Fertilização assistida: dificuldade para importar óvulos adia sonho da maternidade

Mulher gravida - Foto: Freepik
Mulher gravida - Foto: Freepik

Com o adiamento da maternidade entre homens e mulheres, é cada vez mais comum a busca pela doação de óvulos e sêmens entre os brasileiros que tentam a fertilização assistida. Mas, desde o começo do ano passado, a importação desse material genético está mais difícil. 

A reportagem conversou com Mariana, como vamos chamar essa psicóloga carioca que preferiu não ser identificada, e ela conta sobre a luta para realizar uma de suas maiores ambições, se tornar mãe.

Mariana tenta engravidar há mais de um ano. Ela tem 44 anos e sofreu o último aborto no ano passado. Logo depois, terminou um relacionamento de 15 anos, porque o parceiro não quis tentar outra gravidez. A partir deste momento decidiu ser mãe solo e optou pela fertilização in vitro. 

Para realizar o procedimento, precisou importar o sêmen dos Estados Unidos e foi em busca de óvulos, já que estava com 43 anos e achava difícil conseguir com seu próprio material genético: “Já fui com a cabeça na médica para fazer a ovodoação, que foi em novembro de 2022. Ela tinha me falado do banco internacional da Argentina e aí ela falou que lá tinha mais chances porque era mais o meu perfil e nada de aparecer doadora porque eu sou branca, tenho olhos verdes, então eu queria alguém mais ou menos parecido comigo, né? Aí eu desisti da Argentina e ela falou “olha tem o Banco Nacional o Eggbank”, eu entrei em contato com eles e em menos de 5 dias já tinham me ligado dizendo que tinha uma doadora compatível com as minhas características.”, conta a psicóloga.

Mariana se encheu de esperança, estava mais próxima da maternidade, mas durou pouco. Um dos obstáculos foi com o banco do Egg Bank: “Eu paguei, meio que você paga para garantir, digamos aquela doadora para segurar aquela paguei 7.000? E iria começar o estímulo em janeiro, então paguei em dezembro e janeiro de 2023, aí o ciclo não deu aí começou para fevereiro… aí eu entrei em contato com eles ai em fevereiro não deu aí foi sabe? Ah mês que vem mês que vem daqui 15 dias, enfim. O dono do Egg Bank me ligou para dizer que tinha tido problema no laboratório e que os óvulos tavam sendo descartados. Aí eu disse que queria meu dinheiro de volta.”.

Até hoje, não conseguiu nem o óvulo e nem o dinheiro de volta. Resolveu tentar novamente a importação pela Argentina. Mariana diz que desta vez o problema não foi com a demora para conseguir os óvulos, mas com a questão a financeira: “É muito caro importar, né? E a minha médica falou “olha tem uma doadora. Eu preciso da sua posição até uma semana. Ali eu entrei em desespero, porque eu precisei pegar um empréstimo para pagar os R$ 7.000 do óvulos lá do EggkBank para pagar o sêmen e não tinha mais. E eu desesperada porque a transação internacional você não pode nem pagar no cartão de crédito então eu tive que me virar para conseguir 18.000,00 para garantir meus óvulos.”. 

Mariana recorreu a outro empréstimo bancário. Agora, os óvulos da psicóloga estão congelados no Brasil e ela está se organizando financeiramente para seguir com o procedimento. 

Este tem sido um problema para muitas mulheres que tentam engravidar. Em muitos casos, é uma verdadeira saga para conseguir o material genético, tanto por doações nacionais quanto importadas. Uma das razões é a nova regulamentação imposta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária no começo de 2023.

Renata Miranda Parca, especialista Assistente da Gerência de sangue, Tecidos, Células e Órgãos da Anvisa diz que com o aumento da demanda pela importação dos óvulos e sêmens, houve a necessidade de mudar as normas do processo por questões de segurança: “A gente começou a ver uma ampliação de bancos que estavam mandando material pra cá e a gente começou a identificar inclusive problemas, tivemos problemas como o laudo de exames que foram trocados. Começaram a aparecer problemas com relação a critérios que são fundamentais para garantir a segurança da amostra para que seja feita a reprodução humana assistida.  Com base nesse cenário, a gente regulamentou de empresas que vão estar aptas a importar amostras de fora, são empresas que tem que ter uma habilitação da Anvisa”. 

Ela também diz que, agora,as empresas que importam óvulos e sêmen ainda estão se adequando às novas exigências. 

Dados da Anvisa mostram que até setembro de 2023, foram importados quase 2 mil óvulos e 262 sêmens. O número é 154% maior do que em todo ano de 2016, mas menor do que o ano anterior à pandemia. Em 2019, houve a importação de mais de 3 mil óvulos (3087) e 780 sêmens, o que mostra a dificuldade em conseguir esse tipo de material genético atualmente. 

Para o Dr. Márcio Coslovsky, Diretor da clínica Primordia / Fertigroup, desde a pandemia, aumentou o grau de dificuldade para conseguir o material: “As novas centrais dos países estão mais difíceis. Até onde eu saiba, nesse exato momento, não estão vindo muitas importações.”., conta o especialista. 

Segundo ele, tanto as doações nacionais como internacionais estão difíceis de conseguir: “Muitas dificuldades estão hoje no momento, não tem nenhum banco grande funcionando efetivamente, o que tem é que as clínicas de reposição. Todas têm alguém que doou que tem lá alguém está compartilhando ou alguém que está congelando e a gente consegue andar com a nossa lista. Os bancos de sêmen no Brasil andam bem, a maior dificuldade segue sendo os óvulos, pq o óvulo a pessoa tem que tomar remédio, tomar anestesia e retirar os óvulos, é mais caro e mais complexo”.

De acordo com especialista, muitas mulheres optam pela importação pois há informações mais detalhadas sobre os gametas. Além disso, existem mais opções de materiais em razão de incentivos financeiros para a doação dos óvulos e sêmens, o que é proibido no Brasil. De acordo com a Anvisa, o país tem atualmente 118 bancos disponíveis

Em geral, a maior parte das importações vem dos Estados Unidos, Espanha, Ucrânia, Dinamarca e Argentina.

Veja a reportagem completa da Ana Luiza Bessa:

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