Um relatório originado a partir de mensagens trocadas via WhatsApp entre o médico Luiz Garnica e a amante, identificada apenas como Letícia, provam a relação extraconjugal do indiciado, ex de Larissa, e mostram as reações diante das mortes da professora e da própria irmã do sujeito, indiciado por feminicídio.
O documento relacionado à Polícia Civil foi elaborado a partir da investigação do celular da própria amante de Luiz Garnica, e é composto por 200 páginas.
Os diálogos que abrem o documento comprovam a relação extraconjugal. A amante Letícia aparece questionando os sentimentos do médico, indicando que o indiciado demonstrava mais sentimento pela professora morta.

As mensagens citam o nome de “Pedro”, indivíduo que teria relacionamento com Letícia. “O tom das conversas revela uma Leticia ressentida por se sentir “enganada” e por crer que a imagem de “casamento perfeito” de Luiz e Larissa é uma farsa, a qual ela pretende expor. Luiz, por sua vez, tenta justificar sua conduta, afirmando que nunca enganou Letícia, já que ambos tinham outros parceiros”, diz o documento policial.
Em 9 de fevereiro de 2025, o documento exibe as reações do casal diante da morte de Nathália Garnica, irmã do médico indiciado e filha de Elizabete Arrabaça.

Na mesma data, Luiz diz à Letícia que: “amor eu tenho certeza que nunca vamos nos separar e cada momento cada provação que estamos tendo juntos me mostra cada dia mais quem é você e quem é a mulher que eu quero estar para sempre comigo”.
A amante, por sua vez, retorna: “eu tenho medo de não sermos só nós dois”.
“A investigação revelou posteriormente que Nathália faleceu por intoxicação exógena por “chumbinho”, replicando o modus operandi insidioso do envenenamento de Larissa. Neste dia, os diálogos mostram um Luiz relatando a morte da irmã, mas, ao mesmo tempo, ciumento e desconfiado em relação a Leticia, acusando-a de estar com “Pedro” em um momento de fragilidade. O relato detalhado de Luiz sobre a morte da irmã e a reação de sua mãe, Elizabete, que não a socorreu prontamente ao ouvir seus gritos, ganha um novo peso à luz do envolvimento de Elizabete na morte da Nathália”, continua o relatório da Polícia Civil.
No dia da morte de Larissa, em 22 de março, o comunicado do falecimento por Luiz à amante ocorreu em seguida a troca de mensagens sobre a transa do casal extraconjugal, supostamente na noite anterior. Após o anúncio do óbito, Luiz some e Letícia passa a indagar sobre o sumiço do amante.

Em determinado momento, Letícia questiona Luiz sobre a causa do óbito, enquanto o médico retorna: “desgosto”.
“O fato de Larissa ter relatado mal-estar e diarreia nos dias anteriores, após ter ingerido alimentos oferecidos por Elizabete, e Luiz a ter medicado em vez de levá-la ao hospital, somado ao histórico de pesquisas de Elizabete sobre “chumbinho” e a tentativa de adquiri-lo, reforçam a hipótese de um envenenamento progressivo e insidioso, culminando no homicídio. Luiz, como médico, tinha o dever de garante e o conhecimento para identificar a gravidade da situação, mas sua omissão deliberada em providenciar socorro médico adequado, além de impedir Larissa de buscar ajuda, configura uma inação relevante para o resultado morte”, conclui o documento policial.
Dias após a morte de Larissa, Luiz afirma à amante que está sendo tratado “como bandido” por decorrência de reportagens que relataram o óbito da professora. Letícia retorna dizendo que: “esses policiais vendem o conteúdo pra ganhar dinheiro”.
“A revelação de que a polícia “Estão investigando eu acredita” e que “Já foram até na funerária” é um ponto crítico. Luiz se sente “tratado como um bandido” e expressa o desejo de “sumir daqui quando tudo isso acabar”, evidenciando a pressão da investigação e o medo das consequências. A constatação de Leticia de que o caso está na “Televisão hoje de novo” , e sua acusação de que “esses policiais
vendem o conteúdo pra ganhar dinheiro”, demonstram a exposição pública do crime, o que pode ter intensificado a urgência de Luiz em “limpar” e “ocultar” provas. Esse comportamento de Luiz e Letícia de tentar descredibilizar a atuação policial e a mídia reforça a tentativa de obstrução da justiça e a ocultação da verdade”, conclui o documento.
Prisão preventiva, TJ e MP
O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu nesta quinta-feira (03), ao acatar a denúncia do Ministério Público, pela prisão preventiva do marido e sogra da professora Larissa Rodrigues, morta por envenenamento, em Ribeirão Preto.
A decisão, assinada pelo juiz de direito Sylvio Ribeiro de Souza Neto, possui 22 páginas e decide “a conversão da prisão temporária por prisão preventiva dos acusados, conforme representação da autoridade policial encampada pelo Ministério Público, por dois motivos”.
São eles, ainda conforme impresso na decisão:
Primeiro: os denunciados são acusados do cometimento de fato gravíssimo, hediondo.
“Não se pode ignorar que os autores de fatos dessa natureza demonstram, com suas condutas, personalidades contrárias aos preceitos morais, reveladoras de absoluto descaso com a vida alheia, em especial no caso em apreço, considerando a conduta concretamente realizada (homicídio praticado contra vítima que era esposa e nora dos acusados, mediante futilidade e crueldade)”, escreve o juiz.
Segundo: o texto considera que, caso não sejam presos imediatamente, provavelmente os acusados tomarão rumo ignorado, tendo em vista que a prisão temporária encerrará no final do dia de hoje e, em face dos graves fatos que lhes foram atribuídos, a fuga impedirá a entrega da prestação jurisdicional (artigo 366 do Código de Processo Penal).
O juiz competente considera ainda, conforme destacado no documento, que determina a “prisão cautelar dos acusados como garantia da ordem pública”.
A defesa de ambos os indiciados negam envolvimento no crime.
Relembre o caso
Garnica chamou a polícia após ter encontrado a esposa morta no apartamento do casal em Ribeirão Preto. O caso aconteceu em 22 de maio e ele relatou que trabalhava em um plantão e não teria conseguido contato com a mulher de manhã. Ao chegar em casa, a encontrou caída no banheiro e, por ser médico, teria a colocado na cama e tentado reanimá-la.
Quando a equipe do SAMU chegou, constatou que a morte teria ocorrido há cerca de dez horas. Segundo a investigação, o comportamento do médico levantou suspeitas. Havia forte cheiro de produtos de limpeza no imóvel.
A investigação apurou que, 15 dias antes da morte da nora, a mãe do médico procurou chumbinho para comprar. O veneno, altamente tóxico, foi banido do mercado brasileiro em 2012, mas continua sendo vendido de forma clandestina. Ela também teria ligado para uma amiga fazendeira perguntando sobre o veneno e onde poderia comprar a substância.
O exame toxicológico feito em Larissa apontou envenenamento como a provável causa da morte da vítima. Segundo o delegado Fernando Bravo, a mulher pode ter sido envenenada ao longo de uma semana. Dias antes de morrer, ela havia relatado dores de barriga e diarreia.
Mãe também é investigada pela morte da própria filha, irmã do médico. Nathália Garnica sofreu um infarto um mês antes da morte de Larissa. Diante das circunstâncias, o corpo dela, que tinha 42 anos, foi exumado e a ingestão de chumbinho foi comprovada por exames periciais.
**Com informações de Folha Press



