Você já recusou ou aceitou um chimarrão sem saber exatamente de onde veio esse hábito? Para muitos, ele é apenas uma bebida quente servida em uma cuia. Mas o chimarrão é, na verdade, um rito social, uma herança indígena e um dos maiores símbolos culturais do Sul do Brasil.
De encontros ao redor da cuia a rituais de resistência cultural, o chimarrão carrega muito mais que erva-mate e água quente; vem descobrir com a gente.
A origem indígena e a jornada do chimarrão até os dias de hoje
O chimarrão tem origem nas práticas dos povos indígenas guarani e caingangue, que utilizavam a Ilex paraguariensis (erva-mate) tanto como bebida quanto como planta sagrada. De acordo com estudos, os guaranis já consumiam infusões da erva muito antes da chegada dos colonizadores europeus.
Com a colonização, os jesuítas passaram a incentivar o consumo da erva entre os indígenas nas reduções do século 17, o que ajudou a consolidar a prática. No século 19, com a formação da identidade regional no Sul, o chimarrão passou a simbolizar o gaúcho e foi adotado em rituais, festivais e no cotidiano das famílias.
Hoje, ultrapassa fronteiras regionais e é também consumido em países vizinhos, como Uruguai, Argentina e Paraguai, cada qual com suas particularidades.

Curiosidades sobre o chimarrão que você (provavelmente) não sabia
- A cuia e a bomba têm um papel ritualístico: a roda do chimarrão promove o sentimento de coletividade. A passagem da cuia representa respeito e igualdade entre os presentes.
- O chimarrão já foi proibido: em determinados períodos coloniais e nas missões jesuíticas, houve tentativas de proibir o uso da erva-mate, por considerarem que ela causava “excessiva euforia” ou “vício”.
- Tem benefícios para a saúde: diversos estudos, como os da Embrapa Florestas, destacam as propriedades antioxidantes, digestivas e estimulantes da erva-mate. Ela contém cafeína natural e vitaminas do complexo B.
- É patrimônio cultural: em 2021, o Rio Grande do Sul iniciou um processo para reconhecer o chimarrão como patrimônio cultural imaterial estadual, o que reforça sua importância para a memória coletiva.
- Existem regras de etiqueta no mate: não mexer na bomba, não agradecer ao receber a cuia (isso indica que você vai sair da roda) e aceitar a bebida mesmo que esteja muito quente são tradições respeitadas entre os mateadores.
Mais que uma bebida: um elo cultural

O chimarrão é herança viva. Está nas rodas de conversa, nas praças, nos acampamentos farroupilhas e nas manhãs de domingo. É símbolo de acolhimento, de resistência indígena e de construção cultural. Em tempos de pressa e individualismo, sentar para partilhar uma cuia ainda é um gesto de pausa, de conexão e de cuidado.



