A Gostosona Mais uma vez?

Marcos Tonin
Marcos Tonin
Executivo de RH e Coach Executivo de diretores, VP’s e CEO’s de empresas nacionais e multinacionais, atendendo clientes em 13 países. Foi executivo de RH de uma das maiores empresas de bens de consumo do país, já desenvolveu mais de 39.000 profissionais ao longo dos seus 24 anos de carreira. Formado em Relações Públicas pela PUCCAMP, pós-graduado em Consultoria de Carreira pela FIA/USP e com 5 certificações internacionais em PNL e Coaching Integrado. Marcos é referência em Carreira e Gestão em veículos como: Valor Econômico, InfoMoney, G1, Yahoo Finance, Globo/EPTV, SBT, Você S/A, TV Bandeirantes, Nova Brasil FM, Carreira & Negócios entre outras, tendo mais de 150 matérias publicadas.
A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de infraestrutura, recursos e até conhecimento por parte de pessoas que menstruam para cuidados envolvendo a própria menstruação - Foto: Always

A Gostosona Mais uma vez?

Mesmo com os avanços que tivemos na indústria do marketing e publicidade nos últimos anos, dos movimentos de apoio à equidade salarial, paridade de responsabilidades corporativas e da não estereotipação do corpo da mulher, fui impactado recentemente ao estar presente na maior feira de negócios automotivo em reposição e reparação da América Latina no Brasil e encontrar AINDA as gostosonas com decotes pra lá de extravagantes, fendas e macacões que “envelopam” a mulherada em estandes de várias empresas.

Ao falar de objetificação do corpo da mulher, estou me referindo à total banalização da imagem da mulher, frente a uma atividade profissional e quando falamos em objetificação, estamos dizendo que a aparência importa mais do que todos os outros aspectos que as definem enquanto indivíduos e das atividades que vão desempenhar.

Veja, não estou dizendo que a presença de mulheres bem arrumadas, alinhadas e asseadas no ambiente de trabalho seja dispensável, na verdade essas máximas servem para qualquer tipo de profissional independentemente do gênero, entretanto o que estou falando é sobre ainda o uso de algo “chulo” como ferramenta de relacionamento com o cliente e branding.

Mesmo sendo composto em sua grande maioria pelo público masculino, essas feiras automotivas têm ganhado maior representatividade, respeito e reputação pela qualidade dos expositores, materiais/produtos presentes e conteúdos abordados ano a ano, o que faz delas um grande sucesso. Num momento em que no Brasil a frota de veículos usados só aumenta e a necessidade de manutenção e troca de peças se faz importante, mais vale uma boa oferta e o desenvolvimento de um novo parceiro/fornecedor do que uma gostosa com os seios quase a mostra que lhe entregue um brinde.

Acredito que a reflexão seja importante tanto para as áreas de marketing como para a de governança e RH das companhias. Uma decisão desta passou por aprovações e por incrível que pareça, minimamente um ou mais diretores. Diretores estes, que em breve farão novas contratações, promoções e reconhecimentos no time interno e é aí que fico mais preocupado. Como essas contratações e reconhecimentos são feitos? O mesmo diretor que aprova um seio quase a mostra numa feira é capaz de ser imparcial numa promoção entre homem e mulher no dia a dia? É capaz de reconhecer como páreo os esforços dos gêneros?

São muitas as perguntas que não podem mais ser desconectadas e tratadas com imparcialidade. Estamos tendo discussões sobre ESG, GPTW, equidade de gênero e acima de tudo, sobre respeito. Por vezes, ainda vemos em ambientes familiares e profissionais mulheres sendo hostilizadas e menosprezadas pelo seu peso, altura, cabelo, depilação, formato de corpo e demais atributos físicos e o pior, estudos já publicados na área de psicologia dizem que mulheres que vivem em ambientes de objetificação tendem a se auto objetificar e também a objetificar outras mulheres, sofrendo, assim, de grandes danos de autoestima e de socialização, se tornando menos ativas social e economicamente.

Que tipo de empresa ainda acredita que suas ações de relacionamento com a marca são pautadas apenas em desejos sexuais e esteriotipação seja do homem ou da mulher?

Espero que os profissionais de RH, governança, compliance e marketing destas companhias consigam romper as barreiras que ainda apoiam esta cultura danosa e reforcem em seus valores e práticas atitudes mais positivas e respeitosas às mulheres e às suas ações de relacionamento com o cliente.

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