Injustiça contra o Vasco, sua torcida e moradores da Barreira do Vasco chega ao fim

Felipe Moreira
Felipe Moreira
Felipe Moreira é um apaixonado por esportes, sobretudo futebol. É formado em Direito e cursa jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi.
Créditos: Divulgação

O Vasco estava impedido pela justiça do Rio de Janeiro de receber público em seus jogos em casa, desde o dia 23 de junho, quando houve uma briga entre seus torcedores e a polícia, depois da derrota do cruz-maltino por 1 a 0 para o Goiás.

Logo após, o juiz que estava de plantão no Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos durante a partida, proferiu uma decisão que, dentre outros motivos, atribuiu à condições de violência urbana, supostamente originadas pela comunidade situada ao redor do estádio, a razão pela insegurança nas partidas em São Januário.

Confira o trecho da decisão: “Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio […]”

O documento completo, que aborda outras questões, serviu como base para que o Ministério Público do Rio de Janeiro ajuizasse Ação Civil Pública para manter a determinação. O Vasco ainda tentou adotar as medidas judiciais cabíveis para reverter a medida, mas sem sucesso.

Desde então, o clube carioca cumpriu longa punição esportiva. A pena aplicada, no entanto, é questionável, por vários fatores.

Segundo o levantamento do aplicativo Fogo Cruzado, que mapeia ocorrências de tiroteio na região metropolitana do Rio de Janeiro, foram contabilizadas 22 ocorrências nos arredores de São Januário em 2023, exatamente o mesmo número do Maracanã. O Nilton Santos teve 16 ocorrências em seus arredores no mesmo período.

Seguindo a linha de raciocínio da decisão que interditou São Januário, o Maracanã e o Nilton Santos também deveriam ser interditados. Por que só o Vasco foi punido?

Ainda segundo o citado aplicativo, com relação à comunidade da Barreira do Vasco, os dados mostram uma quantidade mínima de ocorrências em comparação aos números da violência urbana da capital carioca. Desde que o estádio reabriu após a pandemia

de COVID-19, em setembro de 2021, somente 14 dos 4.057 relatos de tiroteio na cidade ocorreram na comunidade vizinha a São Januário. Ou seja, 0,35% dos relatos.

Os dados mostram que a decisão que retirou do Vasco o direito de receber seus torcedores em sua própria casa partiu de uma visão elitista e preconceituosa com relação aos moradores da comunidade, que acabaram sendo os maiores prejudicados pela medida, mesmo não tendo nada a ver com a confusão.

A Associação de Moradores da Barreira do Vasco (AMBV) emitiu uma nota de repúdio. “Somos punidos sem sermos ouvidos a partir de uma visão distorcida da realidade que trata da mesma forma todas as comunidades do Rio de Janeiro. Além disso, a AMBV entende que a interdição injustificada do estádio de São Januário causa prejuízos imediatos a todo o nosso comércio local, como bares, restaurantes, vendedores ambulantes localizados na nossa comunidade, pois todos tiram grande parte de seu sustento em dia de jogos em virtude do fluxo de mais de 20 mil torcedores por partida” — diz trecho da nota.

O Presidente do Vasco, Carlos Roberto Osório, afirmou em entrevista que, além de impactar na vida e na economia dos moradores da comunidade, a decisão da justiça coloca o clube em desigualdade de condições para disputar o Campeonato Brasileiro, causando prejuízos esportivos e financeiros.

Depois de quase três meses, a injustiça chega ao fim e os torcedores vão poder voltar a frequentar São Januário, em virtude de acordo firmado entre o Vasco e o Ministério Público do Rio de Janeiro, na última quarta-feira (13), o qual visa permitir a realização de jogos com público no estádio.

A luta do Vasco para reverter a polêmica decisão da justiça do Rio de Janeiro é só mais um capítulo na sua história de resistência. O cruz-maltino é conhecido por abrir as portas aos excluídos, combatendo o racismo e o preconceito de classe desde 1924. Seu estádio, São Januário, é outra prova disso. Construído em 1927, através da luta e da paixão dos vascaínos, sempre incomodou a elite carioca, que, 96 anos depois, descobriu que as ruas estreitas ao redor são um risco para a sociedade. Só esquece que proibir manifestações populares é impossível.

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