Normose pode ser definida como o conjunto de opiniões, comportamentos e crenças considerados normais, mas que gera consequências patológicas ou doentias. Normose faz lembrar O Alienista, de Machado de Assis.
Seja no mundo da fantasia ou no real, nem tudo que parece ser, realmente é como se parece. Existe até aquele ditado sobre pessoas: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento” . Pois bem.
Percebe-se na sociedade uma tendência crescente da “humanização da maldade” . A distorção de valores é feita disfarçada; quem não prestar atenção, acreditará que tudo está normal. Parte da classe política costuma cobrir-se desse manto …
O mal existe desde o surgimento do ser humano e às vezes, oculto, atinge grandes proporções pela falta de consciência. Exemplifico: a ideologia nazista não foi necessariamente imposta por Hitler ao povo alemão; ele, psicopata que era, convenceu-os aos poucos, diante da crise na Alemanha à época, para, depois, mostrar ao mundo a sua tirania e barbárie.
O problema maior, porém, não está num louco que lidera, mas em quem o segue, sob o “efeito manada” ou da normose. Se fizermos uma enquete sobre o caso do jogador de futebol Daniel Alves, recentemente condenado por abuso sexual contra uma modelo, muitos o defenderão, alegando que a vítima deu causa ao abuso.
Infelizmente, a cultura machista existe desde que o mundo é mundo, tal como o mal. Vou mais longe: existem pessoas patológicas que defendem que pedofilia é um comportamento humano “cultural” … Cuidado com quem afirma algo nesse sentido: é a justificativa do injustificável!
A corrupção é outro mal social e patológico. Na esfera pública, maus gestores desviam dinheiro do erário, para si e/ou terceiros, como se o público fosse privado. O ato de prevenção contra a corrupção é o de votar bem e consciente nas eleições.
Verifica-se, também, nos meios forenses, a tendência de o criminoso ao se defender, justificar a prática do seu crime pelo meio ou circunstâncias em que viveu, ou mesmo pela falta de oportunidades … O filme Coringa – cujo personagem principal é patológico -, demonstra bem isso, quando procura fazer do bandido o “mocinho” , para justificar o delito.
Evidente que quem comete crime deve ser responsabilizado nos termos da lei, porque possui livre arbítrio ao praticá-lo. Outro exemplo histórico do mal enrustido, foi a chamada “Santa Inquisição”, que, aliás, nunca foi santa. Promovida “em nome da fé” e amparada em dogmas por setores da Igreja Católica Romana à época, a Inquisição foi o cenário realístico do horror e da maldade.
Evidente que, maldade travestida de santa ou de ato de fé, é maldade do mesmo jeito, quiçá pior, pouco importando a sua origem ou o nome que se dê. Enfim, todas as situações relatadas, sejam as reais ou as fantasiosas (como o filme Coringa), ideológicas, consuetudinárias ou dogmáticas, contribuíram e ainda contribuem negativamente para humanizar a maldade, tornando-a natural e aceitável pelo ser humano.
Corremos o risco, assim, pela falta de consciência, de a normose tornar-se o padrão mental humano da era contemporânea.