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Movimento pede proteção às crianças trans durante a Parada LGBT+ em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Crianças sentam no meio da avenida Paulista para uma atividade. É hora da oficina de cartazes. Desenham corações preenchidos com glitter prateado, capricham na caligrafia. As mensagens que deixam na Parada do Orgulho LGBT+, em São Paulo: “Protejam nossas crianças trans”, “Pessoas trans não nascem com 18 anos”.

A ONG Crianças Trans Existem chegou neste domingo (22) com um estandarte nas cores azul, rosa e branca, que identificam a causa transexual, assim como o arco-íris representa o conjunto sob o guarda-chuva da diversidade sexual e de gênero.

Em 2023, uma imagem do grupo viralizou nas redes sociais e enfureceu conservadores.

“Qual a tara dessas pessoas com crianças? Não acho certo. E vocês?”, publicou Amanda Vettorazzo, coordenadora do MBL (Movimento Brasil Livre) e uma das primeiras a trazer as fotos para a arena pública. No ano seguinte, ela se elegeu vereadora pelo União Brasil.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também partiu para o ataque. “A esquerda tenta empurrar sua agenda justamente na infância, para que o estrago introduzido seja de difícil reversão”, postou. “Por que eles querem tanto a audiência de crianças?”, disse o colega Nikolas Ferreira (PL-MG).

Thamirys Nunes, a fundadora da ONG, reconhece que o episódio todo foi tenebroso. Mas 2025 está sendo ainda pior, ela afirma.

“A gente está aqui [na Parada] desde 2022, e 2023 a gente teve um grande ataque nas redes. Mas este ano é o que nós estamos mais preocupados, porque, além de atacarem na internet, tentam fazer notificações extrajudiciais, pedindo que o bloco não saia.”

Saiu. Crianças e adolescentes trans não deixaram de ocupar a Paulista pela manhã, e é importante que persistam, afirma Nunes.

Parada LGBT: veja mudanças no trânsito e no transporte “A gente tem o interesse político de uma pauta muito conservadora que ataca esses direitos, que ataca essa manifestação, esse direito de estar aqui e lutar pela visibilidade das nossas famílias.”

Thamirys Nunes subiu por volta das 12h no trio que lidera a Parada. Para a multidão lá embaixo, voltou-se contra “essa direita que quer falar que os nossos filhos, filhas e filhos não existem”.

Iniciativas institucionais também atingiram a causa, como resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) proibindo o bloqueio hormonal para mudança de gênero em crianças e adolescentes.

Outros países têm restringido o acesso nessa faixa etária a hormônios e bloqueadores de puberdade, como a Inglaterra.

No início do mês, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) escreveu no Instagram: “Não existem crianças trans. Existem pais irresponsáveis”.

A ONU recomendou recentemente que o Brasil reconheça legalmente a existência de crianças trans e adote medidas para garantir o respeito à sua identidade de gênero. A organização havia sido provocada por Thamirys Nunes a se posicionar sobre o tema.

Ela é mãe de uma menina trans. Há dois anos, contou à Folha sua jornada levantando essa bandeira. Já foi denunciada ao Conselho Tutelar, viu um buffet infantil negar festa de aniversário para sua filha e cinco escolas a recusarem.

Sua filha tinha 3 anos quando a família percebeu sua disforia de gênero –desconexão entre o sexo com que alguém nasce e como se identifica. “Ela falava: ‘Mamãe, posso morrer hoje para nascer menina amanhã? Eu teria sido mais feliz se Deus tivesse me feito menina’.”

Nunes conta que vinha de uma “família extremamente conservadora” e se inclui nesse pacote. “Eu mesma era bem conservadora, para ser sincera. Mas, em prol da felicidade da minha filha, resolvi falar: tá bom, como [ela] pode ser feliz?”

Nunes sentiu resistência a essa causa mesmo entre progressistas, vista como altamente inflamável nos círculos conservadores. Poderia, assim, chamuscar toda a luta por direitos LGBT+. Melhor seria se estrategicamente ficasse de lado por ora, na visão de um pessoal do campo.

A ONG Crianças Trans Existem não abandonou as ruas. Para sua fundadora, é importante marcar posição e combater essa ideia amplamente disseminada de que os mais jovens não teriam autonomia emocional para se entender como trans.

Segundo Nunes, menores de idade “não são submetidos compulsoriamente a nenhum tipo de tratamento”. Tudo o que é proposto para crianças trans, diz, “é 100% reversível, é aquilo que é proposto aos adolescentes tem acompanhamento de uma equipe especializada, e o processo de escuta do próprio jovem é feito com muito cuidado, com muito carinho, tudo visando a diminuição na disforia de gênero e o aumento em autoestima”.

O que precisa se ter em perspectiva, diz Nunes, é “dar qualidade de vida e dignidade às crianças e adolescentes trans”, que lutam pelo direito de existir.

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress

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