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Com hospitais lotados, professor da Unicamp expõe gargalos da saúde pública em entrevista exclusiva para o Portal THMais

Israel Moreira
Israel Moreira
Israel Moreira é jornalista com passagens pelo Correio Popular, Rádio Central e Jovem Pan News.
Superlotação registrada no mês maio em Campinas expõe estrutura precária e requer ação eficaz, afirma especialista. Foto: Arquivo RAC

A saúde pública de Campinas vive um dos momentos mais críticos dos últimos anos. Em boletins divulgados na última semana, os hospitais de referência da cidade registraram ocupações muito acima da capacidade instalada, com pacientes internados em cadeiras por falta de leitos. No Hospital das Clínicas da Unicamp, o setor de emergência, projetado para 20 pacientes, abrigava 97 pessoas na última quarta-feira (28) — um índice alarmante de quase 500% de ocupação. Situação semelhante ocorre no Hospital Celso Pierro, da PUC-Campinas, onde 70 pacientes SUS ocupam um espaço preparado para apenas 20.

A reportagem ouviu com exclusividade o professor Carmino de Souza, médico hematologista do HC da Unicamp, ex-secretário municipal de Saúde de Campinas e atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Segundo ele, a situação não pode ser encarada como um colapso isolado, mas sim como reflexo de um sistema hospitalar que opera no limite há anos.

“Há fatores sazonais, como o aumento de casos respiratórios neste período, mas também um acúmulo de demandas que foram represadas durante a pandemia. Pacientes com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, deixaram de se tratar e agora retornam com quadros agravados. Além disso, faltam leitos. Campinas não inaugura um novo hospital público há quase 20 anos”, afirma.

A direção do HC notificou a Central de Regulação (Cross), o Samu e os Bombeiros para que suspendam temporariamente o encaminhamento de pacientes. Já a PUC-Campinas informou que o fluxo segue elevado, com aumento expressivo nos atendimentos cardiológicos, respiratórios e oncológicos — alguns casos em fila de espera desde semanas anteriores.

Nos hospitais municipais, como o Mário Gatti e o Ouro Verde, a ocupação também beira os 100%. Segundo a Prefeitura, nenhuma unidade deixou de atender, já que todas operam em sistema de “porta aberta”. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que acompanha de forma contínua o cenário por meio do Siresp e solicitou à Cross que reduza os encaminhamentos de pacientes de outros municípios para Campinas.

A pasta também informou que negocia a ampliação de leitos com a Casa de Saúde e apoia a reabertura de 36 leitos de enfermaria adulto no Hospital de Clínicas, fechados desde setembro de 2023. Outra recomendação é que pacientes com queixas de baixa complexidade busquem atendimento nas unidades básicas de saúde ou nas UPAs da cidade, para evitar sobrecarga dos prontos-socorros.

Para Carmino, o esgotamento não se resolve apenas com ampliação pontual de leitos. “Precisamos de um sistema equilibrado, onde a atenção básica seja valorizada e vista como a porta principal do cuidado. Em Campinas, temos 68 unidades, mas muitos pacientes ainda procuram o pronto-socorro achando que terão solução mais rápida. Isso é um equívoco. Cerca de 90% dos casos podem ser resolvidos na atenção primária”, pontua.

Ele defende ainda uma descentralização do sistema de regulação. “A CROSS estadual é muito centralizada. São Paulo é praticamente um país. Precisamos de uma CROSS regional, que entenda o território e agilize os encaminhamentos com mais precisão”, completa.

Diante do aumento cíclico na demanda, Carmino afirma que é preciso planejamento de longo prazo, investimento em estrutura hospitalar e pactuação entre os entes públicos e privados. “Durante a pandemia, vimos que é possível cooperar. Agora é hora de unir forças novamente, de forma racional e contínua, para evitar que o atendimento em saúde pública se transforme em tragédia.”

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