Palmeiras e Flamengo dão bons e maus exemplos fora de campo – Por Felipe Moreira

Felipe Moreira
Felipe Moreira
Felipe Moreira é um apaixonado por esportes, sobretudo futebol. É formado em Direito e cursa jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi.
Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Nas últimas temporadas, Flamengo e Palmeiras têm sido os principais times do futebol brasileiro, revezando-se na conquista dos mais importantes títulos nacionais e internacionais. Para se ter uma ideia, das últimas quatro edições da Copa Libertadores, maior torneio da América do Sul, foram dois títulos para os paulistas (2020 e 2021) e dois para os cariocas (2019 e 2022). No âmbito nacional não é diferente, já que os palmeirenses venceram o último Brasileirão (2022) e os flamenguistas ficaram com a taça nos anos de 2019 e 2020.

Boa gestão administrativa e financeira

O sucesso não é à toa. Ambos os clubes, que há cerca de dez anos atrás estavam afundados em dívidas e sem perspectiva de melhora, passaram por um longo período de austeridade, com o objetivo de equacionar os débitos e aumentar o faturamento. Cada um à sua maneira, um e outro foram bem-sucedidos em seus planejamentos.

Com a diminuição do endividamento e ampliação da receita, passaram de grandes devedores a potências econômicas. O fôlego financeiro trouxe a possibilidade de traçar planos a longo prazo, investir em grandes jogadores e contratar comissões técnicas à altura dos anseios de suas torcidas. O resultado não poderia ser outro: títulos e mais títulos.

Clima de guerra nos bastidores

Nos últimos dias, no entanto, Palmeiras e Flamengo resolveram protagonizar no futebol brasileiro de outra forma: protestando contra erros de arbitragem. O método escolhido para isso foi não conceder entrevistas coletivas após os jogos. O primeiro foi o Palmeiras, que comunicou que não falaria com a imprensa após o clássico contra o São Paulo. Na mesma linha seguiu o Flamengo, que optou por vetar as entrevistas pós-jogo, depois da classificação na Copa do Brasil diante do Athético Paranaense.

Ao adotar essa prática, os clubes violam o Regulamento Geral de Competições da CBF, que prevê a obrigatoriedade da coletiva de imprensa após o fim das partidas. O regulamento ainda estabelece três punições para os clubes que infringem suas regras, como advertência, multa pecuniária e vedação de registro ou de transferência de atletas.

Para além de sanções e multas administrativas, Flamengo e Palmeiras dão um péssimo exemplo fora de campo e criam um desnecessário clima de guerra nos bastidores.

Silêncio é inútil e não melhorará a arbitragem brasileira

Que a arbitragem brasileira é ruim não é novidade. Todos os clubes já foram beneficiados ou prejudicados por má interpretações dos nossos árbitros. O VAR, que deveria servir para corrigir erros graves, tem sido um verdadeiro fracasso no Brasil. Com paralisações muito longas, os erros dos árbitros de vídeo variam desde demasiadas intervenções em lances interpretativos, até em marcações de impedimentos com base em imagens duvidosas.

Palmeiras e Flamengo em nada ajudam o futebol brasileiro protestando dessa maneira. Pelo contrário, quando transferem a responsabilidade de suas derrotas para a arbitragem, acabam produzindo uma narrativa de que são os únicos prejudicados pelos apitadores, o que, além de vitimista, é irreal.

Nas entrelinhas desse discurso, fica nítido que o intuito é pressionar os árbitros para obter vantagem esportiva nos jogos seguintes. Por que, ao invés de só reclamar, os clubes não se unem para cobrar da CBF alguma medida efetiva para a melhora da arbitragem? Seria muito mais eficaz e beneficiaria o esporte como um todo.

O torcedor e a democracia é que ficam prejudicados

Os grandes protagonistas do futebol brasileiro dos últimos anos, quando decidem não conceder entrevistas, além de nada contribuírem para a melhora do esporte, também mostram que desconhecem qual é o papel da imprensa em uma sociedade democrática.

Falar com a imprensa não é falar com jornalistas, é se comunicar com seu torcedor, com sua comunidade. A prática do silêncio impede que o torcedor – principal interessado e maior consumidor -, acesse informação sobre seu time do coração. A imprensa conecta as pessoas às informações e sem isso não há produção de senso crítico. Permanecer calado é um direito garantido, mas os clubes brasileiros deveriam entender que ignorar sua torcida pode promover, em última instância, sua própria ruína.

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