar uma autorização da Justiça como forma de se proteger -o que implica em uma demora perigosa em emergências.

Um anúncio de campanha democrata, por exemplo, conta a história de uma mulher que sofreu um aborto espontâneo com 16 semanas de gestação, mas médicos se negaram a oferecer atendimento para a retirada completa do feto. Com isso, ela desenvolveu uma infecção generalizada, o que a obrigou a passar por uma cirurgia de seis horas, com um corte do tórax à pelve, e ficar internada por três semanas.

Pesquisas de opinião mostram que o direito ao aborto é apoiado pela maioria dos americanos, especialmente mulheres e jovens. O foco no procedimento -e nas consequências de sua proibição mesmo para mulheres que querem ter filhos- é uma estratégia democrata para tentar conquistar votos especialmente entre conservadoras e entre republicanos moderados de modo mais amplo.

O fato de plebiscitos sobre o aborto acontecerem em paralelo à eleição em alguns estados também anima o partido, que vê com isso um caminho para motivar eleitores a votar -como aconteceu em 2022.

Trump, por sua vez, nega que vá implementar uma proibição federal ao aborto se eleito, como acusam democratas, e diz que deixará a situação como hoje, em que cada estado tem autonomia para definir sua própria legislação.

O republicano também estará no Texas nesta sexta, mas para gravar uma entrevista ao podcast de Joe Rogan, o mais popular da categoria nos EUA. O público é principalmente masculino -na contramão de Kamala, republicanos miram esse eleitorado, que tem taxas de participação eleitoral mais baixas que o feminino, para fazer a diferença em uma disputa acirrada.

Pesquisas apontam que a polarização de gênero nesta eleição, ou seja, a diferença entre a escolha de candidato de homens e mulheres, deve ser a maior da história dos EUA.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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