Pantanal enfrenta redução de áreas alagadas e expansão do período de seca em 2024

CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) – O pantanal tem registrado nos últimos anos períodos de cheia cada vez menores e de secas mais prolongadas. O cenário favorece incêndios intensos, extensos e de difícil controle na maior planície alagável do mundo.

O bioma, que abrange os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, comportou área alagada de apenas 3,3 milhões de hectares em 2024. Tornou-se também 38% mais seco do que em 2018, quando a última grande inundação no bioma cobriu 5,4 milhões de hectares.

O resultado de 2018 já representava queda de 22% em comparação com a cheia de 1988, que atingiu 6,8 milhões de hectares. Os dados fazem parte do levantamento mais recente do MapBiomas, divulgado nesta terça-feira (12), o Dia do Pantanal.

Segundo o coordenador de mapeamento do pantanal no MapBiomas, Eduardo Rosa, o período de cheia, que originalmente compreende de fevereiro a abril, está encolhendo. O de seca, de julho a outubro, está se alongando.

O pulso de inundação depende diretamente do fluxo de água do planalto, que corre em direção à planície até chegar ao rio Paraguai. Em teoria, alcança nível de quatro metros para o transbordamento.

O pesquisador explica que houve pico de chuva em abril de 2023. A cota de transbordamento de quatro metros do rio foi atingida apenas em julho e agosto. Nos meses seguintes, o pantanal enfrentou seca extrema.

Em 2024, o cenário piorou. O pico de cheia não chegou a ser registrado foi registrado, e o rio Paraguai ficou abaixo do mínimo da cota de transbordamento. Depois do período de seca e de fogo intenso, voltou a chover no bioma, mas sem grandes expectativas. “A chuva que vier do planalto só vai passar ‘lavando’ o bioma”, afirmou Rosa.

Para o próximo ano, o pesquisador diz que ainda é muito cedo para prever as condições das chuvas no bioma. “Será preciso torcer para que a chuva venha e caia no lugar certo”, avaliou.

INCÊNDIOS

Essa mudança no padrão de cheias e secas tem efeito sobre a incidência de queimadas no bioma. De 1985 a 1990, a extensão afetada pelo fogo era composta por áreas naturais em processo de conversão ou consolidação de pastagens.

A partir de 2018, após a última cheia, os pesquisadores identificaram a ocorrência de incêndios no entorno do Rio Paraguai, sobretudo em locais antes permanentemente alagados. “Antes, o fogo era pontual, encontrava o rio e parava. Hoje, os incêndios avançam sobre área seca, com temperaturas altas, ventos fortes e tornam-se incontroláveis”, disse Rosa.

A área total queimada no pantanal de 2019 a 2023 foi de 5,8 milhões de hectares, e as regiões mais atingidas foram justamente as que eram permanentemente alagadas no entorno do rio Paraguai. As queimadas mais recentes, a partir de 2018 foram registradas em áreas naturais, tanto na planície quanto no planalto pantaneiro, principalmente em Corumbá (MS).

“O Pantanal já experimentou períodos secos prolongados, como nas décadas de 1960 a 1970. Atualmente, outra realidade, a do uso agropecuário intensivo e da substituição de vegetação natural por áreas de pastagem e agricultura, principalmente no planalto da Bacia do Alto Paraguai, altera a dinâmica da água”, explica Rosa.

Em 1985, as atividades humanas na bacia estavam presentes em 22% da área total do bioma. Em 2023, esse índice representava 42%. O principal uso da terra é para pastagens, que cobrem 77% da área total do bioma ou mais de 11,4 milhões de hectares.

Neste ano, o bioma voltou a ser devastado por incêndios e, até agosto, 1,22 milhão de hectares foram atingidos pelo fogo. De acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram registrados 14.359 focos de incêndio no pantanal em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul — mais de quatro vezes o total verificado em igual período de 2023, de 3.483 focos.

Há duas semanas, a chuva voltou ao Pantanal. “Foi um alívio”, diz o presidente do Instituto Homem Pantaneiro, Angelo Rabelo. A mudança do tempo ajudou a apagar o incêndio na Serra do Amolar, que vinha sendo combatido pelos brigadistas e pela equipe do Ibama. Porém, a situação ainda é de alerta na região, já que o fogo no Parque Nacional do Mato Grosso continua.

Segundo informações do Ibama/Prevfogo, chuvas têm sido registradas em pontos isolados e elevaram o nível do Rio Paraguai. Precipitações com maior volume, porém, são esperadas para depois de 16 de novembro.

SILVIA FRIAS / Folhapress

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