Com rimas que cortam como espada e versos que abraçam como prece, o grupo Poetas Modernos anuncia seu retorno ao rap nacional com o single “AZIDEIAÉPOKA”. A faixa, lançada pela Trindade Records, marca o início do novo álbum “Multiplicação” e reúne participações de nomes consagrados do cenário, como Eazy Down, ex-Sistema Negro, e o produtor Rogério Sarralheiro, do Templo Soul.
Formado por RJAY e Doctor X, o grupo — referência no rap gospel desde os anos 2000 — volta à cena com ainda mais peso lírico, densidade teológica e senso de urgência espiritual. A nova faixa, já disponível nas plataformas digitais, antecipa um projeto dividido em duas partes, com 14 músicas no total.
“AZIDEIAÉPOKA” é mais que retorno. É manifesto. Entre beats pesados e versos cortantes, a faixa denuncia a religiosidade vazia, os atalhos espirituais e a vaidade institucionalizada. A crítica se revela em trechos como: “Cego guiando cego, dentro da igreja ego, crente prego na areia, diabo desce o martelo…”
O novo trabalho resgata a vocação profética do rap com identidade cristã e estabelece conexões entre gerações, trazendo também colaborações de Jhessé, DJ Nenê e Alan DF.
A seguir, confira a entrevista exclusiva com Poetas Modernos:
🎤 ENTREVISTA COMPLETA | POETAS MODERNOS
1. Poetas Modernos retorna após 11 anos com um som forte e direto. O que motivou esse recomeço em 2025 e como surgiu o single “AZIDEIAÉPOKA”?
Doctor X:
Depois de 11 anos no silêncio, Deus soprou no vento e disse: “É tempo de voltar”. Poetas Modernos nunca morreu, só estava sendo forjado no secreto. O recomeço veio com propósito firme: resgatar almas e mostrar que o Evangelho também rima.
“AZIDEIAÉPOKA” nasceu de oração e vivência. Olhamos pra essa geração — cheia de vozes, mas vazia de direção — e sentimos o chamado. É trombeta. É visão profética em beat pesado. Não é só som, é missão. Não é só volta, é renovo.
2. A faixa de estreia já traz críticas contundentes à superficialidade e à religiosidade institucionalizada. O quanto vocês sentem que o rap gospel precisa retomar sua veia profética?
RJAY:
O rap cristão foi chamado pra ser instrumento, não entretenimento. Hoje tem muito flow bonito, mas pouca unção. Por isso, voltamos com a linha de frente: pra cortar a superfície e rasgar o véu da religiosidade.
Rap cristão nasceu no clamor da quebrada, com a Palavra viva nos versos. Não é pra agradar palco, é pra incomodar trono de falsidade. Deus chamou a gente pra edificar, não pra entreter. É tempo de levantar profetas com microfone numa mão e Bíblia na outra.
3. O novo álbum se chama “Multiplicação” e será lançado em duas partes. Qual é a mensagem central que costura as 14 faixas do projeto?
Doctor X:
“Multiplicação” fala de propósito. É sobre a semente que morre pra frutificar. Cada faixa carrega fé, visão, coragem, quebrada transformada.
Dividimos o álbum em duas partes porque é processo. Primeiro vem a entrega, depois o milagre. Algumas faixas confrontam, outras consolam. Mas todas apontam pro Reino.
Multiplicar não é só pregar. É viver o que se fala. É discipular na prática, ser luz onde reina a escuridão. Esse álbum é chamado, não só lançamento.
4. A participação de nomes como Eazy Down, Rogério Sarralheiro e DJ Nenê mostra uma união entre gerações. Como foi essa conexão e qual a importância dessas colaborações?
RJAY:
Essas conexões foram resposta de oração. Ter Eazy Down, Rogério, DJ Nenê… não é feat, é história. Esses caras abriram caminho.
A conexão rolou porque tem verdade. Espírito reconhece Espírito. A gente chegou com respeito, visão alinhada, e os manos abraçaram.
Essas colaborações mostram que o Reino é coletivo. Não é competição, é construção. Se Cristo é o centro, o som tem poder.
5. Com mais de 30 anos de caminhada, como vocês avaliam as transformações no cenário do rap nacional — especialmente no contexto do rap com mensagem cristã?
Doctor X:
Três décadas dão visão. A gente viu o rap nascer da dor e hoje alcançar lugares sonhados. Mas também vimos essência virar performance.
No rap cristão, o começo era microfone emprestado e Palavra no peito. Hoje tem recurso, mas em muitos lugares a chama se apagou.
A gente crê que Deus está levantando uma nova geração que quer voltar pro fundamento: cruz, Palavra e testemunho. Rap cristão tem que carregar unção, não só refrão bonito.
6. O trecho “cego guiando cego, dentro da igreja ego…” resume bem a densidade do novo som. Qual a linha entre denúncia e amor na missão artística de vocês hoje?
RJAY:
Essa linha é estreita, mas essencial. Quem só denuncia sem amor vira juiz. Quem só ama sem denunciar vira cúmplice.
A gente caminha com temor. Jesus amou dizendo a verdade, e disse a verdade amando. Esse verso é alerta, não ataque.
Denunciamos o sistema, mas apontamos pra cruz. O rap é nossa espada, mas é o Espírito que guia o corte. Se não for pra curar depois, nem soltamos a track.
Com “AZIDEIAÉPOKA” e o projeto “Multiplicação”, Poetas Modernos reafirma o rap cristão como trincheira lírica, canal de cura e espaço de denúncia com amor. O grupo volta com mais do que beats e barras — retorna com um chamado: reacender a fé sem perder a rima, e rimar sem perder o temor.



