BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Autoridades da Espanha anunciaram nesta sexta-feira (1°) que chegou a 205 o número de mortos após inundações provocadas pela maior tempestade do século no país. São 202 vítimas apenas na comunidade de Valência.
A tragédia já é um dos maiores desastres naturais da Espanha e a enchente mais fatal da Europa desde 1970, quando 209 pessoas morreram na Romênia. Supera também o número de mortos registrados no sul do Brasil, entre abril e maio deste ano. As inundações em Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul mataram 183, segundo dados da Defesa Civil.
Apenas em Chiva, localidade na região valenciana, choveu em oito horas mais do que esperado para o ano, 491 mm. Para efeito de comparação, a marca supera o registrado em cidades como Caxias (473 mm) e Santa Maria (470,7 mm) em três dias, no ápice da chuva que devastou Porto Alegre, de acordo com análise da MetSul Meteorologia.
Em todo o mês de maio, a capital gaúcha recebeu 539,9 mm, um recorde histórico, dado que ajuda a dimensionar a violência do evento na Espanha. A Dana (depressão isolada em níveis altos, na sigla em espanhol), uma tempestade forte, com granizo, trovoadas e ventanias, é um evento característicos do outono na região, mas desta vez a intensidade surpreendeu.
O serviço meteorológico espanhol chegou a fazer alertas sobre o temporal, mas o aviso das autoridades chegou tarde à população, por volta das 20h de terça-feira (29). “Estava com água e lama pelo pescoço, e o celular apitou. Parecia piada”, declarou um desabrigado a uma emissora local.
O governo espanhol mobilizou mais 500 militares nas tarefas de resgate na região de Valência, a comunidade mais afetada. Somam-se aos 1.200 integrantes das Forças Armadas já enviados na quarta-feira (30), quando o país acordou abalado pela tragédia que só crescia desde a noite anterior. A ministra da Defesa, Margarita Robles, afirmou que mandará o efetivo que for necessário.
Há relatos de saques e prisões. Ao jornal El País, um saqueador afirmou que era um ato de sobrevivência. Cortes de energia afetam diversas localidades, e bombeiros procuram gasolina em tanques de carros abandonados para abastecer geradores.
Milhares de pessoas aproveitaram o feriado de Todos os Santos para levar mantimentos aos afetados. Enormes filas de pessoas a pé carregando alimentos, vassouras e todo tipo de equipamento eram vistas por estradas e avenidas. Carlos Mazón, presidente da comunidade de Valência, que agrega a terceira maior cidade da Espanha e diversos outros municípios, fez um apelo para que os voluntários voltassem ou mantivessem as vias abertas para os veículos de socorro.
Ainda chove em partes do leste e do sul da Espanha, e algumas regiões do país seguem sob alerta de chuva forte, notadamente as Ilhas Baleares (Maiorca, Minorca, Ibiza e Formenteira), conhecido ponto turístico.
Em missa nesta sexta-feira (1°), em Roma, o papa Francisco fez referência à “catástrofe ambiental”. “Rezamos pelas pessoas da península Ibérica, varridas por uma tempestade.”
A crise climática, provocada pelo aquecimento global e a queima de combustíveis fósseis, é apontada como agente causador da maior violência, frequência e impacto desses eventos. Estudos de atribuição já estão em curso para confirmar as análises preliminares de especialistas.
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE / Folhapress